A esquerda pequeno-burguesa possui um extenso histórico de capitulações ao longo do desenvolvimento da luta dos explorados, desde a Revolução de 1930, quando não conseguiu compreender o que se passava, bem como, no apoio ao imperialismo contra Getúlio Vargas, que para não ser golpeado retirou a própria vida em 1954, até o movimento pelas Diretas, que terminou com a direita, que apoiou a ditadura militar, no poder, também no Fora Collor, e, no período recente, no Golpe de Estado de 2016. Mesmo os setores ditos radicais como PSTU, que cumprem o papel de atacar governos nacionalistas de partidos moderados como do PT, oscilam para posições centristas e acabam apoiando partidos golpistas como PSDB.
Desde o golpe de estado contra Dilma Rousseff em 2016, a esquerda pequeno-burguesa tem capitulado de maneira vergonhosa diante dos intensos ataques contra a população. A suposta luta contra o “ajuste fiscal” do governo do PT se tratava de um apoio mal disfarçado à derrubada da ex-presidenta. Por outro lado, o movimento “Não vai ter Copa” congregava as bases direitistas com objetivo de desgastar o governo de Dilma. As lideranças desses movimentos golpistas foram muito bem recompensadas pelos serviços prestados, Guilherme Boulos se tornou colunista da Folha S .Paulo e Jones Manoel ganhou um programa no Globosat News Television (GNT), ambos se tornaram serviçais da imprensa golpista.
As capitulações continuaram com a prisão ilegal do ex-presidente Lula, que foi impedido de concorrer à eleição de 2018, possibilitando eleger Bolsonaro presidente. Depois de se afastar das ruas por medo da extrema-direita, longo período que se somou à chegada da pandemia, a esquerda busca se amparar naqueles que destruíram direitos trabalhistas e a previdência social para combater o “fascismo”. O movimento Fora Bolsonaro, que tomou as ruas de todo o País contra a miséria e o genocídio em curso, vem sofrendo uma série de ataques com objetivo de torná-lo um movimento de impulsionamento da terceira via e da frente ampla com apoio da esquerda. Neste sentido, vamos relembrar os piores momentos da esquerda que busca liquidar o movimento.
A histeria do “Fique em casa”
Os atos Fora Bolsonaro foram inaugurados ainda durante as eleições de 2018, após a substituição da candidatura de Lula devido ao impedimento do STF golpista, pelos “Comitês de Luta contra o Golpe” que não aceitaram a manobra golpista. O Partido da Causa Operária convocou centenas de atos pelo país entre 2019 e 2021, neste período a esquerda, além do medo de enfrentar os bolsonaristas nas ruas e das confusões provocadas pelo reconhecimento das eleições por lideranças como Fernando Haddad e Guilherme Boulos, também entrou na histeria do “fique em casa”, uma política direitista propagada pela imprensa golpista e por setores da direita como João Doria (PSDB).
A defesa do isolamento social serviu somente para conter as mobilizações populares e manter a esquerda longe das ruas. Essa política foi adotada em diversas cidades e estados, o governador do estado de São Paulo foi quem mais buscou capitalizar com ela, foi uma divergência em relação ao método de Bolsonaro que resultou ser chamado de civilizado até por setores de esquerda mesmo depois de mandar jogar água em morador de rua e oferecer ração para alunos nas escolas. Na prática, Doria mostrou-se tão genocida quanto Bolsonaro, o estado de São Paulo foi o que mais matou pessoas em todo país. Boulos, influenciado por essa política, defendeu por diversas vezes sair às ruas somente com fim da pandemia.
Enquanto a população morria às centenas de milhares, a esquerda resolveu realizar o ato de 1º de Maio, pelo segundo ano seguido, de maneira virtual com a participação de golpistas como Fernando Henrique Cardoso, inimigo mortal do povo brasileiro, além de Ciro Gomes que já buscava atacar os governos do PT e outros bandidos como Rodrigo Maia (DEM). Em oposição à paralisia da esquerda e da política de ficar em casa, o PCO junto a dezenas de organizações reuniu na Praça da Sé, na capital paulista, milhares de ativistas em ato que rompeu o dique de contenção das mobilizações. Por outro lado, a extrema-direita pervertia a data eternizada pelos mártires de Chicago levando dezenas de milhares de pessoas na Av. Paulista em defesa do governo Bolsonaro.
A tentativa de pintar os atos de verde e amarelo
Em resposta à mobilização bolsonarista, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) em conjunto com as organizações de esquerda convocou atos em todo o País para o dia 29 de maio, quase meio milhão de pessoas foram às ruas em 200 cidades. Diante da multidão que se manifestou nas ruas, foi organizada para mobilização de 19 de junho uma operação para transformar a mobilização da esquerda e dos trabalhadores, tradicionalmente vermelha, em verde-amarela. Na manifestação realizada na Av. Paulista, que contou com público de quase 100 mil pessoas, foi registrado a distribuição gratuita de bandeiras do Brasil e mais tarde ficaria transparente o golpe em curso.
As cores verde e amarelo nada tem a ver com a luta do conjunto das organizações populares que, no Brasil, historicamente é vermelha. O verde-amarelismo é utilizado pelos partidos da burguesia nas eleições na busca de uma aparência nacionalista, ou seja, para enganar a população brasileira. Durante o processo de impeachment fraudulento contra a presidenta Dilma não foi diferente, os golpistas se fantasiaram com essas cores. Assim, a esquerda buscou se adaptar a situação e reivindicar para si a propriedade do verde-amarelo durante as eleições de 2018, o PCdoB, por exemplo, além de abrir mão do vermelho, escondeu o “Comunista” de seu nome para se apresentar como “Movimento 65”, bem como, a foice e o martelo.
A cor vermelha é a identidade para luta dos trabalhadores, por isso a Folha de S.Paulo buscou impulsionar a cor amarela nos atos das torcidas, realizados na Av. Paulista, contra o governo Bolsonaro. O agente infiltrado, Danilo Pássaro (PSOL), que ganhou destaque no jornal de extrema-direita, buscou sequestrar o movimento independente dos torcedores e converter no “Somos Democracia”, cujas faixas tinham a cor do PSDB (azul e amarelo). Pássaro, assim como MBL, também adepto a política de “abaixar a bandeira”, foi contra a presença de faixas e bandeiras vermelhas, além promover perseguições típicas de fascistas contra partidos que não se curvassem às suas ameaças.
Mesmo os materiais divulgados pelos partidos da “operativa” dos atos Fora Bolsonaro, produzido principalmente pelo PSOL, PCB e UP, tinham sempre as cores verde e amarelo. Essa característica demonstra a completa adaptação desses partidos ao bolsonarismo, uma capitulação às cores do reacionarismo histórico.
A infiltração dos golpistas na coordenação
Apesar da denúncia do PCO sobre a tentativa de pintar os atos de verde e amarelo, bem como, da preparação para colocar golpistas nos atos, setores da esquerda na surdina infiltraram Joice Hasselmann (PSL) e Alexandre Frota na reunião da coordenação nacional do movimento Fora Bolsonaro no dia 24 de junho. Antônio Carlos Silva, dirigente nacional do PCO, protestou energicamente contra tamanho absurdo, os autores do golpe contra a direção da frente Fora Bolsonaro jamais se identificaram, mas os acontecimentos dariam pistas sobre o misterioso convite aos bolsonaristas de outrora.
No dia 30 de junho, os partidos da esquerda (PT, PSOL, PSTU, PCdoB, PCB e UP), bem como, organizações populares (CUT, CMP, MST, UNE, UBES, Frente Povo Sem Medo, CTB e CSP-Conlutas) se juntaram com a partidos golpistas (PDT, PSB, Rede e Cidadania), também com organizações patronais como a central Força Sindical, além dos deputados bolsonaristas Frota, Hasselmann e o MBL, Kim Kataguiri (DEM), para entregar o “superpedido” de impeachment contra Bolsonaro. A encenação teve como objetivo atrair a esquerda para resoluções institucionais, que não passa de uma miragem, para acabar com as mobilizações de rua, mas também reciclar os criminosos que participaram do golpe de 2016, acabaram com o regime da CLT, elegeram Bolsonaro presidente, destruíram a Previdência Social e colocaram o país na situação atual de miséria.
No mesmo dia do “superpedido de impeachment”, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, através do Twitter, defendeu a presença do PSDB nos atos Fora Bolsonaro. O desfecho dessa situação aconteceu no fatídico 3 julho para os tucanos que, diferente do MBL que se atentou aos avisos sobre o problema da presença de golpistas nos atos, tentou participar da mobilização realizada na Av. Paulista, com materiais de campanha eleitoral, faixa e bandeiras do ex-prefeito de São Paulo, Bruno Covas, e número da legenda, posicionou seu bloco na frente da manifestação. Diante de tamanha provocação, os setores mais radicalizados da esquerda não aceitaram calados e expulsaram o bloco do PSDB, além de rasgar e queimar seus materiais. Nenhum representante do PSDB, MBL e tampouco os deputados bolsonaristas falaram no ato.
O racha da mobilização e a participação dos golpistas
A divisão da mobilização começou a ser preparada no dia 12 julho, quando aconteceu uma reunião entre os adeptos da gente ampla com destaque para o PCdoB no diretório municipal do PSDB em São Paulo. No dia 21 de julho, os partidos se reuniram no 11º Batalhão da PM para discutir sobre a organização da manifestação com a Polícia e representantes dos órgãos do Estado e do Município, o PCO, representado por Rafael Dantas, membro da direção nacional, foi o único partido a se opor à presença do PSDB no ato da Av. Paulista junto com a esquerda pelo antagonismo político e ideológico.
O mistério dos infiltrados chegava ao fim com divulgação do folder assinado por organizações controladas pelo PCdoB (UNE, CTB, UJS, etc.) com partidos burgueses da psêudo-esquerda (PSB, PV, PDT e Rede), também partidos golpistas (Solidariedade, Cidadania e PSDB), bem como, organizações pelegas como Força Sindical e JPL. Assim, o bloco “democrático” se reuniria na altura da Av. Consolação e o Bloco Vermelho (CUT, APEOESP, PT, PCO, etc.) se concentraria na altura do MASP (Museu de Artes de São Paulo).
A manifestação do dia 24 de julho deixou bastante claro que os partidos do bloco verde-amarela não mobilizam ninguém. Apesar do empenho da imprensa golpista na propaganda e na divulgação, a área reservada para o ato “democrático” ficou totalmente esvaziado. Por outro, a combativa bancada vermelha foi muito superior e saiu vitoriosa do ato.
O comprometimento com os setores golpistas, destaque para o PSDB, ficou evidente na participação do PCdoB e de setores do PSOL nas manifestações do dia 12 de setembro organizadas pelo MBL e Vem Pra Rua. Orlando Silva (PCdoB), Isa Penna (PSOL) e Bruna Brelaz (UNE) participaram junto a João Dória (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e todos partidos golpistas do ato em São Paulo, que reuniu um público bastante direitista, incluso muitos antipetistas, defensores da Lava-jato e de Sérgio Moro.
A desmobilização e o fim dos protestos de rua
A sabotagem ao movimento Fora Bolsonaro existe antes mesmo de se manifestar nas ruas de todo país, nos anos de 2019 quando explodiram diversos protestos contra os ataques à educação pública e a previdência dos trabalhadores, os setores da esquerda eram contra a palavra de ordem nos atos. Mesmo tendo saído às ruas para caçar votos durante as eleições de 2020, a esquerda abandonou o isolamento social somente após o dique de contenção das mobilizações ter rompido e para não ser deixado para trás.
Depois do sucesso da mobilização do dia 19 de junho, onde estimasse que 750 mil pessoas compareceram às ruas pelo Fora Bolsonaro, a direção golpista do movimento arbitrariamente para 24 de julho, mais de 30 dias depois, uma decisão que poderia esfriar a manifestação. Assim, a Frente Povo na Rua convocou ato para 13 de julho por fora do movimento Fora Bolsonaro, mostrando o oportunismo característico de Guilherme Boulos. Apesar de voltar atrás e marcar ato para 3 de julho, a organização da mobilização ficou bastante prejudicada.
Após o ato de 24 julho, setores da esquerda tentaram o mesmo golpe, marcar novas manifestações após 30 dias, assim o(s) informante(s) da Folha S.Paulo comunicaram a data 7 de setembro, antes mesmo da reunião dos partidos da Frente Fora Bolsonaro, tudo para colocar o movimento de rua a reboque da CPI. Diante da mobilização nacional dos servidores públicos contra a PEC 32, a direção nacional do movimento decidiu unificar à luta deste importante setor que possui 12 milhões de trabalhadores como forma de impulsionar o Fora Bolsonaro. Na impossibilidade de colocar os políticos golpistas como João Doria, autor da PLC 26, junto aos servidores públicos, os setores da esquerda frente-amplista promoveram uma sabotagem total, não convocaram e não participaram dos atos.
O ato de 7 setembro pelo Fora Bolsonaro estava marcado para acontecer na Av. Paulista, mas Doria entregou para os bolsonaristas realizarem um ato em defesa do governo, demonstrando assim que o PSDB está alinhado com Bolsonaro. A manifestação foi marcada para novo local, Vale do Anhangabaú, e, apesar de Doria tentar proibir o ato, as organizações do movimento desta vez não capitularam e mantiveram o protesto. Somado a essa situação, um setor da esquerda a reboque da CPI buscou sabotar a mobilização devido o cancelamento dos depoimentos marcados para 7 de setembro, outro setor também buscava desmobilizar por medo de confrontos com bolsonaristas.
O último ato, realizado em 2 de outubro, colocou fim a tentativa de infiltrar elementos golpistas nos atos da esquerda. Apesar do aparato montado para proteger políticos odiados pelas massas populares, golpistas como Ciro Gomes (PDT), Paulinho da Força (Solidariedade) e Fernando Alfredo (PSDB) não escaparam das ensurdecedoras vaias do público. Os oradores da Força Sindical e do PSDB não conseguiram falar sequer por um minuto, Ciro Gomes teve que sair fugido de manifestantes da CUT. A coordenação dos atos sequestrada pelos parlamentares da frente ampla também marcou novo ato para 15 de novembro, novamente para mais de 30 dias após o último ato, mas, diante da grande repercussão do rechaço aos golpistas infiltrados, os defensores da frente ampla decretaram o fim movimento de rua e buscam organizar atos restritos para evitar novas manifestação de execração.