A pequena burguesia muitas vezes fica mentalmente prisioneira das artimanhas ardilosas da burguesia e do imperialismo. No Brasil, no atual momento político, essa prisão mental é marcante. E ela se revela nas palavras da moda, lançadas como isca pela mídia burguesa. A pequena burguesia morde a isca quase que instantaneamente.
O companheiro Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, foi bem preciso: essa é a esquerda bem-pensante, que anseia pela aprovação dos intelectuais burgueses e, por isso, afina seu discurso com eles.
Aqui, vamos listar alguns termos que a mídia e/ou os intelectuais burgueses lançaram e que foram adotados pela esquerda pequeno-burguesa.
Fake news – Essa é a senha para censura de opinião. A esquerda pequeno-burguesa elegeu as maiores corporações capitalistas mundiais como juízes e censores. Facebook, Twitter e YouTube (Google) decidem o que é fake news e o que não é. A mídia burguesa, a maior propagadora de mentiras, é deixada em paz. É óbvio que essa censura se voltará contra a esquerda. Aliás, já está acontecendo, sob silêncio cúmplice da esquerda pequeno-burguesa.
Discurso de ódio – Quem decide o que é discurso de ódio é o STF, a Polícia Federal e a mídia burguesa, além, é claro, da própria esquerda pequeno-burguesa. O militante petista Rodrigo Pilha foi preso e torturado porque abriu uma faixa dizendo “Bolsonaro Genocida”. Toda opinião crítica pode ser taxada como “discurso de ódio”. Por exemplo, o PSOL votou contra a PEC 5, que institui um pequenino controle sobre o Ministério Público. A falta de um controle maior desse órgão produziu a famigerada operação lava-jato, que destruiu milhões de empregos e demoliu a indústria nacional. Nas redes sociais, pessoas do PSOL disseram que as críticas a essa posição do partido são “discurso de ódio”. Não se pode criticar o PSOL. Mas o PSOL pode criticar o PT, o PCO e quem quer que se coloque numa posição antagônica ao próprio PSOL.
Teoria da conspiração – Esse termo pejorativo, ao que tudo indica, foi criado pela CIA em 1967 para tentar desqualificar militantes de esquerda que denunciavam conspirações. Boa parte da esquerda não percebeu a armadilha e hoje usa esse termo, principalmente contra a esquerda mais autêntica. Ora, conspirações são reais e, às vezes, resultam em golpes de estado.
Empoderamento – Um termo de sentido muito difuso. Por exemplo, quando uma mulher negra de classe alta usa uma bolsa de R$ 3 mil, isso é chamado de empoderamento. Dá-nos a impressão de que “empoderar-se” é aderir ao mundo maravilhoso da elite decadente.
Negacionismo – Segundo esse conceito, é proibido, por exemplo, questionar as boas intenções dos grandes laboratórios. Os grandes laboratórios, supostamente, só pensam no bem da humanidade. Também não se pode questionar os órgãos “científicos” como a Anvisa. Quando a Anvisa rejeitou a vacina russa Sputnik V – a mando de Washington – a esquerda pequeno-burguesa defendeu (DEFENDEU) a Anvisa bolsonarista. Criticar a Anvisa seria “negacionismo”.
Mal menor – O chamado “mal menor” é um truque para eleger sempre o candidato preferido da parte mais forte da burguesia (o setor financeiro, que é essencialmente imperialista). A esquerda pequeno-burguesa é adepta ferrenha do mal menor. Por exemplo, nas eleições para prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo apoiou o mafioso Eduardo Paes, que seria o “mal menor”. Mas, como observou o companheiro Rui Costa Pimenta, isso não vale para o PT e Lula. O PSOL faz críticas ao Lula, que seria um neoliberal, segundo eles. Ora, numa eleição em que os candidatos mais fortes são Lula e Bolsonaro, segundo esse conceito, Lula seria o “mal menor”. Mas como o conceito não vale para o PT e Lula, o PSOL espera uma 3ª via para ser o “mal menor”.
Direita “científica” – É o direitismo sorridente de João Doria, por exemplo. Doria queria a volta das aulas presenciais desde meados desse ano, com a pandemia no seu máximo. Os professores do ensino público felizmente resistiram como puderam, até agora. Quem pega ônibus, trem e metrô em São Paulo sabe que eles andam superlotados nos horários de pico. As pessoas viajam DUAS VEZES POR DIA apertadas umas contra as outras, nariz com nariz. Foi assim durante toda a pandemia. Aliás, Doria reduziu (REDUZIU) os trens e composições do Metrô. Mas isso não é questionado pela esquerda pequeno-burguesa. Não fica bem questionar um governador “científico”.
Bolsonarismo – Essa palavra foi criada pela mídia burguesa e imediatamente adotada pela esquerda pequeno-burguesa. O “bolsonarismo” seria algo demoníaco, enquanto o “anti-bolsonarismo” é do bem, angelical. Por exemplo, Ciro Gomes é “anti-bolsonarista”, portanto ele seria do bem, mesmo sendo um coronel a serviço da burguesia. Esse conceito torto escamoteia a luta de classes. A luta real não é entre “bolsonaristas” e “não-bolsonaristas”, é entre os trabalhadores e o povo, de um lado, e a burguesia, de outro. E já que falamos de luta de classes, o último verbete desta lista é o
Identitarismo – Temos que tirar o chapéu para a CIA. A agência sabe mesmo como manipular a cabeça de boa parte da classe média. Eles criaram esse termo, de forma a transformar a luta do povo em pseudo-lutas dos LGBT contra os homofóbicos, das mulheres contra o machismo, dos magros contra os magrofóbicos, dos gordos contra os gordofóbicos. Com esse conceito, uma mulher de esquerda deve se solidarizar com a deputada Tabata Amaral, quando ela for atacada, mesmo sendo ela uma direitista que vota sempre contra o povo. E os negros devem se solidarizar com aquele sujeito da Fundação Palmares quando ele for atacado Afinal, Tabata é mulher, e aquele moço é negro. A luta do povo pelos seus direitos como povo, como trabalhador, ficaria extinta se todos nós adotássemos esse tal “identitarismo”. Novamente, é um truque para escamotear a luta de classes.
Concluindo, lembramos que a burguesia brasileira é fraca como classe e, por isso, é servil aos interesses do imperialismo, particularmente do imperialismo norte-americano. Ao se alinhar com a burguesia nacional, a esquerda pequeno-burguesa serve de instrumento do imperialismo.
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