“Frente Ampla” foi sem sombra de dúvida a palavra mais dita pela esquerda anti-Lula e pela direita que prefere outro monstro ao Bolsonaro. O PCdoB, que ao longo dos últimos meses foi o garoto propaganda desta política.
Ele insiste que devemos fazer uma frente ampla, com quem tiver vontade, para combater o Bolsonaro. Ele propôs trazer o PSDB para os atos, o MBL, a bolsonarista arrependida Joyce Hasselmann, o pornógrafo Alexandre Frota. A organização colocou a recém empossada presidenta da UNE numa posição vexatória de ter de dividir palanque com João Doria e tirar uma selfie com FHC. A moça que é uma direitista de carteirinha aceitou de bom grado, acha até agora que está tendo a oportunidade de uma vida.
Agora eles estão menos falantes sobre o tema, afinal os “aliados” da frente estão indo à direita cada vez mais. Nós estaríamos, contudo, faltando com a honestidade intelectual se não colocássemos a pergunta agora: essa frente ampla é de quem? com quem? e pra quê?
A primeira pergunta é fácil de ser respondida. A frente seria proposta pelo povo. Como vimos nas mobilizações chamadas pela 3ª via, eles não conseguem nem com 2 ou 3 meses de antecedência viabilizar um ato com 5 mil pessoas. Os atos foram chamados pelo MBL e o Vem Pra Rua, grupos de direita. Nem com o PSDB apoiando a iniciativa, com a imprensa fazendo uma convocação positiva e até Ciro Gomes chamando a ir eles conseguiram um ato expressivo. O ridículo do movimento aumenta pelas pesquisa feitas lá por um grupo da Universidade de São Paulo, 37% se diziam de esquerda e apenas 34% se diziam de direita. Ou seja, do punhadinho de gente, apenas uma minoria foi trazida pela direita. Estabelecemos que ali não tem povo, não tem uma parcela significativa que se mobilizaram junto com eles.
E quem são eles? A proposta era nos unificar com gente da mais diversa e menos honesta que o mundo já viu. Temos partidos golpistas e inimigos do povo como o PSDB, o MDB, o PSD de Kassab, a rede de Marina Silva. Temos as sub-legendas dos tucanos: o Cidadania, o Partido Verde. Tem também o PDT de Ciro Gomes que acusa Lula de não atacar a Prevent Senior por esta sendo favorecido por ela, que chamou Dilma de aborto, que quer o golpista Alckmin como candidato ao governo de SP e o PSB que se elegeu na prefeitura de Recife fazendo uma campanha bolsonarista-religiosa contra a candidata do PT. O cenário mais ou menos escabroso que vemos suscita para qualquer pessoa minimamente consciente a seguinte pergunta: pra quê vamos trazer essa gente?
A explicação oficial dos defensores da frente ampla é: eles trarão uma parcela do povo que não é de esquerda mas é contra Bolsonaro, também dizem que eles são democratas como nós, não seriam autoritários como Bolsonaro.
Vamos colocar à prova esta explicação: se há uma parte do povo que é contra o Bolsonaro de verdade e não iria de forma alguma em um ato só da esquerda, mas iria junto com essa gente, eles são invisíveis. Como visto pela manifestação deles, a esquerda é maioria até nos atos deles. Não há povo algum.
Então sobra aí a ideia de que eles são contra Bolsonaro e que são defensores da democracia. Sobre isso temos de colocar que PSDB, MDB, PSD e o novo União Brasil, os maiores partidos desse tipo de direita não apoiam nenhum pedido de impeachment, nem em palavras. Eles ainda estão se decidindo. O União Brasil não exclui nem a possibilidade de filiar Bolsonaro. O trabalhador deveria se pergunta qual seria o motivo para eles querem derrubar Bolsonaro. Na questão das privatizações a crítica destes setores é: Bolsonaro não faz o suficiente. Na questão do (pouco) auxílio aos pobres dizem: é dinheiro demais. No quesito Petrobrás acham que o presidente deveria ficar quieto e deixar a empresa levar a gasolina a 8 reais sem reclamar para não abrir uma crise.
Na questão das relações de servidão aos países imperialistas acham que Bolsonaro não concorda tanto quanto deveria com esses países, que, como é um bruto, dificulta para os patrões elogiarem e fazerem acordos comerciais grandes, ainda que nós como uma verdadeira colônia acabemos perdendo. O PSDB votou, desde que se declarou oposição, 87% das vezes junto com o governo, com oposição que nem esta quem precisa de situação! Para se ter uma ideia, o PSL é o partido mais fiel ao governo, votou 95% do tempo junto ao governo. A diferença seria de 8%. Mesmo os partidos burgueses que parecem mais esquerdistas, como o PDT e PSB, votaram junto com Bolsonaro quase metade das vezes. Lembrar que votaram junto em questões essenciais como a reforma da previdência.
Sobra então a ideia de que seriam favoráveis à democracia. Sobre isso basta lembrar que votaram favoravelmente ao golpe de 2016 contra Dilma, uma boa parte votou até no próprio Bolsonaro em 2018. Praticamente a totalidade deles apoiaram a prisão injusta de Lula. Vemos então que não há muito apreço pela democracia já que deram um golpe de Estado e apoiaram a prisão de um político inocente para que este não participasse nas eleições.
A frente ampla é a cloroquina de setores falidos dentro da esquerda e que não querem admitir seus interesses reacionários. É um remédio que não cura doenças, apenas agrava. É uma tentativa de desarmar o povo diante dos seus inimigos.