Às vésperas do 20 de novembro, dia de luta do povo negro, um acontecimento chamou a atenção: uma liderança negra da esquerda; um militante do Partido dos Trabalhadores, que desenvolve um importante e combativo trabalho de base nas favelas e comunidades do Rio de Janeiro e do país, teve sua imagem exposta como se fosse um “criminoso” por um veiculo de comunicação.
E não foi na imprensa capitalista tradicional com seus programas pinga sangue, ao estilo do Datena e outros do mesmo naipe, que se deu o grotesco espetáculo, mas justamente em um veículo de comunicação supostamente progressista. No dia 19 de novembro, em uma live do Diário do Centro do Mundo (DCM), seu diretor, Kiko Nogueira, mostrou um vídeo editado do companheiro André Constantine do PT, uma fala feita no programa Tição – programa de preto, da COTV – CausaOperáriaTV. no YouTube.
De maneira torpe, absurda, covarde, Nogueira afirmou ao vivo que a fala do companheiro Constantine tratava-se de uma ameaça de morte a ele próprio. O companheiro Constantine simplesmente tratava da diferença entre as posições revolucionárias e as oportunistas. Nogueira ainda foi mais longe e ameaçou de processo o companheiro do PT, além de afirmar que se tratava de uma ameaça morte do PCO, que seria o mandante, a ele. O Coletivo de Negros assim como o Partido da Causa Operária se solidarizaram de maneira incondicional com o companheiro Constantine e repudiam completamente a ação deletéria do DCM.
O fundo da questão
Porém, a questão aparentemente absurda, tem um fundo político. Tanto o companheiro André Constantine, quanto o companheiro Rui Costa Pimenta, presidente nacional do PCO, tiveram suas participações em programas de análise política no canal canceladas. Esse fato se deveu à denúncia muito bem fundamentada feita pelo PCO contra principalmente Guilherme Boulos (PSOL) por suas relações no mínimo insidiosas com setores da direita nacional, que por sua vez se relacionam com organismos imperialistas. Acrescenta-se aí as denúncias constantes, tanto de Rui Costa Pimenta, quanto de André Constantine as posições e aos elementos oportunistas na esquerda.
Para defender Boulos e outros setores da esquerda pequeno-burguesa que se relaciona com a direita, alvos da crítica política dos companheiros em questão, o DCM, que é incapaz de argumentar politicamente, lançou uma campanha baixa de calúnias contra ambos e contra o PCO. No entanto, aqui vemos os preconceitos raciais aflorarem. Para deslegitimar as posições políticas do companheiro Constantine, o DCM quis fazer passar, um homem negro; da periferia, militante, liderança popular, como se este fosse em realidade um “criminoso”, um fora da lei, valendo-se calculadamente dos estereótipos e do preconceito que o negro carrega contra si ainda hoje no país.
Classificou mesmo a linguagem de André, a linguagem da periferia, da população negra pobre, como de “bandido”. Utilizaram-se da perseguição implacável do Estado contra a população negra, do preconceito racial que este estimula, reafirmando-o, na tentativa de derrotar um adversário político. O DCM utilizou o método mais vil e repulsivo para impedir o debate político e atacar o adversário, valendo-se largamente do racismo na tentativa de deslegitimar seu adversário. Ameaçaram mesmo de utilizar o instrumento mais racista que existe no país contra Constantine, a polícia e o judiciário, tudo para impedi-lo de continuar denunciando, criticando e com isso promovendo um debate público sobre as diversas perspectivas políticas na esquerda.
Fica muito evidente, ao comparar o tipo de calúnia que o DCM fez contra Rui Costa Pimenta, um homem branco. Foram também baixos, no entanto, não cogitaram recortar falas do companheiro Rui para cinicamente acusá-lo de cometer um crime, nem classificaram-no como “bandido” pelo seu modo de expressão.
Fica evidente também, o grau de falsidade da política do identitarismo, os mesmo que dizem defender a diversidade, que festejam o negro e sua importância, no momento seguinte não se constrangem nem um pouco de contar com o auxilio do racismo para tentar destruir um adversário político.
Chamamos todas as organizações da população negra a repudiar esse método e a se solidarizar com o companheiro Constantine.