Ao passo que a campanha da imprensa burguesa em torno da candidatura de Geraldo Alckmin, como vice de Lula, aumentou no último período, a resposta de importantes movimentos populares como também de militantes de base da esquerda contra a aliança com este setor da direita também passou a ser expressiva.
Alckmin é hoje o centro das atenções, seu jantar realizado no último domingo, contou com a presença de Lula e outros dirigentes da esquerda. A burguesia busca colocar um dos maiores nomes do golpe de estado, o ex-governador de São Paulo, como vice justamente da candidatura da luta contra o golpe, em uma campanha que visa controlar a candidatura de Lula.
A rejeição a Alckmin está em todo o movimento popular
Contudo, o que iniciou em tom de festividade pela suposta “aliança democrática” contra Bolsonaro, uma aliança comemorada pela imprensa burguesa e pela ala direita do Partido dos Trabalhadores, rapidamente tornou-se uma profunda crise no interior do partido e em todo o movimento popular.
Uma das primeiras e mais importantes declarações partiu justamente da presidenta do maior sindicato brasileiro, a APEOSP. Em um discurso dado na reunião do Conselho Estadual de Representantes do maior Sindicato do País, a presidenta da APEOESP, deputada do PT Maria Isabel Noronha (Bebel), disse que não prospera no PT a possibilidade de ter Alckmin como vice de Lula.
Além disso, a sindicalista e principal representante do movimento dos professores afirmou que caso isso ocorra irá retirar sua candidatura. Ela ainda apontou que considera inadmissível para os professores e todos os servidores públicos uma aliança com uma figura que entrou para a história como um brutal repressor dos trabalhadores em São Paulo.
Geraldo Alckmin é ex-governador do estado de São Paulo e um dos principais nomes do PSDB em sua história recente, tendo concorrido à presidência, contra o próprio Lula. A política de Alckmin, assim como todos os tucanos, sempre foi de pura repressão aos trabalhadores, esmagando diversas greves de professores em São Paulo, o que rendeu inclusive charges comparando-o com os nazistas.
Dentro do PT, outro importante setor se colocou abertamente contra a aliança com Geraldo Alckmin. A corrente Articulação de Esquerda, em um texto assinado pela sua principal liderança, Valter Pomar, atacou o que chama de “operação chuchu”, como uma forma de não só destruir o PT mas todo o Brasil.
Segundo Pomar, “infelizmente, se a operação chuchu der certo, o sacrifício não será do PT, mas sim da presente e atual oportunidade de transformar profundamente o Brasil num sentido favorável à maioria do povo.” Além disso, Pomar afirma a inviabilidade da conciliação com estes setores da burguesia: “na América Latina, entretanto, todas as tentativas de fazer pacto semelhante tiveram curta duração e terminaram em ciclos de ditadura, golpe, repressão, retrocesso.”
A Articulação também pontuou que “Alckmin não é um democrata e uma aliança com ele só constitui uma ‘revolução republicana’ para quem está sob efeito dos poderes do chuchu. Ou para quem, perfeitamente sóbrio, defende desde sempre ‘virar a página do golpe'”, demonstrando a profunda crise no interior do partido.
Recordações pic.twitter.com/BnM0E96g8d
— Rui Costa Pimenta (@Ruicpimenta29) December 19, 2021
Alckmin é Temer
A rejeição a Geraldo Alckmin é tão grande que foi transformada até mesmo em cordel pelo colunista do Brasil 247, José Pessoa de Araújo, em um texto intitulado “Não queremos mais um Michel”.
Comparando Geraldo Alckmin com Michel Temer, Pessoa coloca que
“Alckmin é o Michel
Com discurso diferente
O sonho desse tucano
É um dia ser presidente
Não confio no chuchu
O seu passado não mente”
Denunciando a operação golpista tucana, da qual Alckmin participou ativamente, José Pessoa coloca que, mesmo disfarçado sob a fantasia “democrática” de luta contra o fascismo, Alckmin e sua corja são os mesmos golpistas de sempre:
“Aécio foi responsável
Pela desgraça atual
Derrubou Dilma Rousseff
É escroto imoral
Foi protegido do Moro
Esse ex-juiz venal”
Por fim, o colunista destaca a necessidade de Lula ter um verdadeiro vice ligado à luta dos trabalhadores.
“O vice do Lula precisa
Com ele ser afinado
Ser esquerda de raiz
Leal e bem preparado
Não queremos mais um “Michel”
Que foi um traidor safado”
A ultima edição do Jornal Causa Operária já esta nas ruas! O jornal mais antigo da esquerda segue em sua campanha de defesa incondicional de Lula presidente e um governo dos… pic.twitter.com/TvXcMOywZa
— PCO – Partido da Causa Operária (@PCO29) December 20, 2021
É preciso defender um vice ligado a luta dos trabalhadores
Outro dirigente importante da base petista, André Constantine, dirigente estadual do PT no Rio de Janeiro, denunciou em declaração ao Diário Causa Operária, que Geraldo Alckmin “é uma imposição da burguesia nacional, do mercado financeiro, do imperialismo e da imprensa golpista, um famoso presente de ‘grego'”, se colocando frontalmente contra a sua participação na candidatura de Lula.
Assim como apontou o cordelista Pessoa, Constantine também destaca que na base petista “iremos intensificar a luta orgânica no interior do partido, para junto a direção nacional defender um vice de base popular”.
Toda esta crise demonstra a enorme impopularidade da ideia de tornar Geraldo Alckmin vice de Lula. A péssima recepção pela base dos movimentos populares obrigou inclusive a um breve recuo da ala direita do PT na realização desta iniciativa. É preciso denunciar Alckmin e não aceitar esta imposição do golpe contra Lula e os trabalhadores. A chapa de Lula deve ser uma chapa de luta contra o golpe, com um vice que represente a luta popular, e não um golpista.