O identitarismo, imposto pelo imperialismo sobre a esquerda, fez com que setores da pequena burguesia de esquerda, liberal, tenham se tornado os maiores defensores do regime político burguês. Em última instância, os maiores defensores da lei e da ordem.
Isso os coloca em contradição com os interesses dos trabalhadores. Os trabalhadores não estão interessados em lugar de fala, em linguagem neutra, em veganismo.
Nas favelas e nos bairros operários, algumas das cenas mais comuns são grupos de vizinhos confraternizando-se por qualquer coisa e fazendo um “churrasquinho de gato”. Ou soltando rojões, às vezes sem motivo nenhum, mesmo que de madrugada. Ninguém está preocupado com a sensibilidade auditiva do seu “pet”.
Na periferia, “viado” praticamente não é xingamento. Todo mundo usa com os amigos. O mesmo vale para “negão”. Ou “gordo”. A mulher não está preocupada se alguém vai se dirigir a um grupo de pessoas e falar “amigos e amigas” ou “amigues”.
Essas pessoas não vivem em um conto de fadas. Quem se preocupa com essas besteiras nunca pisou numa favela, num morro. Vive anos luz da realidade da imensa maioria da população, esmagada diariamente pela exploração do patrão, do governo, da polícia. Essas pessoas não podem se dar ao luxo de se preocupar com idiotices como lugar de fala e gênero neutro. Estão passando fome, não têm acesso à saúde e educação, seus barracos estão infestados de ratos e quando chove se encharcam.
A classe operária quer comida na mesa, quer emprego, quer churrasquinho no final de semana na laje. Quer comprar um carro porque está cansada de ficar de pé por duas horas em ônibus lotado porque o governo não aumenta a frota, apesar do preço absurdo da passagem.
Quando o PCO é acusado de ser machista, misógino, homofóbico, racista, gordofóbico, especista, negacionista ou ─ pasme, leitor ─ bolsonarista (!), é porque se recusa a escapar da realidade e ir viver em um mundo de fantasias, o mundo ideal, o mundo onde a classe média não enxerga nada além do próprio umbigo, um mundo em que ela é a todo-poderosa que transforma tudo para ficar à sua imagem e semelhança.
Os militantes do PCO vivem no mundo real. Muitos deles vivem exatamente nos mesmos lugares descritos logo acima, nas favelas, nos morros, na periferia. Quando o PCO defende o direito irrestrito ao armamento de toda a população é porque vê os camponeses pobres de Rondônia sendo exterminados pelos jagunços de latifundiários ou os moradores do Jacarezinho sendo massacrados pela polícia.
Quando o PCO defende que todo e qualquer indivíduo tenha o direito de falar o que quiser, de xingar, de ofender, de se expressar livremente, é porque liga a televisão ou vai na banca de jornal e não vê nenhum canal ou nenhum jornal pertencente a alguma organização popular. É porque seus quadros e militantes estudam a história da humanidade e sabem que houve um tempo em que nenhum cidadão podia questionar a Igreja ou o rei sem ser queimado na fogueira ou pendurado em uma forca. Ou quando até mesmo o riso era punido pelo Estado todo-poderoso. Quando o PCO defende que todos ─ dos nazistas aos comunistas ─ possam manifestar seu pensamento, é porque seus membros viram a notícia de uma mulher que foi presa por chamar de “filho da puta” um presidente ilegítimo que matou 600 mil pessoas e continua impune.