Dois dias depois da mensagem à população russa, em que o presidente Vladimir Putin anunciou que havia ordenado ações militares contra alvos militares na Ucrânia, que pretendia liquidar a tentativa da organização militar imperialista OTAN de militarizar a Ucrânia, “desmilitarizar e desnazificar” e apoiar e defender as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk diante dos ataques das milícias nazistas e das forças regulares da Ucrânia; as forças russas estavam muito perto de colher uma vitória arrasadora em tempo recorde e com um reduzidíssimo número de baixas: cerca de 150 (isso no momento em que escrevemos esta coluna), segundo dados do próprio governo ucraniano, equivalente ao número médio de pessoas mortas em um dia pela PM brasileira em sua guerra contra a populações pobre e negra.
Depois de já ter pedido para que os soldados ucranianos entreguem suas armas e deixem a zona de batalha, afirmando que a responsabilidade por eventual sangue derramado será do regime ucraniano que – desde o golpe de Estado de 2014 – passou a servir aos interesses do imperialismo norte-americano na região, atuando contra a Rússia e contra seu próprio povo, Putin também instou as forças armadas a derrubarem o governo nazista e negociarem com os russos um acordo de paz.
O chefe de Estado alertou, em seu primeiro pronunciamento que “a Rússia agirá imediatamente caso haja interferência estrangeira”; mas o que se serviu foi que os que provocaram a guerra, ameaçando a Rússia, não se dispuseram a intervir militarmente, procurando usar do criminoso bloqueio econômico e em outras áreas (até nos esportes) para “punir” todo o povo russo. O que evidenciou também a fraqueza e a crise do imperialismo norte-americano que, há pouco tempo, tinha acabado de ser expulso do pobre Afeganistão.
Poucas horas depois do início das ações (na manhã do dia 24), o Ministério da Defesa da Rússia anunciou que os sistemas de defesa antiaérea da Ucrânia teriam sido desativados, bem como que a infraestrutura de bases militares ucranianas também estaria fora de serviço, o que foi se comprovando nas horas seguintes quando as tropas russas passaram a dominar – sem dificuldades – as principais regiões e se aproximaram de tomar a Capital.
Diferentemente dos ataques dos países imperialistas contra países atrasados e mais débeis militarmente, como nos casos da Sérvia (Iugoslávia), Síria, Iraque, Líbia, Afeganistão etc. em que os agressores provocaram destruição em massa e mortes de centenas de milhares de pessoas, ficou evidente que as tropas russas não realizam ataques aéreos, de mísseis ou de artilharia, contra as cidades da Ucrânia. O que não impediu a sórdida campanha da imprensa capitalista mundial e dos servos do imperialismo no Brasil, contra supostos excessos (sem provas) dos russos.
A crise da Ucrânia, sob um regime golpista desde 2014 (ditadura!), se intensificou com a política do governo Joe Biden de intensificar a atividade agressiva dos EUA contra os países atrasados que procuram ter alguma autonomia política no mundo, como é o caso da Rússia. O país tornou-se um obstáculo à ofensiva que os governos imperialistas procuram promover com guerras e golpes, diante da crise histórica do capitalismo e em um momento de enorme desmoralização do imperialismo diante da derrota no Afeganistão.
O caso dos ataques à Rússia não são únicos. Por conta de suas extensões territoriais e atividades econômicas em zonas de influência locais, Rússia e China têm sido cada vez mais provocadas pelo imperialismo. A provocação mais destacada recentemente – e que foi o estopim da ação defensiva levada adiante pelo governo russo – foi a tentativa de incluir a Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o que significaria instalar bases militares para livre atuação do imperialismo nas fronteiras russas. Países como Venezuela, Cuba, Nicarágua, Irã, entre outros, sofrem o embargo e o cerco imperialista que impõe a vontade de um reduzido grupo de monopólios capitalistas que dominam os Estados Unidos e outros países imperialistas.
Ante o fracasso dessa tentativa de ampliar o cerco imperialista à Rússia, há poucos dias a Ucrânia rompeu os Acordos de Minsk e atacou os territórios das Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk, cuja independência foi devidamente reconhecida pelo governo e pelo parlamento russo. As duas Repúblicas da região do Donbass têm maioria de população russa e foram criadas para resistir às perseguições sofridas por essa população a partir do golpe de Estado apoiado pelo imperialismo em 2014, que teve à frente grupos nazistas apoiados e financiados pelo imperialismo.
O que é apresentado pela imprensa capitalista, no Brasil e no mundo, como uma agressão por parte da Rússia, não é mais do que uma manobra defensiva em atendimento às decisões dos povos que habitam a região do Donbass e de defesa da soberania do povo russo, ameaçados pela ação do imperialismo “democrático” e seus aliados fascistas da Ucrânia.
O imperialismo, com apoio dos capachos do governo ucraniano, usou a Ucrânia para uma espécie de guerra por procuração. De fato, não há e nunca houve por parte desses genocidas qualquer preocupação com o povo ucraniano, nem mesmo com a farsa da defesa da “integridade territorial” do país, nem com qualquer outra justificativa cinicamente apresentada pela imprensa burguesa, em uma verdadeira campanha publicitária em favor do imperialismo.
O estrangulamento econômico da Rússia faz parte dos objetivos do imperialismo, em especial o norte-americano, para controlar mais profundamente a Ásia. Por isso as medidas realizadas a pretexto de “retaliação” às ações da Rússia (que vem sendo atacada, de fato, há anos) vão todas no sentido de atacar os interesses econômicos do País e, inclusive, dos aliados europeus que mantém importantes relações econômicas com a Rússia.
Com as medidas anunciadas, o imperialismo norte-americano busca submeter ainda mais até mesmo o imperialismo europeu. Obrigou a Alemanha, por exemplo, a impor restrições à Rússia na questão do fornecimento de gás natural daquele país, estratégico para o seu próprio desenvolvimento. O fornecimento de gás natural é essencial para o continente europeu e consumido num volume gigantesco. Cerca de um terço do gás natural enviado pela Rússia passa justamente pela Ucrânia.
O que vemos é que a Alemanha – para servir aos interesses dos EUA – é obrigada a agir contra seus próprios interesses, o que reforça o argumento amplamente disseminado de que um dos reais motivos de toda essa crise na Europa seja os EUA forçarem a Alemanha a se afastar da Rússia.
Fica evidente que, em meio à crise, a política do imperialismo é uma política de rapina, de destruição, morte e retrocesso para a imensa maioria da humanidade, inclusive para seus “aliados”.
Para o ativismo de esquerda, para os trabalhadores não pode haver posição de neutralidade diante da guerra imperialista (que a Ucrânia leva adiante, por procuração) contra a Rússia. Não pode haver a menor dúvida de que é dever da esquerda, das organizações de luta dos trabalhadores em todo o mundo se posicionarem em defesa do povo russo e ucraniano contra a sanha intervencionista dos países imperialistas. Em defesa da autodeterminação dos povos do Donbass.
Tomamos como nossas as palavras de Che Guevara:
Toda a nossa ação é um grito de guerra contra o imperialismo e um clamor pela unidade dos povos contra o grande inimigo do gênero humano: os Estados Unidos da América do Norte. Em qualquer lugar que nos surpreenda a morte, bem-vinda seja, sempre que esse, o nosso grito de guerra, tenha chegado até um ouvido receptivo e outra mão se estenda para pegar nas nossas armas, e outros homens se aprestem a entoar os cantos lutuosos com rajadas de metralhadoras e novos gritos de guerra e vitória.
Pela vitória do povo russo, contra o imperialismo e seus fantoches na Ucrânia!