Após dois longos anos de pandemia, esperava-se que a situação estivesse controlada, ou, ao menos, remediada. Entretanto, as primeiras semanas de 2022 nos mostraram claramente que, muito pelo contrário, a crise sanitária se aprofunda a cada dia que passa.
Decerto que as coisas melhoraram, vemos isso pelo número de mortes em decorrência do coronavírus. Todavia, estamos na pior fase da pandemia no que diz respeito à infecção, quebrando recordes semanalmente. E não só no Brasil, mas em todo o mundo.
De forma mais concreta, levando em consideração o fechamento desta matéria, mais de 300 pessoas morreram de covid-19 nas últimas 24h e quase 200.000 foram infectadas somente no Brasil. Ademais, o ritmo de contágio (Rt) atingiu 1,9 nesta quarta-feira (26), ou seja, 100 pessoas tendem a transmitir a doença para outras 190 pessoas.
À luz deste quadro, fica claro que a situação ainda está extremamente delicada e, acima de tudo, grave. Ao mesmo tempo, esta semana, milhares de escolas retornam às aulas 100% presenciais. Inaugura-se, então, uma nova etapa da crise no país, uma catástrofe anunciada.
Segundo o médico e neurocientista Miguel Nicolelis, os riscos do retorno às aulas não são aceitáveis. Ele utiliza como referência um levantamento do UOL que mostra que as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) pediátricas no Brasil estão próximas ao colapso em vários Estados. No Mato Grosso do Sul, Maranhão e Rio Grande do Norte, a ocupação está em 100%.
Além disso, Nicolelis destaca um estudo do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, o qual afirma que 43% das crianças podem ter efeitos prolongados da covid-19 três meses depois da infecção.
“Não há risco aceitável com crianças. Ninguém sabe como sequelas crônicas deixadas pela Ômicron podem afetar crianças infectadas. É um absurdo sem precedentes reabrir escolas. Com transmissão muito menor na primeira onda elas foram fechadas. Qual a lógica de permitir sua reabertura agora?”, coloca o médico.
Ou seja, se o atual patamar da pandemia no Brasil já é desesperador, o que podemos esperar com a volta às aulas presenciais senão o caos?
Fica claro que, ao contrário do que a imprensa burguesa coloca, a crise sanitária está longe de ser controlada. Depois de manter os locais de trabalho praticamente abertos durante toda a pandemia, a burguesia agora lança a juventude de todo o País à sua própria sorte, quase que em uma política de “vejamos o que vai acontecer”.
A retórica da “defesa da educação” não passa de uma farsa, essa é ainda mais uma medida da burguesia que visa estancar a crise econômica – leia-se crise econômica em seus próprios bolsos. Afinal, as aulas presenciais movimentam a economia de maneira que fez tremenda falta aos capitalistas durante a pandemia.
Apesar de toda essa situação, setores da esquerda pequeno-burguesa, completamente histéricos, insistem em suas acusações de que, no final das contas, a culpa do descontrole da pandemia é daqueles que não se vacinaram. Segundo esses pequenos intelectuais, os que escolheram não se vacinar são estúpidos, ignorantes, quando não malvados e reacionários.
A pandemia permanece descontrolada por conta da burguesia, foi ela quem negou uma quarentena real aos trabalhadores, resultando na morte de mais de 600.000 pessoas e, agora, reabre as escolas. Os trabalhadores são vítimas dessa opressão, inclusive aqueles que escolheram não se vacinar!
O ponto é que estes setores da esquerda não possuem princípios políticos. Principalmente em um momento de crise, entram em desespero, se apoiando, via de regra, nas posições da imprensa burguesa que, por uma questão econômica, consegue pressionar mais veementemente aqueles que cedem facilmente às pressões do capitalismo.
Nesse sentido, vemos que esse tipo de retórica é, além de tudo, pertencente à burguesia. Isso porque é a defesa do princípio de que o Estado deve forçar o povo a tomar a vacina, algo simplesmente fascista, um atentado aos direitos democráticos dos trabalhadores.
Afinal, se a burguesia estivesse verdadeiramente preocupada em vacinar o povo, faria uma campanha homérica de conscientização e debate acerca das vacinas. Algo completamente razoável tendo em vista o poderio econômico do Brasil. Ao contrário, preferem utilizar o coronavírus como um pretexto para intensificar o caráter repressivo do Estado e, nesse trabalho, são auxiliados pela esquerda pequeno-burguesa.
Finalmente, a única forma de controlar a pandemia no Brasil é pelo cancelamento das aulas presenciais em âmbito nacional até que a maioria dos estudantes e professores estejam vacinados. E mais, o EAD, como substituto, também deve ser duramente rejeitado, exatamente por representar o sucateamento e a privatização da educação.
Nesse sentido, a juventude de todo o País precisa se organizar em torno de comitês de luta estudantis, e tomar as ruas em direção a uma greve geral da educação. Parte primordial desta luta são as palavras de ordem Fora Bolsonaro e o Lula Presidente. Finalmente, é a forma que a luta dos trabalhadores toma neste momento e, além disso, a única maneira de impedirmos o processo golpista no Brasil.