Para fazer canalhice, toda liberdade e diligência do mundo; para defender os interesses do povo, toda burocracia, lentidão e enrolação possíveis.
Todo vigarista da política carrega isso como lema. Incapazes de falar honestamente o que pensam e qual política defendem, os políticos que conspiram contra o povo carregam o péssimo hábito de jurar aos quatro ventos que, no que dependessem deles, fariam tudo o que o povo quer. O único problema, o único, seria o partido do qual fazem parte. Quem vê falando, acha até que são soldados norte-coreanos, tamanha a disciplina partidária.
O mais novo malandro a dar esse golpe safado na praça é ninguém menos que Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL ao governo de São Paulo. Ao ser encurralado durante entrevista à DCM TV, quando perguntado sobre sua posição em relação à candidatura de Lula, eis que Boulos responde: por mim, apoiaria; só não o faço porque meu partido ainda não tomou essa decisão.
Quem conhece minimamente esse tal de PSOL sabe como funciona. É uma sigla que funciona como qualquer partido burguês, uma federação de candidatos sem programa. Ou, dito de outra forma, um trampolim para carreiristas conseguirem um gordo salário. Quem manda no PSOL são os seus parlamentares e seus caciques, e não sua base. É um partido sem princípios.
Ninguém melhor para provar isso do que o próprio Guilherme Boulos. Boulos foi anunciado candidato a presidente pelo PSOL em 2018 antes mesmo de entrar no PSOL, sem que as bases do partido fossem consultadas. E por que? Seria Boulos um grande representante do programa do PSOL para os trabalhadores? Não, simplesmente porque o grupinho que dirigia o partido à época decidiu, para atender aos seus próprios interesses eleitorais, trazer Boulos para a legenda.
Já no PSOL Guilherme Boulos assinou inúmeros manifestos com bandidos políticos, como Armínio Fraga e Fernando Henrique Cardoso. Novamente, o pré-candidato a governador não esperou uma conferência do partido para isso. No mesmo período, Boulos, sem qualquer consulta às bases do PSOL, decidiu sabotar os atos Fora Bolsonaro. E em ambos os casos, a troco de que? Tão somente de sua candidatura à prefeito de São Paulo.
Boulos conseguiu ser candidato a prefeito de São Paulo com a maior facilidade porque não enfrentou qualquer oposição real dentro do partido. Afinal, era impossível: Boulos já chegou a 2020 como o menino dos olhos de ouro da Folha de S.Paulo e da Veja, que promoveram sua figura sem medo de ser feliz.
Por que agora Boulos, que usou o PSOL a todo instante para os seus próprios interesses eleitorais, fazendo sua base de palhaço, estaria tão preocupado em discutir com o partido a posição sobre Lula? Porque Boulos, como todo vigarista político, não está nem aí para o partido, mas sim para arranjar uma desculpa para a sua posição. Boulos não apoia Lula abertamente simplesmente porque é contra a sua candidatura
O tal de “estou esperando o partido” é apenas uma tentativa de não se indispor com as dezenas de milhões de brasileiros que apoiam Lula, mas que Boulos quer que vote nele para o governo do Estado.
Além de canalha, a saída de Boulos para a pergunta feita no DCM é uma posição na atual etapa da luta contra a direita e o governo Bolsonaro. O dever de todos os dirigentes e militantes da esquerda não é o de votar em Lula daqui a um ano, mas sim travar uma luta em torno de sua candidatura. É preciso criar uma verdadeira mobilização, que garanta os direitos democráticos de Lula e que inviabilize qualquer tentativa da direita de fraudar as eleições. É preciso lançar a candidatura de Lula já.