Lula é o candidato antissistema das eleições de 2022. Isso é preciso ser dito. Quer dizer que, mesmo tentando se apoiar em setores da burguesia, Lula é, na realidade, apoiado por um setor da sociedade que questiona o sistema como ele é e clama por mudanças profundas. Esse setor da população cresceu com a polarização política causada pelo golpe de estado, pela prisão de Lula e pela eleição de Bolsonaro. A prova disso é a própria eleição de Jair Bolsonaro, candidato que disse questionar tudo o que estava aí, colocando-se de forma demagógica contra a “velha politica”, a qual, apesar de tudo, suporta hoje.
O caráter político de Lula não deve mudar mesmo com a presença de Geraldo Alckmin na sua chapa. Esse candidato, um verdadeiro Cavalo de Troia para a esquerda, deve ser usado no sentido de desmoralizar o ex-presidente Lula perante a sua base esquerdista. Contudo, a manobra não fará com que a direita passe a apoiar Lula e, muito menos, que o imperialismo passe a optar pela sua candidatura como a alternativa política para 2022.
Lula não deve ser apoiado pela burguesia. Sequer em situações de extrema crise política a candidatura do candidato representante do nacionalismo burguês brasileiro, o qual defende governos como Cuba e Venezuela, seria apoiada. Hoje as tensões internacionais são grandes e polarizam interesses entre EUA, China e Rússia. As crises em Taiwan, na Ucrânia e na Venezuela indicam um possível desfecho militar e exigem aliados bem definidos para cada lado. O Brasil de Bolsonaro e do golpe de estado é um país que apoia incondicionalmente os Estados Unidos. Caso Lula subisse ao poder, o panorama não seria tão claro assim.
A situação política na América Latina também indica que 2022 não será um novo 2002. Diferente da época da “onda cor de rosa”, hoje os resultados eleitorais na América Latina e no mundo indicam a tendência de direitização do sistema, pois o imperialismo já não suporta mais o nacionalismo burguês ─ uma vez que a experiência prévia das massas com esses partidos certamente as fez aprender que é preciso radicalizar, e não conciliar, com a burguesia.
A própria vitória de Gabriel Boric, no Chile, apesar de ter repercutido como um troféu para a esquerda, colocou no poder um elemento profundamente direitista, com estreitas ligações com o imperialismo. A crise econômica de 2008 que se aprofundou com a pandemia ocasionou em uma situação de grandes convulsões populares nos últimos anos. A fome e a pobreza crescem no passo do desemprego, que avança à medida em que a burguesia aumenta os juros e a taxa de endividamento da população.
Apesar disso, os grandes confrontos populares ainda não ocorreram e a classe operária se mantém inerte desde o grande afluxo de mão de obra chinesa e do Leste Europeu nos anos 90, que ocasionaram um grande refluxo operário internacional rebaixando o valor da força de trabalho e assim levando muitos à desorganização sindical. Dessa forma, predomina a política de austeridade. A política de corte de gastos sociais, redução dos direitos da população e, nesse sentido, redução do espaço político para candidatos cujas bases populares confrontam essa política.
Na contramão, 2002 apresentava uma situação política que decorria de intensos enfrentamentos da classe operária com a burguesia no fim da ditadura militar. As greves do ABC nos anos 80, deram base para o surgimento de Lula no cenário nacional, a criação da CUT e do PT. Nesse sentido, a política direitista de Fernando Henrique Cardoso tinha uma oposição ainda muito ativa. Nos anos seguintes à eleição de Lula, o refluxo operário deu aos sindicatos da CUT o controle pela burocracia burocracia, que estacionaram a luta.
Apesar das mobilizações de 2021 contra o governo Bolsonaro, a situação política não se radicalizou o suficiente e tende desembocar nas eleições definidas por um profundo controle da burguesia. Controle esse que deve refletir numa luta encarniçada contra a candidatura de Lula e o possível apoio a Bolsonaro por parte da burguesia.