Existe muita romantização da figura do índio no Brasil. Isso serve para que se encubra a situação desesperadora dessa nossa parcela da população que vive basicamente em um estado de mendicância. Mal têm acesso à saúde, a meios de subsistência, escolas. Vivem como verdadeiros párias praticamente indefesos, por isso são, com o acobertamento do Estado burguês, vítimas da sanha de latifundiários e toda sorte de aventureiros. As terras indígenas são constantemente invadidas por garimpeiros, madeireiros, grileiros, caçadores. Toda essa gente sempre está fortemente armada.
Nossos indígenas, não bastasse isso, estão sendo usados por identitários que fazem pirotecnia para promover algumas poucas pessoas em detrimento da luta real que deve ser travada. Em 24 de julho deste ano, tivemos em São Paulo a queima da estátua de Borba Gato, bandeirante que viveu no século XVII. Os autores da ‘façanha’ alegavam que não se pode homenagear um genocida de negros, indígenas e estuprador contumaz, pois isso vem causando sofrimento, hoje, trezentos anos depois, nos descentes de escravos. Tese curiosa, pois a esmagadora maioria da população paulista não faz ideia de quem tenha sido esse personagem da nossa história. Ninguém apresentou provas de que o antigo bandeirante tenha efetivamente promovido tais atrocidades, apesar de ter sido comparado a Hitler e a Mussolini, nas redes sociais.
Passado um mês, em 24 agosto, foi a vez do monumento ‘Descobrimento do Brasil’ na qual figuram Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de Caminha e Frei Henrique de Coimbra no Rio de Janeiro. Nenhum desses três foi acusado de genocídio ou estupros.
Pecado original
Os identitários querem provar que o Brasil sequer deveria existir, toda a nossa cultura, segundo eles, está alicerçada sobre o genocídio indígena, nossas antepassadas teriam sido todas violentadas e nossos nascimentos estão manchados por esses crimes. Somos, biblicamente, herdeiros de um “Pecado Original”, somos indignos.
O identitarismo é como uma nova religião, somos pecadores e devemos pagar, toda a nossa cultura deve ser cancelada. Para o imperialismo isso é ótimo, nosso País fica aberto à rapinagem do grande capital.
Quem ganha e quem perde?
O imperialismo estimula as ‘pautas identitárias em todos os terrenos, dos quadrinhos com Supeman bissexual a teses de doutorado, passando por novelas e beijos gays no horário nobre da tv, tudo ganha visibilidade e destaque na grande imprensa.
Enquanto influencers ganham seguidores nas redes sociais ou se elegem a cargos públicos. Enquanto bolsistas publicam suas teses, ou grupos são financiados por ong’s ligadas à CIA. Enquanto levam uma indígena para discursar no G-20, enquanto Djamilas vão morar na França e vestem Prada, os negros de hoje são massacrados pelas polícias e os índios são exterminados, quando não pelas epidemias e faltas de hospitais, pela bala sempre certeira do agrobusiness.
No ano passado tivemos o maior número de assassinato de índios em 25 anos, foram 182. O aumento em relação ao ano anterior foi de 61%.
A luta real
É fundamental tirar da frente o identitarismo, ele só serve como cortina de fumaça e empecilho à luta pelos direitos fundamentais dos setores oprimidos da sociedade. É um tipo de censura prévia, pois desautoriza todos que não têm ‘lugar de fala’ a defenderem as minorias, quaisquer que sejam.
Os índios precisam se armar e formar comitês de autodefesa para que possam enfrentar a crescente violência no campo.
A esquerda precisa lutar sem tréguas contra o latifúndio, por reforma agrária e demarcação das terras. Precisa lutar para que os indígenas tenham acesso às escolas, hospitais, tecnologia, tudo isso que nossos índios efetivamente desejam. Para que assim eles possam, ao seu modo, e ao seu tempo, se integrarem à sociedade e terem uma vida digna.



