Neste último sábado, dia 17 de dezembro, se deu mais uma Análise Política da Semana com Rui Costa Pimenta, a principal análise política da esquerda nacional. O destaque da semana foi, como sempre, a questão central na situação política do momento, para esclarecer militantes e simpatizantes do Partido sobre como atuar e analisar a situação, identificando com precisão aquilo que é primário e o que é secundário, inclusive explicando a importância de fazer isso durante a própria análise, ao comentar sobre os analistas da esquerda.
Ato do dia 12/12 e o movimento nacional pelo Fora Bolsonaro
O companheiro Rui, nesta última edição, iniciou dando destaque ao Ato Nacional por Lula Presidente e Fora Bolsonaro, realizado pelo Bloco Vermelho na Avenida Paulista, no último domingo. A caracterização foi de uma vitória, tendo em vista a campanha intensa, que em si representou uma vitória, especialmente considerando que:
“Nós, num certo sentido, estamos nos contrapondo à tendência predominante nesse momento na esquerda, que é de só retomar algum tipo de atividade política e, mesmo assim, de baixíssima identidade, em março. Até houve uma reunião da Frente Brasil Popular onde colocaram que a próxima atividade grande, segundo eles, seria no dia 8 de março”, tendo sido o último ato unitário no início de outubro, dia 2. Ou seja: “outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, quase meio ano de paralisia total”.
O ato do dia 12 de dezembro foi convocado justamente em oposição a essa política, uma capitulação vergonhosa por parte da quase totalidade dos partidos da esquerda nacional. Partidos esses que participaram das mobilizações até outubro e então decidiram por enterrar a luta pelo Fora Bolsonaro. A paralisia da esquerda está prevista para durar oficialmente por 5 meses, quase um semestre, mas o Bloco Vermelho não foi consultado sobre esse quesito e, como bem colocou o companheiro: “Não aceitamos isso de suspender a mobilização por metade do ano.”
A parte capituladora da esquerda adotou esta posição inaceitável porque, justamente, estava usando os atos para buscar uma aliança com a direita golpista, chamada por alguns de “democrática”, “científica”, entre outras mentiras para buscar confundir o movimento, os militantes e ativistas. Convidaram o abutre Ciro Gomes, João Doria e toda a escória do PSDB além de outros setores da direita para os atos, contudo, a base das manifestações repudiou com força, hora vaiando e xingando, hora jogando lixo e em determinados momentos escorraçando, botando para correr os elementos da direita. O fato em questão pôs em crise a relação desses partidos com a direita, que ser chamada para os atos era completamente rejeitada, e então, portanto, a alternativa seria não chamá-la. O setor frenteamplista na esquerda não aceitou. Para seu acordo com a direita ser bem sucedido, precisava usar os atos para lavar a reputação da direita, dos golpistas, da escória nacional. Buscavam usar os manifestantes como gado para dar legitimidade àqueles responsáveis pela fome hoje de mais da metade do povo brasileiro. A farsa foi derrotada, não passou nem por um instante, inclusive pela ação constante do próprio Bloco Vermelho.
Desde o princípio colocamos que deveria ser levada aos atos a questão do Lula, porém, “fora o PCO e o próprio PT, nenhum partido se pronunciou sobre o tema até agora”. Dizem que é necessário unificar todo mundo — até o Fernando Henrique Cardoso, destruidor do país — contra Bolsonaro, mas o único candidato para derrotar Bolsonaro é o Lula. Ao mesmo tempo, enquanto para se unificar com a direita a frente ampla não impõe barreiras, para apoiar o Lula, essa parte da esquerda passa a impor “questões programáticas”, demandas por cargos e toda sorte de coisa, caracterizada pelo presidente do PCO como “uma farsa total.”
“A ‘luta contra o fascismo’ se mostrou como uma completa farsa”
O companheiro foi além em sua condenação dessa ala da esquerda:
“Cai a máscara da ideia de que são movimentos democráticos que querem mobilizar a população, são movimentos de luta, são movimentos dos trabalhadores. Não tem nada disso, é tudo na verdade uma manipulação da opinião para servir a propósitos de tipo eleitoral. Isso daí é um problema muito grave.”
Entrevista de Zé Dirceu para Breno Altman
O segundo tema abordado na análise do companheiro Rui, relacionado ao primeiro, aborda a posição do Partido dos Trabalhadores na situação política. A caracterização da coisa é feita a partir de entrevista concedida pelo quadro de destaque do PT, Zé Dirceu, para o jornalista Breno Altman.
Rui Pimenta inicia destacando o ponto de virada na entrevista, destacando que o caráter desta, estava otimista, positivo, até a pergunta de Altman sobre se a burguesia assimilaria um governo Lula, ou se faria como com a Dilma em 2014. Neste ponto, a conversa mudou de tom, e Dirceu admitiu que, de fato, essa questão é um problema. Colocou inclusive que, se não houve um golpe militar, foi porque não houve grande resistência ao golpe. Como disse o companheiro Rui, se desfez o sonho cor de rosa de que Lula ganharia a eleição e estaria tudo bem.
O companheiro explica que, afinal, pela força da burguesia “Se nem mesmo Bolsonaro conseguiu de fato governar, por que Lula conseguiria?”. Mais que isso, expôs que “Na entrevista, Zé Dirceu enfatizou bastante que o PT precisaria ter maioria no congresso. Supondo que isso ocorresse, uma maioria no congresso seguraria o golpe? De jeito nenhum, simplesmente que o golpe não vai passar pelo congresso, só isso.” Criticou então os analistas da esquerda, que não sabem diferenciar aspectos principais de secundários e retornou à verdadeira questão central: “Quem vai segurar o golpe, as forças armadas?” Caracterizando-as em seguida: “As forças armadas tem duas alas, as duas muito direitistas. Tem a ala general Heleno que é bolsonarista e tem a ala Sérgio Etchegoyen que é PSDBista vamos dizer assim. Os dois são igualmente truculentos, os dois são capazes de dar um golpe de estado militar, os dois apoiaram o golpe de estado que foi dado contra a Dilma, os dois são igualmente fascistas.”
O companheiro Rui não só jogou contra a parede as ideias confusas da esquerda pequeno-burguesa, mas ofereceu a resposta para a questão: “Quem que vai segurar o golpe? A mobilização popular, as organizações operárias, as organizações populares, as organizações estudantis, as organizações dos trabalhadores sem terra, os trabalhadores sem terra, os estudantes, os trabalhadores da indústria, do serviço público etc. Esses que são a única possibilidade que o golpe seja detido. […] Na América Latina, nos lugares em que os golpes foram detidos, foram esses setores que barraram os golpes. […] Tudo que mudou na situação dos países latino-americanos, para ficar aqui só nessa região, foi produto da ação das massas.”
Adentrando mais no ponto dos elementos primários e secundários, o companheiro Rui definiu como encarar o problema institucional, pegando de exemplo o comentário de Dirceu sobre a maioria parlamentar: “A relação de forças no interior das instituições é um reflexo, ainda que deformado, da relação de forças real, ou seja, do confronto entre o povo e a classe dominante. A eleição é um reflexo, não é um fator ativo fundamental.”
Vice do Lula
Chegando de maneira específica ao tema das eleições, Rui Costa Pimenta coloca sobre a questão do vice de Lula que a burocracia do PT busca impor uma candidatura que ninguém quer, o mesmo que em 1989, quando o PCO foi expulso do PT por se opor a manobra semelhante, quando colocaram de vice do Lula outra quadro da direita, José Paulo Bisol, também PSDBista, que também se filiou ao PSB para disfarçar seu caráter de direita. O que os trabalhadores querem hoje, como queriam então, é um vice que seja, realmente, do movimento popular.
Terceira via
A terceira via, Rui comentou, ainda é uma alternativa. O fato é observável na propaganda feita pela imprensa burguesa da popularidade de Lula e de sua vitória certa contra Bolsonaro. A burguesia busca chantagear a base bolsonarista, fazendo pressão inclusive psicológica sobre ela, e se utilizando de Lula para isso. Além desse ponto, pela situação da terceira via e pelo desenvolvimento da coisa, o companheiro destacou ter a impressão de que a burguesia ainda tem um candidato não revelado na manga, e que o lançará mais para a frente, em cima da eleição, de modo que não se haja tempo de fazer uma campanha contra o elemento. Disse que a coisa não é certa, mas que tem a impressão de ser isso o que ocorre.
Fraude eleitoral
O companheiro Rui comentou ainda sobre a situação das eleições no ano que vem. O ministro do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, responsável por garantir e administrar a fraude nas eleições, será presidido no ano que vem pelo ministro Edson Fachin, um lava-jatista de destaque, ala direita do TSE. As restrições à campanha eleitoral estarão, portanto, em mãos capazes.
Mais que isso, os militares estarão responsáveis pelo controle técnico das urnas, sob o general Fernando Azevedo, que rompeu com Bolsonaro, ou seja, compõe agora a ala majoritária da direita nacional, a mais pró-imperialista. Nesse sentido, as eleições estão em franca ameaça, e a mobilização é urgente.
Guilherme Boulos, a participação na imprensa burguesa e a desorientação da esquerda
Fechando a análise da semana, Rui Costa Pimenta fala um pouco sobre Brian Mier, e um comentário do jornalista sobre a questão da participação da esquerda na imprensa burguesa. Mier coloca em igualdade o trabalho de uma figura política da esquerda, Guilherme Boulos, de ser um assalariado da Folha de São Paulo, de literalmente trabalhar na imprensa golpista, enquanto apoiando o golpe e atacando o governo do PT, e a participação do Partido da Causa Operária, na figura primeiro do próprio Rui, e depois da companheira Natália Pimenta na Jovem Pan, como entrevistados. Por óbvio é um confusionismo, ser entrevistado, pontualmente, enquanto nada se recebe por isso, apresentando sua política própria e contra o golpe, é uma coisa. Ser um assalariado da imprensa burguesa, e trabalhar ativamente a favor do golpe, tanto dentro como fora dessa imprensa, é outra. Guilherme Boulos trabalhou e ainda trabalha em conjunto com a imprensa burguesa para atacar o Partido dos Trabalhadores. Nesse sentido, sua política é um elemento estranho ao movimento de luta da classe operária, enquanto ele próprio é um assalariado indireto do imperialismo.