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Covardia

Banho de sangue em RO: mais dois membros da LCP são executados

Sem terra mortos neste ano no Estado já ultrapassa uma dezena

No dia 17 de fevereiro, um casal de lideranças da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) foi barbaramente assassinado com tiros na cabeça por jagunços dos latifundiários rondonienses. Os camponeses assassinados foram Ilma Rodrigues dos Santos, 45 anos, tesoureira da LCP, e seu marido Edson Lima Rodrigues, 43, cujos corpos foram encontrados ao lado da caminhonete incendiada que pertencia ao casal. O crime aconteceu na 8ªLinha do Ribeirão, no distrito de Abunã, que fica cerca de 200 km da capital Porto Velho. O casal vivia no acampamento Thiago dos Santos, localizado na Fazenda Nova Brasil, uma região de intensos conflitos por terra.

O homicídio duplo está sendo investigado pela Polícia Civil e pode ser uma vingança contra a LCP, que é acusada injustamente de ser a responsável por disparos realizados, um dia antes do crime, contra policiais e fiscais no Parque Ambiental Estadual Guarajará-Mirim.

O Comandante da PM Ambiental de Porto Velho, Adenilson Real, em reportagem da Amazônia Real, de imediato favoreceu os latifundiários e acusou a Liga:

“Estamos nos preparando para lidar com esse novo perfil de invasor naquela região. Os ataques aos fiscais e à Polícia Ambiental foram provocados pela Liga, que tem estratégias de se posicionar em meio à vegetação, escondidos, para surpreender as equipes em deslocamento. Uma tática já utilizada por esses grupos. A gente vem fazendo um levantamento para identificar essas pessoas”, acusou o major que está no cargo por apenas duas semanas.

Em seguida a essa declaração caluniosa do major, a assessoria de imprensa do comando da PM declarou que não pode afirmar que exista uma relação entre o atentado aos policiais e fiscais e o duplo homicídio.

Maria Petronila, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Rondônia, militante dos movimentos populares há mais de 20 anos, afirmou que querem criminalizar os movimentos rurais:

“Não tenho nem dúvida de que é uma tentativa de criminalização. Atribuir que um ataque à Polícia Ambiental é uma ação da LCP, eu duvido muito. Eu acho que é mais algo de crime voltado para essa questão do roubo da madeira e também das invasões nessas áreas de reservas. É mais uma tentativa de criminalização do movimento (rural) no estado de Rondônia”.

Segundo o professor e pesquisador Afonso Chagas, da Universidade Federal de Rondônia, os ataques aos fiscais e policiais foram motivados por invasores que atuam no Parque Ambiental de Guajará-Mirim. O professor denunciou também a omissão das instituições públicas.

Aproveitam o roubo de madeira, uma ação do crime organizado que incentiva a invasão de terras públicas, para criminalizar e intensificar os ataques aos camponeses. “Tudo que vem acontecendo agora já vem ocorrendo há muito tempo e as autoridades foram fazendo ‘vista grossa”, denunciou Petronila.

Maria Petronila denunciou ainda o aumento das execuções e impunidade na região:

“Os casos de assassinatos de lideranças não têm uma investigação policial séria, não há um julgamento ou uma sentença. No ano passado, foram 13 assassinatos e 7 foram de ação direta, execução e massacres da polícia”.

Aumento das execuções e dos conflitos no campo

Segundo relatório da CPT, os conflitos no campo aumentaram na última década. Em 2020, foram contabilizados 20 assassinatos. No ano seguinte houve um aumento de 30%. Os crimes acontecem na chamada Amazônia legal. Rondônia é o Estado com maior aumento dos conflitos na região Norte. Foram 133 ocorrências, um aumento de 62% em relação a 2019.

A violência no campo vem aumentando bastante desde 2019, quando chegou ao poder o fascista Jair Bolsonaro. Em Rondônia, o governo do fascista Marcos Rocha (PL), apoiador do presidente, aprovou decretos que favoreceram a grilagem de terras, que vem desmatando bastante as florestas do Estado, que de janeiro a dezembro de 2021 desmatou mais de 1.200 quilômetros quadrados de mata.

Rondônia é o Estado mais violento em relação a conflitos agrários. O professor e pesquisador desses conflitos, Afonso Chagas, que denuncia a violência contra os camponeses, diz que “atualmente a repressão aos movimentos sociais é feita de maneira privada. Temos indícios muito claros, trazidos pela polícia, de que nós temos atuação de milícias no campo que fazem patrulha rural de defesa de propriedades de grandes terras griladas e a repressão estatal”.

Está ocorrendo ainda, segundo denuncia o pesquisador, um aparelhamento das instituições públicas para facilitar a grilagem de terras na região, com uso da Força Nacional de Segurança Pública para reprimir e amedrontar a luta política dos camponeses por terra e trabalho.

“A Força Nacional é justamente para pacificar, criar uma harmonia nacional. Mas a presença dessas tropas em associação com as polícias do Estado somente serviu e trabalhou para perseguir e criminalizar lideranças dos movimentos sociais. Faltou respeito às leis, respeito ao contraditório. Cansamos de denunciar muitos casos de grilagem, presença de milícias, assassinato de trabalhadores. Mas a Força Nacional não fez efetivamente nenhum tipo de ação para apurar essas questões”, conclui o professor Chagas.

Com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro (PL), fruto do Golpe de Estado de 2016, os ataques aos camponeses só vêm aumentando. Durante a inauguração de uma ponte que liga Rondônia ao Acre, Jair Bolsonaro fez duras ameaças aos camponeses da LCP. Ele mandou a liga se preparar. “LCP, se prepare! Não vai ficar de graça o que vocês estão fazendo. Não tem espaço aqui para grupo terrorista. Nós temos meios de fazê-los entrar no eixo e respeitar a lei”, ameaçou o fascista que está no Planalto.

É preciso dar todo apoio à Liga dos Camponeses Pobres, que precisa convocar a população para a luta, pois do jeito que está, com aumento de repressão e assassinatos, os latifundiários fascistas irão destruir o movimento de luta pela terra. As instituições burguesas não julgarão e nem irão punir os assassinos de Ilma Rodrigues e Edson Lima, dentre centenas de outras vítimas diárias desse conflito, pois elas agem em prol dos latifundiários e da burguesia.

O apoio aos camponeses, a formação dos comitês de autodefesa e a mobilização popular em torno da vitória e governo de Lula são fundamentais para pôr fim a essa política fascista de criminalização dos camponeses, violência e morte que acomete o povo do campo.

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