O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) ficou em 1,17% em novembro, a maior alta para esse mês desde 2002. O índice funciona como uma prévia da inflação oficial e já acumula alta de 9,57% em 2021. Nos últimos 12 meses, já acumula uma alta de 10,73%, maior valor para esse intervalo desde 2016.
A escalada de aumentos nos valores dos combustíveis, estimulada pela política de preços da Petrobrás, contribui muito para a disparada da inflação. Nos últimos 12 meses, a gasolina aumentou em 48%, o etanol em 62,56% e o diesel 48,12%. A dependência quase que exclusiva do transporte rodoviário no país faz com que esses aumentos sejam repassados ao conjunto das mercadorias.
Ao mesmo tempo, a imensa maioria dos trabalhadores estão sem reajustes salariais, além do enorme contingente de desempregados ou subempregados. Essa combinação de arrocho salarial com inflação galopante diminui dramaticamente o poder de compra do trabalhador, impactando as condições de vida de sua família. É um problema recorrente no capitalismo e não por acaso uma das tarefas principais dos sindicatos é mobilizar a categoria que representa para conquistar reajustes anuais dos salários.
Sindicatos “universitários”
Assim como ocorre nos partidos políticos da esquerda pequeno-burguesa, os sindicalistas parecem mais antenados na esquerda “bem pensante” universitária do que nos trabalhadores. Enquanto falta alimento na mesa daqueles a quem representa, muitos sindicatos se preocupam em “iluminar” os trabalhadores com a “sabedoria” identitária.
Por ocasião do Dia da Consciência Negra, sindicatos que se mantiveram fechados durante a maior parte da pandemia promoveram atividades sobre “igualdade racial”, “visibilidade negra” e outros temas similares. No entanto, deixam de lado justamente uma questão concreta e imediata que prejudica os trabalhadores negros e que é papel do sindicato combater, a corrosão dos salários.
Por mais que em alguns casos essas iniciativas estejam carregadas de boas intenções, para a maioria dos trabalhadores isso aparece como algo deslocado da sua própria realidade. Racismo, machismo e homofobia são problemas reais, porém as respostas identitárias a estas questões só ajudam a oprimir ainda mais os mais oprimidos.
Confrontados com a deterioração das suas condições materiais para sobreviver, os trabalhadores tendem a se afastar de sindicatos que não lutam por aumento dos salários enquanto tudo fica mais caro. Os sindicalistas precisam sair de casa e cumprir sua função. Só com muita luta os trabalhadores conseguirão reajustes para no mínimo manter seu poder de compra.