É preciso radicalizar!

“Revolução republicana” é um filme de terror repetido

A política internacional apresenta o exato oposto do que o que é dito pela Folha de São Paulo e pelo politólogo Mathias Alencastro

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O cientista político Mathias Alencastro escreveu uma matéria para a Folha de S. Paulo na qual apresenta a ideia de que a união entre Lula e Geraldo Alckmin e a federação partidária entre PT e PSB são uma “revolução republicana” (sic) e o segredo para a vitória da esquerda contra a direita tradicional e a extrema-direita.

Segundo Alencastro, analisando a atividade política recente pelo mundo, podemos dividir a esquerda entre o que ele denomina como sendo a “esquerda de ruptura”, que não quer alianças com o sistema, e a “esquerda de coalizão”, mais adaptável ao regime e capaz de realizar alianças com outros setores, mesmo que isso represente uma perda de protagonismo por setores encarados como sendo hegemônicos, caso do PT e de Lula no Brasil.

A matéria aponta que dentre a dita esquerda de ruptura estariam os partidos Podemos da Espanha, Die Linke (A Esquerda) da Alemanha, o Syriza da Grécia, personalidades como Bernie Sanders do Partido Democrata dos EUA, Jeremy Corbyn do Partido Trabalhista e Jean-Luc Mélenchon na França. Já a esquerda de coalizão se materializaria no Partido Socialista de Portugal, que governa o país e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE).

Em primeiro lugar, é necessário apontar algo óbvio, apesar de que muitos setores da imprensa burguesa (muito até para fazer propaganda contra a esquerda) e da própria imprensa da esquerda apontem, que é o fato de que a dita “esquerda de ruptura”, não é de fato uma esquerda de ruptura. Muito pelo contrário, partidos como PSOL, Syriza, Die Linke e Podemos não passam de uma direitização da esquerda que já existia antes, apresentando um discurso mais radical, mas tendo um entrelaçamento ainda maior com o imperialismo do que os setores de esquerda que eles dizem se contrapor.

O caso mais aberrante dessa relação entre esses setores da esquerda pequeno-burguesa e o imperialismo está na Grécia, já que o Syriza após ganhar as eleições no país, em meio a uma verdadeira insurreição dos trabalhadores contra a política de fome imposta pela União Europeia ao país, passou a atacar a própria população utilizando de uma política alinhada com os bancos internacionais responsáveis pela fome no país.

Já no que diz respeito a personalidades como Jeremy Corbyn e Bernie Sanders, o caso é outro. É importante ressaltar que as duas figuras não são o mesmo que os demais, representando na realidade um maior enfrentamento com a política imperialista, o que levou não só a uma intensa campanha da imprensa burguesa contra ambos (o que não acontece com os demais partidos), como também fez com que a burguesia tomasse providências para que eles não ganhassem as eleições.

Diferente do Syriza, por exemplo, Bernie Sanders sofreu um golpe dentro do Partido Democrata nas prévias eleitorais em 2020, com todos os demais candidatos do partido abdicando e se unindo a Joe Biden para que Sanders não fosse para as eleições, o que geraria uma debandada do Partido Democrata para o lado de Donald Trump, o exato oposto do que de fato ocorreu nas eleições, quando setores do Partido Republicano decidiram apoiar Biden. 

Caso parecido ocorreu com Jeremy Corbyn e o Partido Trabalhista. Apoiado nos setores sindicais e estudantis, Corbyn conseguiu o controle de seu partido e se candidatou em 2019 ao cargo de Primeiro Ministro. Amplos setores do próprio partido, estes sim, mais parecidos com o PSOL do que Jeremy Corbyn, decidiram abrir uma campanha contra o próprio partido e o próprio candidato, campanha essa que girou muito em torno do “antissemitismo”, justamente pela postura correta de Corbyn de defesa da Palestina.

Já do ponto de vista do que Alencastro chama de “esquerda de coalizão”, o analista também erra. Isso porque partidos como o SPD alemão, o PS português e o PSOE espanhol e toda a esquerda do regime político europeu são o braço esquerdo do imperialismo há mais de 100 anos, não se caracterizando como um fenômeno recente para que o estudioso da política possa dizer que “a”esquerda de coalizão” surgiu como contraponto à “esquerda de ruptura’”. Um argumento como esse seria o mesmo que dizer que uma mãe surgiu de um filho e não o contrário.

Outro ponto interessante de se notar na matéria de Alencastro é o resultado de cada uma das políticas apresentadas. O autor busca apresentar que a ruptura com o sistema político tende a fragmentar a esquerda e causar sua destruição, enquanto a coalizão com elementos direitistas permite que a esquerda seja vencedora.

Bom, tirando o fato de que garantir que uma esquerda com uma política da direita seja vencedora não anima a população para nada, além de não mudar substancialmente a vida do povo, não há base para o que Alencastro busca apresentar. Isso porque o que levou ao declínio os partidos e elementos de esquerda que se dizem de ruptura foi justamente sua incapacidade de não romper com o sistema político.

Já dissemos do caso da Grécia, em que o Syriza sendo do governo poderia levar uma política de enfrentamento com a UE e os bancos internacionais, mas preferiu atacar o povo ao lado da burguesia. Na Espanha, o Podemos entrou no governo do PSOE e o alemão Die Linke nunca se mostrou uma alternativa viável ao SPD para os trabalhadores.

Em Portugal, o que levou a uma queda gigantesca do Bloco de Esquerda (BE), outro partido que poderia ser chamado de “esquerda de ruptura” por sua proximidade ao Die Linke, ao Syriza e ao Podemos, com grande capacidade de ataque ao PS, naufragou justamente pela elogiada “Geringonça” descrita por Alencastro. No entanto, Alencastro preferiu omitir que o fato de que o BE vêm perdendo espaço em Portugal justamente pelo contrato que fez para apoiar o PS. O mesmo ocorre com o Partido Comunista Português, que também fez parte da Geringonça.

Até mesmo Jeremy Corbyn e Bernie Sanders perderam justamente por sua incapacidade de romper definitivamente com o imperialismo. Corbyn resolveu dar um passo para trás em relação ao Brexit, enquanto Boris Jhonson impulsionava a saída do Reino Unido daquilo que era visto pelos trabalhadores locais como sendo a união em torno dos bancos, do capital financeiro internacional e os culpados de sua desgraça: a União Europeia.

Já Sanders, que teve uma verdadeira campanha militante e que havia conseguido todo seu financiamento por meio de doações obtidas através de uma campanha de porta em porta, naufragou por sua incapacidade de denunciar (e até de entender) o golpe que vinha levando dentro do Partido Democrata e o fato de ter apoiado Biden nas eleições.

Outro ponto que demonstra a falha no argumento de Alencastro é o fato de que a extrema direita vem crescendo em todo o mundo justamente por apresentar sua política como sendo “antissistema”.

Sendo assim, a política de coalizão por parte de Lula e do PT em relação com elementos do golpe de estado de 2016, PSB e Alckmin, não é uma política de fato vencedora. Seria necessário enfrentar o golpe de estado e enfrentar a política imperialista para o país de fato, não com um discurso inflamado contra a coalizão, mas realizando a coalizão. É necessário romper de fato com a burguesia e o imperialismo, com uma agenda de mobilização nacional por um programa de luta dos trabalhadores contra suas mazelas e contra a exploração imposta pelo imperialismo ao país, com um programa que anime amplos setores da sociedade a embarcar na luta política.

Caso o contrário, continuaremos cometendo os mesmos erros do passado, embora grandes estudiosos tentem apresentar o fato como sendo uma grande novidade.

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