Em meio a uma notória campanha da imprensa golpista e de setores da esquerda – notadamente o pseudoesquerdista PSB – para impor Geraldo Alckmin (com minúsculos 4,7% de votos válidos) como candidato a vice-presidente na sua chapa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já aparece com a preferência de mais da metade do eleitorado, publicou nas suas redes sociais:
1 – Já tenho 22 vices… Enquanto ainda nem decidi se sou candidato. A escolha de um vice tem que ser levada muito a sério. Tem que ser alguém que some, e não que tenha divergência.
— Lula 13 (@LulaOficial) November 15, 2021
A declaração é uma clara reação de Lula à pressão que vem sofrendo dos mais distintos setores em favor de um vice golpista que atenda aos interesses dos que apresentam seus candidatos como se fossem os candidatos de Lula. Destaque-se que nenhum dos vices apontados na imprensa burguesa foram publicamente cogitados por Lula que, no máximo, reagiu com uma certa delicadeza, afirmando inúmeras vezes que nenhum dos nomes “convidados” tinha sido cogitado por ele, uma vez que – oficialmente – não teria sido indicado pelo partido como candidato, o que é dado como certo.
Até Lula de vice já propuseram
O uso e abuso em torno da composição da chapa da maior liderança popular e política do País é tamanho que não faltou nem mesmo o anúncio de que “setores” gostariam de ver Lula como vice em uma possível chapa encabeçada por um suposto candidato que unificasse a “oposição” (que não se opõe) a Bolsonaro mas o ajuda a aprovar todos os seus ataques contra os trabalhadores. Quem sabe João Doria (PSDB) ou Ciro Gomes (PDT), repetindo a fórmula desastrosa adotada na Argentina, onde – para atender à vontade da direita – a esquerda burguesa, o Partido Peronista indicou como candidato presidencial um elemento direitista – colocando a ex-presidente Cristina Kirchner, na vice-presidência -, o qual após vencer as eleições está realizando um governo com enormes concessões à direita, com ataques aos trabalhadores, e acaba de ser derrotado nas eleições parlamentares e regionais do último domingo (14).
A pressão por um vice golpista para Lula é parte integrante da política de desmoralização da sua própria candidatura. O caso da suposta candidatura de Alckmin é exemplar. Trata-se de um político amplamente repudiado pelos trabalhadores paulistas, e sem apoio real fora de SP, como se viu nas últimas eleições, e que sofre além do seu próprio desgaste o processo de falência dos partidos políticos da direita, amplamente repudiados pela população.
A campanha pela presença de Alckmin na chapa de Lula é uma parte de uma ofensiva que visa a desmoralização da própria candidatura de Lula, pois se vingasse ofereceria munição para setores da extrema-direita ganharem terreno junto à população, no sentido de apresentar a chapa de Lula como cúmplice da política de destruição do País e ataques aos trabalhadores encabeçada pelos tucanos ao longo das últimas décadas.
“Perna-de pau” na seleção!
Nomes como os de Alckmin e outros apresentados pela imprensa burguesa para ser vice de Lula, todos eles sem nenhuma vinculação com a luta do povo brasileiro, contra a fome, por melhores condições de vida para os trabalhadores etc., não contribuem, mas atrapalham a candidatura e mesmo um possível governo Lula.
A notória impopularidade de Alckmin (que tem apoio apenas nos setores reacionários dos aparatos do Estado e dos municípios por conta das quase três décadas de governos reacionários tucanos em São Paulo), equivaleria a colocar um “perna-de-pau” na seleção brasileira, apenas porque o dirigente da CBF ou a imprensa capitalista quer promover um determinado jogador em função dos seus próprios interesses ─ coisa aliás muito comum.
Pior ainda seria no caso em que Lula fosse eleito. Alckmin teria o mesmo significado ou pior do que tiveram outros vices golpistas “escolhidos” pelo PT, particularmente, como no caso de Michel Temer (MDB) colocado aí, justamente, para tramar – junto com Alckmin e o PSDB – contra as medidas do governo petista em favor da população e articular a favor do golpe de Estado que, por fim, o conduziu à presidência da República, após a derrubada – sem qualquer crime – da então presidenta Dilma Rousseff.
Figuras como Alckmin e outros candidatos prediletos da direita a vice de Lula trabalhariam, incessantemente, para deixar o governo completamente submisso ao capital financeiro internacional. Atuariam para minar totalmente a confiança popular no próprio Lula, desmoralizando-o ante seu eleitorado, que está ansioso por um governo não em favor dos capitalistas que apoiaram o golpe, mas sim em benefício dos trabalhadores.
O povo brasileiro quer votar em Lula. Mas quer votar em Lula para que quem governe seja Lula, seja o PT, seja a esquerda que luta nos sindicatos e demais movimentos pelas reivindicações populares.
Por um vice trabalhador, da luta contra o golpe
Lula não precisa (ao contrário do que dizem os golpistas) de alguém que atraia votos da direita, que não vai votar em Lula, nem que Bolsonaro fosse seu vice. A direita é justamente a organização dos que são contrários a Lula, aos trabalhadores etc. E vai ter seus próprios candidatos nas eleições e trabalhar, por todos os meios que tenha à disposição, para derrotar Lula. Se preciso, inclusive, com a sabotagem de sua campanha por dentro, com a colaboração de falsos aliados, como já ocorreu inúmeras vezes com o PT e com Lula.
Como disse Lula: um vice “tem que ser alguém que some, e não que tenha divergência”. Isto é, tem que ser alguém alinhado ao campo do cabeça de chapa, de seu partido e de sua base social e eleitoral. Em outras palavras, tem que ser alguém da esquerda, representante, assim como Lula, da classe trabalhadora.
O vice de Lula deve ser alguém que “some” e que não seja a expressão de “divergência”, como assinalou o próprio ex-residente. Para somar, é preciso estar afinado com aquilo que Lula representa para a imensa maioria do eleitorado e para os setores que – com sua mobilização – podem ser decisivos na derrota da direita e na eleição de Lula. É preciso um vice popular, militante, ativista, sindicalista, sem terra, alguém da CUT, do MST, da base do PT ou da esquerda. Como seria o caso de figuras como o dirigente nacional negro do MST, companheiro João Paulo, ou do ex-presidente da CUT, Vagner Freitas, dentre outros.
A luta para derrotar a direita e eleger Lula deve ser – para todo o ativismo classista – uma luta que sirva efetivamente para um avanço, para recuperar o retrocesso imposto pelo golpe e permitir uma evolução da luta dos trabalhadores em nosso País. Deve ser parte da luta por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo, que enfrente e derrote os grandes capitalistas e todos os políticos e partidos que representam seus interesses.