Na última sexta-feira (22), foi divulgado pela imprensa burguesa baiana (TV Bahia), o dado que nos últimos 10 anos haviam sido expulsos da corporação 397 policiais por crimes de homicídio, formação de grupos de extermínio, formação de quadrilha, tortura, extorsão e sequestro, segundo dados obtidos da própria Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Em proporção, o informe mostra que, em média, foram demitidos um pouco mais de 3 policiais por mês, sendo a maior ocorrência em 2014 com 79. Em 2021 o número é de 38 expulsos, mais que o dobro dos 17 de 2020.
Em tese, o número pode levar a uma rápida conclusão de que está havendo uma séria intervenção pela atuação criminosa da corporação. Entretanto, quando contrastado com os números crescentes de mortes provocados pela ação de policiais, fica claro que a medida é, no mínimo, inócua.
A atuação da máquina de matar pobre
Somente em um ano, as polícias da Bahia (civil e militar) têm assassinado mais de mil pessoas, ficando atrás somente do Rio de Janeiro no recorde absurdo. Em 2020, foram mortas 1.137 pessoas, 47% a mais que os 773 em 2019. Destes, 78,9% eram negras e obviamente moradores das periferias, principalmente da capital Salvador (33,5%).
Os casos recentes de 2021 falam por si só, como o caso do assassinato a sangue frio de um homem rendido e no chão, filmado por moradores da região da Av. San Martin (Faz. Grande do Retiro) no último dia 20, a execução de um jovem de 16 anos dentro de uma casa de vizinhos no bairro da Liberdade no começo de outubro, o caso de 3 policiais que executaram um jovem de 21 anos em um bar, em Barreiras no oeste do Estado, após um deles assediar a namorada da vítima no dia 07 de setembro e outro caso que gerou revolta da população, o assassinato de duas mulheres, uma idosa de 73 anos e outra de 40 anos que estavam na porta de casa e foram baleadas por policiais que, supostamente, perseguiam um bandido. Detalhe: o filho da vítima mais jovem, uma criança de 7 anos havia sido morto em novembro do ano anterior, enquanto acompanhava um jogo de futebol no bairro. Sem contar os casos diários de mortes em “trocas de tiro”, “resistência à prisão”, “morte em decorrência de ação policial” etc.
Não adianta personificar
Para acabar com esse genocídio da população pobre e negra, é preciso deixar claro que não serão com medidas judiciais ou punições individuais que uma atuação que é de conjunto, típica de toda as polícias do país, será resolvida. É claro que deve-se buscar punir e julgar os crimes cometidos, mas não deve-se ter a ilusão que o Estado burguês e suas instituições viciadas e que, na verdade, dão sustentação a essa atuação criminosa das forças de repressão do país, é que irão resolver a situação e tornar a polícia uma organização “defensora dos interesses da classe trabalhadora”, jamais!
A reivindicação mais objetiva e contundente que realmente leva a discussão para a direção correta é “fim da polícia já”. Só acabando com todo esse aparato de brutal repressão e disseminação de violência constante é que será possível abrir espaço para construir novas organizações e métodos. E o caminho é a organização do povo pobre.
A população deve substituir o aparato de repressão estatal por organizações populares, formadas por membros da comunidade local, eleitos, controlados e fiscalizados pelos moradores. Para que isso ocorra também é preciso reivindicar o direito a autodefesa e ao armamento da população, pois, sem armas na mão, não é possível defender de fato os seus interesses.
Neste caso, é preciso destacar que os interesses preponderantes aqui são os de classe, pois a origem da violência contra a população pobre, contra a classe trabalhadora, não vem dela mesmo, mas sim da burguesia. A violência é um produto da exploração da classe dominante e se manifesta de diversas formas, impulsionadas pela grave crise social resultante da política criminosa da direita golpista, da sua política de desemprego, de especulação nos mercados, de fome, de roubo das riquezas nacionais, de destruição das condições de vida dos trabalhadores etc.
Por isso, é preciso lutar pelo fim das polícias, pelo direito à autodefesa e ao armamento da população, por organizações populares que garantam a segurança física dos trabalhadores, principalmente dos criminosos funcionários da burguesia.