Com uma concentração predominante nas regiões sul e sudeste do País, estudos apresentados pela Doutora em Antropologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) Adriana Dias em conjunto com a ONG Anti-Defamation League (ADL) e o movimento Observatório da Extrema Direita (formado por acadêmicos de mais de dez universidades brasileiras e de outros países), apontam que o Brasil está entre os países onde mais cresce o movimento de extrema-direita.
“Desde 2018, o Brasil se transformou no país com maior crescimento de grupos de extrema direita. Este fenômeno tem a ver com a eleição de Jair Bolsonaro que, num nível subterrâneo, está vinculado a estas ideologias” (O Globo, 27/2), afirma Michel Gherman, professor de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Karl Schuster, professor da Universidade de Pernambuco e Vigo, na Espanha, compartilha o ponto de vista de Gherman: “Estas mais de 530 células ganharam autorização para aparecer” (idem).
É fato que a eleição de Bolsonaro alavancou grupos de extrema-direita no País, mas o principal motivador para que esses agrupamentos saíssem das sombras, inclusive os grupos bolsonaristas, está na campanha reacionária impulsionada pela imprensa, a começar com a Globo em defesa do golpe de Estado, pela derrubada da presidenta Dilma Rousseff e a perseguição desencadeada contra a esquerda, em particular ao PT e a Lula por meio da Lava-Jato – uma operação supostamente para combater a corrupção orquestrada pelo imperialismo baseada na calúnia, na falsificação e na mentira -, produzida na medida para se tornar uma grande campanha ideológica contra a esquerda pela imprensa venal capitalista.
Nesse sentido, foi a própria burguesia golpista e sua imprensa que tiraram do esgoto os grupos fascistas e uma histérica classe média de direita para bradar nas ruas as palavras de ordem dos golpistas e criar um arremedo de movimento popular, a fim de justificar o golpe. Diga-se de passagem que o golpe de 2016 no Brasil tem muitas semelhanças com o golpe de Estado na Ucrânia em 2014, apenas que o fascismo/nazismo já era um movimento bem mais organizado e ativo do que no Brasil.
A base do movimento fascista/nazista é a pequena-burguesia desesperançada, que é financiada e utilizada pela grande burguesia quando é do seu interesse. Hitler e Mussolini não chegaram ao poder por conta própria, mas pelas mãos do regime político burguês. Em menor medida, o próprio Bolsonaro é expressão disso. Bolsonaro surgiu como um fenômeno impulsionado pelo golpe de 2016. Diante da polarização política resultado do próprio golpe, a burguesia se viu na contingência de tê-lo como seu candidato, mas isso, pelo menos na atual etapa, não significa uma adesão, ainda, da burguesia ao fascismo. É tanto que Bolsonaro pouco ou nada conseguiu fazer para levar à frente os métodos e o programa básico do movimento de extrema direita, que já não sejam sistematicamente aplicados, como por exemplo, o uso da polícia como um instrumento sistemático de repressão e opressão contra o povo pobre.
O estudo empreendido sobre o crescimento dos grupos nazistas no Brasil, serve ainda para desmistificar o recente caso do apresentador de podcast, Monark, execrado pelo fascista Bolsonaro, por diversas figuras ativas do golpe, verdadeiros fascistas disfarçados, por toda a imprensa que promoveu os bandos fascistas durante o golpe e pela quase totalidade da esquerda, por ter defendido o direito de organização partidária para os nazistas, ou seja, um crime de opinião, uma bandeira fundamental da burguesia em sua etapa progressista (revolucionária) e depois apropriada pelos marxistas e pela esquerda.
É elementar que não é a proscrição política que impedirá o crescimento do fascismo. Isso está relacionado à crise histórica capitalista e a necessidade do imperialismo impedir a revolução proletária mundial. Quando tiver necessidade do nazismo ou do fascismo a burguesia saberá como impulsionar e isso não precisa de um partido legal. No final das contas, como admitiu o próprio fascista Bolsonaro, é preciso criminalizar não apenas o nazismo como também o comunismo. Eis onde querem chegar.





