O Ministério da Justiça do governo Bolsonaro determinou que o filme “Como se tornar o pior aluno da escola” seja suspenso das plataformas que têm o direito de distribuição, sob pena de R$50 mil por dia caso seja descumprida a determinação.
O filme, estrelado por Fábio Porchat e é baseado num livro do humorista Danilo Gentili, foi lançado cinco anos atrás. A acusação é a de que o filme incentiva a pedofilia por mostrar uma cena com dois homens assediando dois adolescentes.
Trata-se de um caso escandaloso de censura. Sob vários aspectos.
Primeiro, está bem claro que o filme foi desenterrado para servir de pretexto para a política de censura bolsonarista. O objetivo é criar um clima de histeria não apenas para justificar a censura, mas para agrupar os bolsonaristas em torno da cruzada moral. Com isso, cria-se um clima favorável a uma perseguição e censura generalizada. É preciso denunciar essa política ditatorial.
Em segundo lugar, e mais importante, é que essa censura, que agora está imposta pela direita bolsonarista, se aproveita do clima de caça às bruxas promovido pelo próprio identitarismo. Depois de tanta gritaria e histeria para calar os outros, eis que são os bolsonaristas quem efetivamente conseguem proibir um filme.
Seguidas vezes chamamos a atenção nesse Diário o perigo de a esquerda ingressar na campanha de caça às bruxas. Foram inúmeros casos em que a esquerda infiltrada pela ideologia identitária defendeu a censura e a perseguição por conta de coisas que pessoas falaram e mesmo contra obras artísticas, músicas, filmes e livros. Qualquer coisa que desagrade a esquerda identitária é motivo para uma cruzada moral que termina em cancelamento ou censura.
Com isso, a esquerda atua no terreno preferido da direita. Ela abriu o espaço e facilitou as coisas para que a burguesia tenha total legitimidade para fazer coisas como a que está fazendo agora contra o filme.
Um identitário vai se defender dizendo que não é a mesma coisa. Ledo engano. É exatamente a mesma coisa, apenas o que muda são os motivos aparentes da censura. A esquerda justifica sua política persecutória usando motivos que aparentemente seriam progressistas: o machismo, a LGBTfobia, o racismo etc. Qualquer coisa que a esquerda considere ofensivo é motivo para a campanha histérica.
Os casos recentes de Daniel Silveira, deputado de extrema-direita que foi preso, com o apoio da esquerda, por falar contra o STF, e de Monark, demitido e cancelado apenas por ter defendido determinada política em relação à legalização de partidos incluindo o nazista abriram a brecha para que a direita pudesse se sentir ainda mais à vontade para usar esse mesmo remédio contra o que a desagrada.
Mas é preciso notar que da mesma maneira que a esquerda considera tudo isso moralmente condenável, a direita também tem as suas justificativas morais. Afinal, a pedofilia não seria moralmente condenável? Desse modo, torna-se justificada a censura ao filme.
O problema é que quem define o que é moralmente condenável não é um esquerdista identitário de universidade. Quem decide são as instituições do Estado, essas instituições dominadas por uma direita fascista, como é o caso do Ministério da Justiça do governo Bolsonaro.
Como o imperialismo impulsiona a histeria identitária para criar esse clima de caça às bruxas, setores da esquerda criam a ilusão de que essa política estaria sendo bem sucedida. É apenas uma ilusão. Na hora “H”, quem terá realmente o poder de censurar serão as instituições burguesas.
Não importam quais os motivos morais nem quem serão os perseguidos, no fim das contas, a censura só a direita pode se beneficiar da censura.





