Depois de queda populacional na região da Cracolândia durante a pandemia, o número de habitantes voltou a crescer. Em 2018, a população em situação de alta vulnerabilidade social no que se conhece como Cracolândia era de aproximadamente 2.000 pessoas; sofreu uma queda significativa em 2019, chegando a 772 pessoas em média; em 2020, por conta da pandemia, voltou a cair para 570 pessoas em média concentradas na região; e, em 2021, no mês de novembro, subiu para 666 pessoas, representando um aumento de 64%.
A queda na média de pessoas aglomeradas em 2019 se comparado ao ano de 2018 não foi resultado de nenhuma melhora nas condições de vida da população, mas única e exclusivamente da política do PSDB, que era a de retirar os serviços sociais do centro da Cracolândia, fazendo com que parte significativa da população de rua se deslocasse da Cracolândia para os arredores. Ou seja, tal política gerou um aumento na situação de miséria social do entorno da região, a piora das condições de vida para quem permanece vivendo no local e nenhuma melhora em absolutamente nenhum aspecto.
Tais resultados dizem respeito à política que o PSDB levou adiante quando assumiu a prefeitura de São Paulo em 2017. Tratava-se de destruir, propositalmente, os programas de assistência que existiam ali (que visavam a gerar moradia, emprego, renda, oportunidades de se reerguer, etc.), com o objetivo de desincentivar a permanência da população na Cracolândia. Não melhorando em absolutamente nada a situação de miséria, antes piorando, a ideia da política implementada por João Dória era forçar o deslocamento dos moradores de rua para os arredores.
A política de João Dória e Bruno Covas, agora levada adiante por Ricardo Nunes, diminuiu temporariamente a população na Cracolândia. No entanto, fracassou totalmente, visto que tal população já volta a crescer, em conjunto com uma explosão populacional nos arredores, trazendo consigo uma piora generalizada nas condições de vida tanto dos moradores da Cracolândia, quanto dos moradores de rua das proximidades.
Um detalhe intrigante é que a tentativa de migrar os moradores da Cracolândia para outras regiões era calcada, justamente, na destruição de todos os serviços que o Estado prestava para essas pessoas. Tal monstruosidade ainda se baseava em outro aspecto: como a ideia era tornar infernal a vida de quem lá se abrigasse, pelo meio do fim da ação do Estado para garantir o mínimo de dignidade e com a ação estatal para reprimir os moradores, também era necessário, para que tal política fosse levada às últimas consequências, impedir mesmo qualquer tipo de caridade.
E foi tal horror que os governos do PSDB e, agora, do MDB realizaram! Um caso famoso é o do padre Júlio Lancelloti, que foi perseguido e hostilizado pela GCM (Guarda Civil Metropolitana, aparato repressivo da prefeitura) por… entregar marmitas aos moradores de rua. A política do PSDB, que se provou completamente fracassada, exigia a repressão a quem tentasse realizar o mínimo de caridade. Eis a monstruosidade impetrada pelos senhores da “direita civilizada”!
E não se pode analisar essas políticas apenas por si, mas é preciso entendê-las como resultado da luta de classes, a base da compreensão marxista. A política que a direita, verdadeira funcionária da burguesia e dos patrões, implementa contra esse setor social (conhecido como “lumpemproletariado”, cuja definição é ser um setor marginalizado da sociedade, na mais completa miséria) é justamente a repressão. É de interesse da burguesia imperialista manter um setor da sociedade extremamente oprimido, negar-lhe as condições mais básicas de existência, justamente para chantagear os trabalhadores com a possibilidade de desemprego e de descenso na sua qualidade de vida ao ponto dos lumpemproletariados.
Apenas tal interesse histórico explica a política que o PSDB e o conjunto da direita exercem contra os moradores da Cracolândia, a política de repressão e de negação de absolutamente todos os direitos. São esses monstros que os setores confusos da esquerda apresentam como sendo “civilizatórios” (percebemos sua civilidade!), são eles a quem, para eles, a classe trabalhadora deve se aliar para “derrotar o bolsonarismo”. É preciso entender que, naquilo em que se diferem de Bolsonaro, eles se diferem para ainda pior, eles expressam a tendência de esmagar todo o conjunto do povo oprimido com ainda mais violência. A única aliança capaz de derrotar a política de fome dos patrões é a aliança dos trabalhadores da cidade e do campo por um governo operário e por Lula presidente. A classe social a que serve a direita possui interesse irreconciliáveis com os trabalhadores e, portanto, não há acordo com eles que seja capaz de derrotar o golpe de Estado e os resultados macabros deste, cujo um exemplo é a política de extermínio na Cracolândia.