No último domingo (21) ocorreram as eleições chilenas. Os dois candidatos que passaram para o segundo turno foram Gabriel Boric (Convergência Social) e Jose Antonio Kast (Partido Republicano). A imprensa tem caracterizado como uma disputa entre a extrema direita e a esquerda no país. Kast sim, pode ser considerado um fascista muito mais que o próprio atual presidente do Chile, Piñera. No entanto, Boric, não passa de um direitista disfarçado de esquerdista, tipo Ciro Gomes no Brasil. A votação foi muito apertada, cerca de 2% foi a diferença entre um e o outro.
O pseudoesquerdita, frente amplista, Boric, ficou em segundo lugar com 25,80%, o representante da extrema direita Kast, com 27,92% dos votos. A esquerda tem se deteriorado em vários cantos do mundo, e abrindo caminho para todo tipo de populismo e falacia fascista. Ao invés de se radicalizar e se preocupar concretamente com as reivindicações populares, a esquerda frente amplista, trilha o caminho da direita tradicional em busca de cargos eleitorais e benefícios particulares. Esse moderamento da esquerda diante das massas faz com que a demagogia dos direitistas radicais se aproxime da população mais esmagada.
Em 2019, tivemos vários levantes populares no Chile, inclusive de características revolucionárias. Neste momento estamos diante eleger um fascista no poder. Agora veja, a população saiu as ruas, quase colocou abaixo todo o regime criminoso de Sebastian Piñera. A esquerda por sua vez não apoiava as manifestações, a radicalização das mobilizações não representava esse setor politico do país, que vivem acoplada ao regime capitalista, refém das instituições da burguesia que não representa em nada as necessidades diárias da população pobre e oprimida.
Neste caso a esquerda foi usada pela burguesia para acalmar o povo que estava decidido a lutar até as ultimas consequências por suas reivindicações. Canalizaram a revolta popular para dentro das instituições apresentando uma constituinte farsesca de interesse total do regime. O movimento “Apruebo Chile digno e diversificado” sob uma forte campanha da imprensa imperialista, identitário, com pautas vazias tomava conta das ruas – “Apruebo” em relação a aprovar uma nova constituinte. A traição é clara, isso é o trabalho da frente ampla dentro das situações de desespero da burguesia, abafar o levante popular no enfrentamento ao neoliberalismo assassino, aplicado pelo imperialismo nos países atrasados. Ou seja, sufocar situações revolucionárias para proteger o parasitismo dos capitalistas, nacionais e mundiais.
De acordo com a correspondente Monica Souza, professora universitária, que vive atualmente no Chile, em entrevista para o programa Conexão América Latina exibido nesta terça (23) no canal da COTV, a situação aponta para um esvaziamento dos partidos de esquerda por parte da militância simplesmente por falta de uma conexão clara com as bases e a classe trabalhadora. “Eles não perceberam que a população estava na rua pedindo alguém que os represente sob uma perspectiva revolucionária, e esquerda não queria isso (…). As pessoas não se identificam com os partidos de esquerda pois eles não atendem as demandas da classe trabalhadora” – afirma Monica Souza.
Agora veja a sinuca de bico a qual a esquerda pequeno burguesa colocou a população. Escolher no próximo dia 19 de dezembro entre um fascista e um falso esquerdista que ambos não alterará em nada a crise catastrófica que passa a população chilena. Há todo um embrolho na imprensa imperialista dizendo que esta é luta entre a “democracia” e a “barbárie”. No entanto para a burguesia tanto faz quem irá se eleger, o regime politico será mantido, o modelo de exploração e ataque sistemático a classe operária do Chile vai continuar. O levante popular foi substituído pela farsa eleitoral.
É interessante também notar, que toda a capitulação da esquerda, se apossando das manifestações populares levando para campo institucional, deu tempo para que a burguesia e a direita pudesse se recuperar, buscar fôlego, se reorganizar, diante da polarização que se agudizava com as massas ruas, colocando fogo em prédios públicos e crentes de que poderiam enfrentar o braço armado do estado e tomar o poder. É uma mudança absurda, de um regime em frangalhos ao ponto de ser derrubado, para uma quase possível vitória eleitoral de um representante do que há de pior no meio politico.
Esse é o verdadeiro objetivo de toda a frente ampla nacional e internacional. No Brasil é visível para qualquer um que participou das últimas manifestações contra o governo fraudulento de Bolsonaro que a frente ampla, trabalha incansavelmente para controlar as mobilizações – se preciso destruí-las – afastar o carácter combativo dos atos, retirar o vermelho da esquerda e não apontar e nem reivindicar, nunca, de forma nenhuma, uma futura candidatura como a ex-presidente Lula, que confronte com o atual regime golpista e ditatorial, instalado de forma criminosa no Brasil à partir de 20216.