Protestos em várias cidades do Cazaquistão eclodiram no dia 2 de janeiro devido ao aumento dos preços do gás no país, semelhantes os atos de junho de 2013 no Brasil, com confrontos entre manifestantes e policiais ocorrendo na cidade de Almaty, a maior cidade do país.
Nesta quarta-feira, pelo menos 137 policiais e 53 civis ficaram feridos durante protestos em massa em Almaty, quando manifestantes tentavam invadir o gabinete do prefeito e os policiais tentavam contê-los.
O gabinete do prefeito foi incendiado pelos manifestantes, e tiros também foram ouvidos perto do prédio.
Desde então, vários vídeos surgiram nas redes sociais, mostrando manifestantes invadindo o gabinete do prefeito, alguns entrando no prédio e outro grupo indo para a antiga residência presidencial.
Estima-se que três mil pessoas estariam envolvidas na tentativa de invadir o gabinete do prefeito. Os policiais podem ser vistos usando granadas leves, junto com paus e escudos, para conter os manifestantes.
O que os manifestantes querem?
A agitação em curso no Cazaquistão foi desencadeada por um aumento nos preços do gás que se seguiu à nova política governamental de preços do gás liquefeito. Desde 1º de janeiro, os preços dispararam, inicialmente subindo de cerca de 60 tenges para 80 e depois até 120 tenges (cerca de US$3) por litro, levando os residentes de Aktau e Zhanaozen no sudoeste da região de Mangystau a irem às ruas, exigindo que os preços fosssem baixados.
A economia dessas regiões do sudoeste do país está intimamente ligada ao petróleo e ao gás, e esta não é a primeira vez que a agitação eclodiu na área. Em 2011, Zhanaozen viu uma manifestação em massa de pessoas engajadas no setor que se transformou em protestos violentos e custou 15 vidas e deixou centenas de feridos.
Agora, a mesma região está enfrentando protestos novamente, com os apelos para reduzir os preços do gás evoluindo para demandas políticas, como a introdução de eleições para os chefes das regiões e cidades do país e o retorno da Constituição de 1993.
Resposta do Governo
Pouco depois do início dos protestos, o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokaev, ordenou uma comissão para resolver a questão, com o governo prometendo baixar os preços do gás.
Na quarta-feira, Tokaev aceitou a renúncia do primeiro-ministro Askar Mamin, sublinhando que “o governo foi especialmente culpado por permitir uma situação de protesto”. Além disso, o presidente ordenou a regulamentação estadual dos preços do gás liquefeito (GNL) por seis meses.
“Chamadas para atacar escritórios civis e militares são completamente ilegais”, disse Tokaev. “É um crime! O poder não vai cair! Não precisamos de conflito, mas de confiança mútua e de diálogo”. Ao que Tokaev leva a crer, essas chamadas para atacar seu governo viriam de agentes do imperialismo, insatisfeitos com sua proximidade com o presidente russo Vladimir Putin. Tokaev decidiu banir as redes sociais e a internet no país.
Foi anunciado anteriormente que o Cazaquistão adiará a transição para a venda de GNL por meio de uma plataforma de comércio eletrônico por um ano. As autoridades também foram encarregadas de conduzir uma investigação sobre conluio de preços e outras “ações anticoncorrenciais” na venda de gás liquefeito.
A imprensa local no Cazaquistão relatou que o chefe da planta de processamento de gás de Mangystau foi detido por supostamente aumentar os preços do gás sem motivo. Além disso, o chefe de uma plataforma de negociação eletrônica também foi detido.
Desenvolvimentos recentes
Apesar das promessas do governo em relação aos preços do gás, os protestos se espalharam do sudoeste para grandes cidades, incluindo a capital Nur-Sultan.
O estado de emergência foi introduzido nas regiões de Almaty e Mangystau, onde os protestos se originaram, e deverá permanecer em vigor até 19 de janeiro. A capital do Cazaquistão, Nur-Sultan, na quarta-feira também declarou estado de emergência.
Atualmente, Almaty parece ser o foco dos protestos no Cazaquistão, com confrontos entre manifestantes e policiais continuando. Além do gabinete do prefeito, o gabinete do promotor de Almaty também foi incendiado, conforme mostram vídeos que circulam na internet.
A agitação prejudicou o trabalho dos serviços públicos e de saúde, com manifestantes ferindo médicos e até invadindo hospitais. De acordo com as autoridades de saúde pública em Almaty, 5 trabalhadores da ambulância ficaram feridos durante os distúrbios e 2 veículos da ambulância foram destruídos.
Em todo o país, mais de 200 pessoas foram detidas, segundo disse o Ministério do Interior na quarta-feira.