Um fato importante e de grande relevância acerca do conflito no leste europeu, envolvendo a Rússia e a Ucrânia, aconteceu durante a votação da Assembleia-Geral Extraordinária da Organização das Nações Unidas (ONU), convocada para que os países se posicionassem acerca do confronto armado.
Na verdade – isso deve ficar claro – o objetivo do chamado à reunião de emergência da ONU se deu em função do desejo e da necessidade dos países imperialistas em condenar a Rússia pela ação militar que essa leva adiante no território ucraniano, caracterizada pela aliança militar ocidental (OTAN) como “invasão”. No entanto, as coisas não aconteceram exatamente da forma como queria o imperialismo, se levarmos em conta não os números contábeis da matemática, mas todos os elementos colocados na explosiva conjuntura política internacional.
De imediato, é necessário dizer que do ponto de vista estritamente jurídico e formal, se fosse observado rigorosamente o aspecto legal, a Rússia deveria ser condenada sem maiores discussões, pois violou um dos princípios da carta da ONU, que se coloca muito claramente contra qualquer tipo de intervenção, ocupação ou invasão a um outro país. Todavia, no caso em questão, o problema vai muito além de meras formalidades estatutárias do organismo internacional.
A imprensa internacional, obviamente, busca se apoiar na votação a “favor” da condenação (141 votos) para intensificar ainda mais o ataque à Rússia, buscando com isso evoluir na campanha sórdida de mentiras que nesse momento o imperialismo leva adiante contra os russos.
Na votação, 52 países não apoiaram a posição do bloco dominante liderado pelo imperialismo. Isso é muito sintomático, pois revela que não é tão unânime assim a condenação, como buscam enfatizar os inimigos da Rússia. O que deve ser levado em consideração também é que muitos países que votaram a “favor” da condenação a fizeram devido à grande pressão exercida pelo imperialismo, por receio a uma retaliação, ou seja, não estão dispostos a enfrentar possíveis sanções vindas principalmente dos EUA e da União Europeia, ou mesmo invasões e guerras de rapina. Muitos países que, inequivocamente, apoiam a decisão da Rússia preferiram, por razões circunstanciais, se abster na votação, como foi o caso de Cuba, Índia e outros.
Outro dado importante é que a votação diz respeito ao posicionamento de governos e não exatamente dos países. Esse não é um aspecto de menor importância, pois um conjunto de circunstâncias conjunturais interfere na posição assumida na votação.
O fato é que muito diferente do que as aparências podem indicar, a votação na ONU revela que estamos diante de uma nova conjuntura política internacional, marcada fundamentalmente pela enorme polarização entre os países. Essa nova situação indica a formação de um novo bloco de países, composto, em sua essência, pelas nações que sofrem mais dramaticamente os efeitos da política de rapina e pilhagem do imperialismo e que, de alguma maneira, começam a se colocar contra essa opressão.
A polarização também é indicadora de que a situação evolui, num sentido geral, para uma crise de características revolucionárias. Esta é a tendência geral de desenvolvimento da crise, que potencialmente arrastará a maioria dos países, ou pelo menos aqueles que ocupam posição de destaque no cenário político-econômico internacional.





