A situação da rede mundial de computadores é deplorável. É tão crítica que, recentemente, os navegadores introduziram um “modo de leitura“.
Um leitor desavisado pode imaginar, pelo nome, que essa tecnologia transforma um vídeo ou áudio em um sítio qualquer em texto. Não, companheiros, essa não é a funcionalidade que vai nos poupar de procurar o ponto de um vídeo tutorial de 20 minutos que explica como se faz uma captura de tela no Windows. Não, não se trata disso.
O modo leitura é para sítios que veiculam texto. Mas porque um conteúdo textual precisaria de um modo leitura? Bom, quem faz essa pergunta não acessa a internet desde 1998.
A quantidade de lixo presente em páginas de órgãos tradicionais da imprensa como o próprio UOL, do grupo Folha, é absurda. Para evitar ambiguidades, não me refiro ao conteúdo das matérias. Me refiro à quantidade de propagandas e coisas piscando em todos os lugares.
Há propaganda, inclusive, no meio do texto, interrompendo a leitura. Muitos sítios se viram obrigados a colocar um aviso: “o texto continua depois da propaganda”. Tudo isso, aparentemente, para supostamente viabilizar financeiramente essas páginas na internet.
Além da propaganda, há o famoso “paywall”. Um bloqueio imposto a não assinantes do sítio, forçando o usuário a pagar para ler. E depois reclamam que vamos nos “informar” nas redes sociais…
Nesse quesito, porém, há um dilema interessante. Para que as páginas sejam indexadas por buscadores como o Google, os robôs que as analisam – para calcular sua relevância em comparação com certas palavras buscadas – precisam conseguir acessá-las. Do ponto do usuário, então, o que acontece é que a página é carregada completamente e um bloqueio é rapidamente exibido após o processo.
Há muitas formas de burlar isso. É possível desativar a execução de JavaScript na página, é possível interromper seu carregamento ou, é possível usar o glorioso modo leitura para texto! Os dois primeiros métodos são um pouco inconvenientes para usuários não técnicos, mas acredito que o modo leitura seja simples de ativar.
De qualquer forma, me surpreende que haja um modo leitura para publicações na internet. O princípio da rede de computadores era a troca de informação textual entre múltiplas partes. O “avanço tecnológico” criou páginas ilegíveis e eu estou longe de ser o único a reclamar disso.
Boa parte das extensões instaladas no meu navegador servem para contornar o inferno que se tornou a internet. Bloqueadores de propaganda. Substituidores de tags do youtube por vídeos HTML convencionais. Desencurtadores de URL. Uma ferramenta que automaticamente rejeita todas as permissões de uso de cookies desnecessárias requisitadas em todo lugar (moro na Europa e desde a aprovação da RGPD, esse pesadelo me persegue em todo lugar).
A saída proposta pelos capitalistas para essa loucura é uma tal de web3.0. Não me aprofundei no tema, mas vi as palavras-chave blockchain, NFT, inteligência artificial e metaversos. Foi o suficiente para me assustar. Se continuar desse jeito, vou me tornar um ermitão digital. Eu só queria ler e buscar texto.