Enquanto os professores e os servidores públicos retomam as mobilizações contra os drásticos cortes salariais de suas categorias, como ocorre a nível nacional com a PEC 32 (reforma administrativa), que poderá impor numa canetada que os servidores públicos municipais, estaduais ou federais percam até 25% de seus salários, isso sem contar a perda de gratificações por tempo de serviço ou por mérito. Ou ainda, como os professores estaduais de São Paulo, que estão com manifestação marcada para a próxima quinta-feira, dia 13/10, na Assembleia Legislativa, contra a Reforma de João Dória, ou também como os professores municipais de São Paulo que estão paralisando a quase totalidade das escolas da capital paulista, também no dia 13, contra os cortes de salários e aumento do tempo de serviço, com mais uma fase drástica de ataque aos direitos previdenciários. Ao mesmo tempo, em que todos estes ataques contra os professores estão na ordem do dia, com propostas que impõe duros cortes salariais e aumento do tempo de serviço, os militares estão mamando nas tetas do Estado capitalista, com sua inserção inconstitucional nas redes públicas de ensino, onde estão a receber além dos altos salários já pagos pelas Forças Armadas, adicionais de salários que ultrapassam 8 mil reais.
É isto que está a ocorrer em centenas de escolas pelo país, apesar do pequeno número de escolas militares pelo país. Estas são bandeiras do governo fascista de Jair Bolsonaro. O programa de colégios Cívico-Militares não alcança nem 0,1% das escolas públicas. O MEC prevê 127 escolas do tipo este ano e 216 até 2023. O País tem 138 mil colégios públicos. Mas em todas estas escolas o que é pago só em adicional a militares da reserva ultrapassa em mais de 70% o salário da maioria dos professores destas mesmas unidades e do país. O piso salarial nacional dos professores é de R$ 2.886 e o salário médio bruto não ultrapassa R$ 4.040,00 segundo dados do Ministério da Educação e Cultura (MEC).
Os militares da reserva da Marinha e da Aeronáutica têm, além da renda de inativos, um acréscimo médio de R$ 4.130,00 para atuar nas escolas. No entanto as patentes mais altas, como as de coronel e capitão, chegam a ter R$ 7 mil por mês em adicional, com isso já são alguns milhares que chegam a ter vencimentos totais que ultrapassam 20 mil reais, além da garantia dos benefícios como: férias, auxílio-alimentação e gratificação natalina. Aliás, benefícios que estes coronéis e capitães em apoio aos governos fascistas defendem retirar dos servidores públicos.
De janeiro de 2020 a julho de 2021, Marinha e Aeronáutica pagaram R$ 10,4 milhões em adicionais a 323 militares da reserva nas ex-escolas públicas, agora escolas Cívico-Militares. No total, 510 militares participam na educação da investida fascista federal. Em outros estados como no Paraná, existem outros modelos de escolas militares não vinculadas diretamente ao governo federal.
Além de todo abuso financeiro, a Escola Cívico-Militar é uma investida bolsonarista, que busca impor uma verdadeira ditadura sobre a juventude e os trabalhadores da educação. Um dos principais objetivos da investida fascista nas escolas é acabar com os direitos democráticos dos estudantes através da vigilância e do extremo controle ideológico sobre as atividades pedagógicas. Os alunos são obrigados a prestar continência até mesmo aos professores e há regras para cabelo e adereços: black power é vetado. Sindicatos de professores e organizações estudantis são banidos, assim como qualquer e toda discussão sobre política, sexualidade e religião. Tudo é montado para impedir o desenvolvimento de um ensino crítico, baseado na livre expressão de ideias. É a materialização prática do projeto Escola Sem Partido. Os próprios docentes são selecionados conforme um critério político e para fazer parte do corpo docente desse modelo é necessário ser nazista, integralista, bolsonarista, conservador, monarquista ou fascista.
Um dos motes da propaganda dos fascistas em relação às escolas militares é sua capacidade de, supostamente, garantir a segurança e a disciplina. Entretanto, o caso do Paraná demonstra que os policiais militares são os primeiros a fazer uso da violência contra os alunos. A tal da disciplina é fruto da imposição de um regime de terror policial sobre os alunos e também sobre os professores que têm medo de se expressar.
As escolas fascistas são um modelo de transição dentro das escolas públicas e ou privadas para uma ditadura militar. O objetivo político da extrema-direita é doutrinar a juventude na ideia da opressão burocrática, na imposição de uma concepção política e ideológica fascista e impedir a expressão da rebeldia natural da juventude contra o sistema. Ao fim e ao cabo, trata-se de uma escola que naturaliza a miséria e a opressão capitalista e a ideia de que o aparelho de repressão estatal tem que ter como atribuição a vigilância e o controle da sociedade.
É necessário a organização de uma ampla campanha da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e de todos os seus sindicatos (Apeoesp, App-Sindicato) mobilizando os profissionais em Educação contra as escolas cívicos militares, assim como também da UNE, mobilizando os estudantes contra a criação das escolas militares pelo país.