Jean Wyllys, ex-deputado pelo PSOL, tirou da cartola que o PCO seria um partido de “extrema esquerda fascista”. Essa verdadeira pérola do raciocínio pequeno-burguês apareceu em uma matéria da Fórum, velha conhecida por seu jornalismo marrom. Sim, o sítio capitaneado por Renato Rovai que acusou o PCO de roubar celulares em manifestações e bater em mulheres.
Escapa ao ex-BBB que o fascismo é uma das faces da burguesia, uma ferramenta usada para esmagar a classe operária e suas representações como sindicatos e partidos. Hitler assassinou 60 mil líderes sindicais, para muitos é aí que se inicia o Holocausto. Então, como classificar um partido de esquerda de fascista? Salta aos olhos que Jean Wyllys faça esse tipo de acusação, pois ele próprio se exilou no exterior após receber ameaças de morte, não do PCO, mas da direita fascista.
A crítica de fundo, e que não se revela, é que o PCO é um partido revolucionário, sabe que revolução proletária não se dará por meios pacíficos, mas da tomada violenta do poder. Aqueles que negam essa realidade, os pacifistas de plantão, são contrarrevolucionários.
Esquerda nem-nem
O que encontramos na matéria citada é uma tentativa de criticar todo mundo, da esquerda à direita, estariam todos sofrendo de “desorientação geopolítica”. Supostamente afetados por um “maniqueísmo simplificador de uma realidade complexa”, o que só poderia resultar em “militantes do PCO (extrema esquerda fascista) e do MBL (extrema direita fascista) [trocando] socos e insultos entre si em frente ao consulado da Rússia no Rio de Janeiro”.
É aquela velha concepção de que em uma guerra não existe lado certo, pois “nós de esquerda devemos lutar pela solução diplomática do conflito”. Sim, quem gosta de guerra? Mas, existe o mundo real, feito de pessoas e interesses. Seria ótimo se tudo pudesse ser resolvido na conversa.
Podemos ignorar que o imperialismo estava encurralando a Rússia? Ora, não se trata de uma ameaça qualquer, mas de uma força militar que não se incomoda em promover genocídios. Exemplos não faltam: Iugoslávia, Iraque, Síria, Afeganistão… Qualquer governante com um mínimo de juízo teria que agir antes de ser atacado, pois essa gente não brinca em serviço.
Faça o que digo, não o que faço
O deputado Jean Wyllys, que acusa o PCO de ser fascista, deveria explicar porque apoia o Estado de Israel, esse sim um Estado fascista ao pé da letra. Israel tem praticado todo tipo de atrocidades contra o povo palestino, apartheid, limpeza étnica, roubo de terras, bombardeios constantes, bloqueio econômico e militar sobre a Faixa de Gaza, uma verdadeira prisão a céu aberto. Podemos citar ainda o espancamento e prisão de crianças. É uma lista quase infindável de crimes lesa-humanidade. Quem apoia um estado como esse devemos chamar de quê?
É claro que no decorrer a verdadeira posição do autor acabe transparecendo: “por mais que admire e respeite meus amigos e minhas amigas do grupo “Judias e Judeus Sionistas de Esquerda, “e concorde com elas e eles de que Putin é um tirano sociopata que, neste momento, ameaça todo o planeta com sua agressão à Ucrânia”. (grifo nosso)
Na concepção demonstrada acima, o Estado (a Rússia) que está sendo oprimido pelo imperialismo (na figura da OTAN) é que se torna o opressor! Será que temos como comparar o poderio econômico e militar dos países que compõem a OTAN com o da Rússia? Na cabeça de Jean Wyllys, a Rússia deveria ficar esperando ser destroçada. No futuro, quem sabe? o nobre ex-deputado poderia escrever diversos textos sobre a agressão que a Rússia teria sofrido. Felizmente, os planos de Putin são outros, preferiu agir antes de ser alvejado e deve ser apoiado sem qualquer sombra de dúvidas.
Identitarismo
Em 06 de janeiro de 2016, Jean Wyllys viajou a Israel para ministrar uma palestra sobre antissemitismo, racismo, homofobia e política na Universidade Hebraica de Jerusalém. Em sua conta no Facebook postou uma foto todo sorridente com o seguinte texto: “Estou muito feliz e emocionado pela oportunidade de visitar, pela primeira vez, esta cidade cheia de história, terra santa para as três religiões do livro, onde se encontram tradições e costumes do Oriente e do Ocidente. Amanhã vou ministrar uma palestra na Universidade Hebraica de Jerusalém, a convite da mesma, junto ao professor James Green. Vamos debater sobre antissemitismo, racismo, homofobia e outras formas de ódio e preconceito e suas relações com a política contemporânea”. Claro que não faltaram críticas de todos os lados.

O que está por trás dessa visita? Como supostamente Israel é tolerante com os LGBT’s e está cercado por países “islâmicos e homofóbicos”, todos aqueles que defendem os direitos das minorias deveriam automaticamente se alinhar com o Estado sionista.
O que o Estado de Israel faz é vender uma imagem de país democrático, de defensor das liberdades individuais, enquanto comete todo o tipo de atrocidades contra o povo palestino. Qualquer pessoa com o mínimo de discernimento sabe que Israel é o braço armado dos EUA no Oriente Médio, é uma faca no pescoço das populações daquela região, alimentado diretamente pelo imperialismo com dinheiro e armas de última geração, incluindo arsenal atômico.

Será admissível sobrepor os direitos dos LGBT’s ao de populações inteiras? É claro que são direitos legítimos, mas em nome disso deve-se apoiar o bombardeio de mulheres, crianças? Infelizmente, é feita uma grande demagogia com essas ‘pautas identitárias’, como estamos vendo no Afeganistão. Na Rússia, apesar de obviamente os LGBT’s, por exemplo, serem oprimidos (onde não o são?), essa opressão específica por parte do regime russo em nada se compara com a opressão que o imperialismo impõe ao conjunto da população russa, incluindo os LGBT’s, tanto economicamente como militarmente ─ e que poderia se tornar em uma guerra de agressão.
Segundo a lógica de Jean Wyllys, se os países árabes invadissem Israel e retomassem o território roubado da Palestina, isso deveria ser condenado e combatido, porque Israel é uma “democracia” onde os LGBT’s são respeitados, enquanto nos países árabes eles são oprimidos. Não importa que seja Israel quem, através de guerras coloniais, anexou territórios da Palestina, Egito, Jordânia e Síria, matando centenas de milhares ou mesmo milhões de pessoas. Não importa que Israel seja o grande foco de desestabilização do Oriente Médio, ameaçando e provocando os demais países, fazendo guerras recentes contra eles (como foi a do Líbano em 2006 ou mesmo os bombardeios gigantescos que ocorreram a cada período em Gaza). Se os árabes se levantam contra isso ─ como os russos estão fazendo contra a opressão da OTAN no leste europeu ─, seriam “tiranos sociopatas” como Putin.
Depois de vinte anos de ocupação e da destruição da economia do Afeganistão, os EUA estão bloqueando ativos afegãos, o que provocou o fechamento de um hospital que trata da Covid-19. Para este ano está previsto que um milhão de crianças morrerão de fome. 98% da população está desnutrida e 9 milhões de pessoas, no total, deverão morrer de fome. Se considerarmos que metade desse contingente seja de mulheres, como fica o discurso dos identitários, daqueles que se diziam tão preocupados com o destino das mulheres sob o regime dos Talibãs?
Jean Wyllys diz que “como pessoa LGBT, tenho uma preocupação a mais: a homofobia é o denominador comum dos países do leste europeu, incluído aí a Ucrânia. Tenho uma real preocupação sobre o destino de gays, lésbicas e pessoas trans durante e após o fim da guerra”. Ora a preocupação deve ser geral. Será que ele tem a ilusão de que sob o imperialismo a vida dessas minorias estaria assegurada? Como seria a vida dos LGBT’s em um país bombardeado pela OTAN? O mais irônico é que essa pequena-burguesia ‘bem-pensante’ não perde uma chance de chamar aos outros de indigentes intelectuais e fascistas, mas não conseguem ver o quanto tem de mesquinha e contraditória.





