Trazemos aqui o relato de um leitor que assistiu, pelo buraco da fechadura, a uma consulta em um dos maiores consultórios do Largo da Batata.
Não sabemos quem eram o paciente, nem seu acompanhante, nem seu psiquiatra.
“Vamos lá. Você consegue me contar o que aconteceu?”
A boca até abriu. Mas não saiu som algum.
“Ele está sem falar até agora, doutor”.
“Entendo. Neste caso, pode falar por ele. Qual a relação entre vocês?”
“Amigos do peito, inseparáveis, desde a faculdade”.
“Certo. O que acontece com o nosso querido… Guilherme, é isso?”
“Isso. Ele está há uma semana sem falar praticamente nada. Não tem fome, não tem sede. Só quer ficar deitado, em posição fetal, chamando pelo pai”.
“Neste caso, deveria chamar um médico, não o pai”.
“Mas o pai dele é médico”.
“Dos bons?”
“Dos ricos”.
“Ah sim”.
“E também dos tucanos”.
“Imagino que trate muitos cavalos, então?”
“E vampiros sanguessugas”.
“Ele está em boas mãos, pelo que vejo”.
“Mas é que a doença dele, o pai não consegue curar. Precisamos de você”.
“Vamos lá, conte-me o que aconteceu”.
“Disseram que eu e ele somos financiados pela CIA”.
“E vocês são?”
Neste momento, passou o carro do ovo, e nosso leitor não conseguiu escutar a resposta.
“E o que vocês fizeram?”
“Arrumamos uma entrevista chapa branca para ele se defender”.
“E aí? O entrevistador era sacana?”
“Não. Sacana era o público”.
“Que público?”
“As centenas de pessoas que entraram ao vivo só para falar de uma teoria da conspiração contra nós”.
“Vocês mandaram bloqueá-los, imagino”.
“Não dava, era impossível. Eram como uma hidra, quanto mais atacávamos, mais apareciam pessoas para nos atacar”.
“O que fizeram?”
“Falei para ele sair da entrevista”.
“Como?”
“Ele falou que tinha um compromisso familiar”.
“Às dez da noite?”
“Num puteiro”.
“Num puteiro?!”
“Digo, no Congresso”.
“Encontro familiar no Congresso?”
“Encontro de famílias financiadas pela Global Americans no Brasil”.
“Mas não caberia no Congresso”.
“É verdade. Mas engoliram essa”.
O psiquiatra deu um trago em seu uísque. Ficou olhando para o fundo do copo por alguns minutos, até finalmente dizer:
“O caso é simples. Já sei o que fazer”.
“Graças a Deus. Diga, doutor, o que fazer, para que ele não seja mais chamado de traidor e de infiltrado na esquerda”.
“Simples. Filia ele no Podemos”.