No dia 2 de outubro, esforçados zoólogos encontraram uma nova espécie dentro da fauna identitária. Bípedes, egressos de universidades de ciências humanas, possuem um fenótipo muito próximo aos bichanos cultivados na varanda de Caetano Veloso e Paula Lavigne. O primeiro rebanho geneticamente comprovado como pertencente à nova espécie já foi batizado pelos cientistas de Coletivo contra a coronéfobia.
Com uma expectativa média um pouco maior que o conjunto da população — uma vez que não passam fome —, limitada apenas pelo uso constante de alucinógenas, os membros do coletivo têm dieta semelhante à dos coletivos da Rede Globo contra o machismo e a homofobia. Nutrem-se do oportunismo barato e de “cancelar” todo mundo que, por um motivo ou outro, incomode a burguesia.
A peculiaridade dessa espécie estar em ter desenvolvido tanto suas faculdades mentais e os seus instintos ao ponto de descobrir uma nova forma de opressão na sociedade: a opressão contra os pobres coronéis nordestinos.
Há mais de cem anos, esses personagens íntegros e progressistas da sociedade brasileira vêm sendo atacados e difamados por todos os lados. Não fosse a branca elite paulista, certamente ainda veríamos os coronéis sendo tratados como os grandes construtores dessa nação.
Os identitários contra a coronéfobia descobriram — esperamos que a tempo — que há uma conspiração internacional, envolvendo os Illuminati e parte da esquerda brasileira, para tentar reescrever a história e colocar os coronéis como figuras monstruosas. Logo eles, que se preocupavam tanto com as mulheres que pediam a seus homens para votarem por elas, de modo que não carregassem a dor de ter votado errado. Bom, hoje já não é mais assim…
Felizmente, diferentemente dos bandeirantes, que foram extintos pelos militantes ancestrais do PSOL, os coronéis ainda resistem bravamente — “se ferem minha existência, serei resistência”, disse um deles. E estão nos locais mais atrasados do País, onde uma revolução anti-industrial expulsou o desenvolvimento de suas terras e clamou pela vinda dos democráticos coronéis.
Nesses locais, foi reestabelecida uma espécie melhorada de democracia ateniense. Em vez de cada cidadão depositar seu voto na urna, todos discutem abertamente sobre suas preferências eleitorais e, auxiliados pela sabedoria do coronel, sempre escolhem os melhores candidatos. A recompensa é mútua: os eleitores votam sempre nos candidatos dos coronéis e os coronéis se comprometem em manter a miséria e os seus latifúndios.
Os coronéis aguentaram calados por muito tempo as hostilidades contra eles. No entanto, sua paciência chegou ao fim.
No ato Fora Bolsonaro ocorrido na Avenida Paulista, meliantes do PT e da CUT vaiaram — isto mesmo, vaiaram! — um dos principais coronéis do País. Esses bárbaros, mal-educados, que quase assassinaram Ciro Gomes com tantas vogais, no entanto, não agiam por motivos pessoais. Era uma vaia contra a coragem.
Uma vaia contra a coragem de dizer, em alto e bom som: vou transformar o Brasil em uma enorme fazenda e chamar Joe Biden para ser nosso coronel. Uma vaia contra a coragem de dizer que “Lula é um canalha” e que, portanto, Sérgio Moro nos salvou do comunismo. Uma vaia contra a coragem e a humildade de pedir que a Coca Cola levasse nossas águas, porque povo honesto é povo sofrido. Uma vaia, portanto, repleta do que há de pior nesse Brasil: a coronéfobia.