No começo da pandemia, em 2020, boa parte das instituições de ensino ao redor de todo o Brasil fecharam suas portas ao ensino presencial. À época, o raciocínio era simples. Fechar as escolas e universidades para impedir uma catástrofe sanitária que, no final das contas, veio mesmo assim.
Entretanto, longe de paralisarem suas atividades, essas instituições instauraram o chamado Ensino à Distância (EAD). Neste ponto, vale relembrarmos a questão política – sempre presente em qualquer esfera da sociedade – do EAD, algo pouco discutido na atual etapa da pandemia.
O EAD representa, primordialmente, a privatização da educação. A ideia central é que, para o estabelecimento do sistema, é preciso numerosa infraestrutura no que diz respeito ao acesso e à estabilidade dos serviços virtuais. Abrem-se, então, as portas das escolas e das universidades à iniciativa privada por meio da terceirização desses serviços.
Ademais, o EAD representa o total sucateamento do ensino, principalmente da forma desleixada como foi feito. Sem contar no caráter reacionário do modelo no momento em que exclui-se o ambiente físico das instituições de ensino, principal responsável pelo movimento estudantil que, indiscutivelmente, representa o setor mais radical da sociedade.
No começo, ainda existiam dúvidas quanto à validade deste prognóstico, apesar de ser duramente defendido e propagandeado pela Aliança da Juventude Revolucionária (AJR). Dois anos após o início do caos, essa argumentação foi comprovada por dados de algumas semanas atrás, que mostram como a educação brasileira piorou imensamente nos últimos dois anos.
Agora, os antes “científicos” governadores, com participação do governo federal, voltam atrás em suas decisões, empurrando a abertura generalizada das escolas e universidades em âmbito nacional. De primeira, parece ser algo razoável. Afinal de contas, os alunos passaram dois anos sem comparecer aos seus locais de estudo. Entretanto, para tal conclusão, espera-se que a pandemia tenha sido remediada depois de tanto tempo, o que, claramente, não é o caso.
O fato é que estamos no maior pico da pandemia desde o seu início. Decerto que temos menos mortes, algo decorrente da vacinação. Todavia, segundo dados oficiais, centenas de milhares de pessoas estão sendo infectadas todos os dias somente no Brasil pela variante Ômicron. Centenas de pessoas ainda morrem diariamente! Isso se mostra ainda mais escabroso quando levamos em conta a subnotificação dos casos em decorrência da falta de testes no país.
Fica claro que a reabertura das escolas é um verdadeiro extermínio da juventude, algo que intensificará a pandemia no Brasil à proporções assustadoras. Entretanto, a burguesia está preocupada com a crise, mais especificamente a crise em seus bolsos. Logo, tenta transformar essa campanha criminosa em algo mais brando, utilizando, entre outras coisas, o discurso da luta pela educação, algo constantemente empurrado pela imprensa burguesa.
Encontramos a última forma dessa farsa no tão polêmico passaporte da vacina. Na Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, foi aprovado – por instâncias superiores que nada tem a ver com uma verdadeira representação da juventude – o estabelecimento do passaporte vacinal para acesso em qualquer campus da universidade.
A figura que procuram criar é a seguinte: se todos que acessarem o local estiverem vacinados, o vírus não se proliferará e poderemos, então, retornar todas as atividades normalmente. A própria experiência prática, pelo contrário, demonstra que esse não é o caso.
Afinal de contas, a vacina não impede contaminação, mas sim possibilita casos mais leves. Nesse sentido, por que, então, barrar pessoas não vacinadas se o risco àqueles vacinados será exatamente o mesmo?
O ponto é que esse tipo de medida não representa uma preocupação real das autoridades com o povo. Senão, bastaria suspender as aulas presenciais! Isso sim seria uma medida de contaminação zero nas escolas e universidades. Pelo contrário, querem restringir ainda mais o acesso do povo às instituições de ensino, segregando ainda mais os alunos.
O passaporte da vacina é uma demagogia que, no final, mascara um verdadeiro extermínio por vias completamente autoritárias e antidemocráticas. Deve, portanto, ser combatido por todos os setores progressistas
A principal reivindicação da juventude deve ser exatamente essa: pôr um fim à volta às aulas presenciais. E mais, pôr, também, um fim ao EAD. É preciso criar Comitês de Luta Estudantis em todos os estados para, finalmente, organizar uma greve nacional da educação pelo Fora Bolsonaro e Lula Presidente.
Essa é a forma mais completa da luta, algo urgente principalmente tendo em vista a política criminosa que a UNE e a UBES levaram nesses últimos dois anos, apoiando tanto o EAD quanto a volta às aulas presenciais.
Finalmente, a mobilização é a única forma de acabar com a pandemia e salvar a juventude do Brasil de uma verdadeira catástrofe. Caso contrário, podemos esperar muito mais do que 600.000 mortes.