Nesta segunda-feira, dia 7 de março, o presidente venezuelano confirmou que se reuniu com uma delegação do governo dos Estados Unidos no último sábado em solo venezuelano. Maduro afirmou que a reunião de quase duas horas, onde estava também presente o presidente da Assembleia Nacional, teve um tom “respeitoso e cordial” e foi importante para o reestabelecimento do diálogo com todos os setores políticos em prol da recuperação econômica e pela estabilidade do país.
O interesse pelo retorno do diálogo norte-americano com Caracas ocorre devido a um desdobramento causado pela guerra da Ucrânia, pois a Rússia – uma grande exportadora de petróleo para o mundo – no momento está sob duras sanções econômicas comandadas principalmente pelos próprios Estados Unidos, que parou de comprar produtos russos e influenciou seus principais aliados a fazerem mesmo. Isso forçou os americanos a buscarem um reestabelecimento das conversas diplomáticas em busca do amadurecimento da possibilidade da derrubada dos embargos em busca de compra de petróleo venezuelano, visto que russo está bloqueado por sanções.
A ironia da questão é que em 2015 foi a vez da própria Venezuela de sofrer sufocamento econômico pelos Estados Unidos. As medidas, que vigoram até o presente momento, fazem parte das tentativas norte-americanas de interferir na política venezuelana, algo muito comum por parte dos norte-americanos em toda a região da América Latina.
A história dos bloqueios econômicos à Venezuela pela Casa Branca começou na verdade em dezembro de 2014, quando o congresso estadunidense aprovou a Lei de Defesa dos Direitos Humanos na Venezuela nº 113-278, o que iniciou os bloqueios ao país. Já em março de 2015, Barack Obama assinou a Ordem Executiva nº 13692, que considerou a Venezuela uma ameaça a segurança interna dos Estados Unidos. Até o dia de hoje os venezuelanos colecionam sessenta e duas sanções norte-americanas, nove da União Europeia, cinco do Canadá e duas do Reino Unido.
O resultado desses bloqueios pelo imperialismo foram absolutamente catastróficos à economia venezuelana, com consequências nefastas ao povo do país. As transações em moeda estrangeira no país caíram absurdos 99% dos últimos sete anos, saindo de US$ 56 bilhões para US$ 400 milhões, o que gerou uma perda brutal no poder do bolívar, o que acarretou num desabastecimento generalizado no país, pois lá cerca de 80% dos produtos consumidos são importados. Vale lembrar que nas sanções sequer alimentos e medicamentos foram poupados, o que acarretou em graves problemas sanitários e de fome na região, que geraram cerca de 40 mil mortes entre os anos de 2017 e 2018, segundo CEPR.
No âmbito do setor petrolífero, as medidas impeditivas imperialistas geraram uma estagnação e um desmonte do sistema estatal de extração, melhoramento e exportação de petróleo da Venezuela. O país por estar proibido de adquirir peças e produtos químicos necessários para a manutenção do setor se viu perdendo sua capacidade extrativista e petroquímica, o que fez com que os rendimentos do petróleo caíssem mais de 50% no ano de 2018. Pelo fato do PIB venezuelano ser muito dependente do petróleo, esse desmonte gerou uma queda de 60% do produto interno bruto do país.
O retorno das negociações entre o Palácio de Miraflores e a Casa Branca são realmente importantes para a recuperação econômica da nação sul-americana, mas mostram uma face da crise que o imperialismo enfrenta, pelo fato de não estarem conseguindo mais impor sua política sem que gere uma grande insatisfação em seus próprios territórios. Mostra também a elasticidade de interesses norte-americanos e de todos os seus principais aliados imperialistas no mundo, pois embargam e desembargam economias inteiras de acordo com seus próprios interesses, pois não admitem nenhuma demonstração de nacionalismo e busca de soberania nacional no mundo que não sejam de países que estejam totalmente aliados ao jogo do imperialismo.



