Os atos do dia 02 de outubro comprovaram a constatação de que a direita não é bem-vinda nos atos. Não pela vontade de alguém aleatório, mas sim pela vontade do povo. A esquerda pequeno-burguesa antipetista fez questão de passar por cima da população e apresentar diversos de seus inimigos como uma espécie de mal-menor que serviria para derrubar Bolsonaro, tudo isso num cenário de polarização política onde a direita, agente direto dos interesses da burguesia e do imperialismo, aumenta ainda mais seus esforços para atender a estes interesses enquanto esmaga a população no processo.
Tudo isso foi expressado no último ato. Ciro Gomes, Paulinho da Força, PSDB — todo e qualquer golpista que aparecia foi vaiado, tendo alguns inclusive recebido “carinhosos” pedaços de lixo na cara, jogados pela população enraivecida. O fim do ato teve direito a setores da base da CUT e do PT indo atrás dos capangas do PDT para ensiná-los que, em ato do povo, a direita não se mete.
Tudo isso gerou uma enorme polêmica, sobretudo em torno do PDT. Não porque o “debate” sobre levar a direita aos atos deveria ser reaberto (afinal, foi uma imposição da direção burocrática ao movimento, sem consultar as bases), mas sim porque a esquerda frente-amplista (representada por partidos como PSOL, PCdoB, PSTU, PCB, etc.), em atos de solidariedade golpista, passaram pano para as atrocidades de Ciro Gomes contra a própria esquerda e afirmaram que vaias e outras formas de demonstração de insatisfação contra os golpistas são “ações antidemocráticas”.
Os setores mais atacados pela frente ampla foram o PCO, a CUT e o PT, afirmando que o ato foi realizado por um grupo sectário e pequeno, declaração que, evidentemente, é uma mentira.
As vaias, por vezes, foram sim puxadas pelo PCO. Entretanto, sua continuação e crescimento, assim como a perseguição aos bate-paus de Ciro Gomes ou o ato de jogar lixo na direita, não foi obra do PCO e só foi possível porque são atos efetivamente populares. Se o PCO, e apenas o PCO, fosse responsável por toda insatisfação demonstrada no ato, então poderíamos facilmente concluir que o PCO é o maior e mais popular partido da esquerda brasileira, aglutinando milhares de pessoas com o único objetivo de atacar Ciro Gomes e os outros elementos da direita, impedindo a “luta democrática” da esquerda pelega e antipetista.
É evidente que tal fato não se confirma. O povo, por pura e espontânea vontade, decidiu que não é mais possível tolerar as manobras antidemocráticas da esquerda pequeno-burguesa para sabotar os atos, e repudiou, à sua maneira, a presença da direita na manifestação. Vale então ressaltar que essa esquerda escutou a voz do povo, a sua vontade e suas convicções, mas jogou tudo isso no lixo, preferindo estender a mão aos golpistas.
O povo vaiou Ciro. O povo vaiou toda a direita. O povo não é burro, e sabe quem são seus inimigos. O patrão usa terno e gravata, e não é bem-vindo no chão da fábrica, a não ser que queira ter sua cabeça arrancada — e foi exatamente isso que o povo demonstrou.
Caso uma multidão “descendo a porrada” em um político direitista não seja o suficiente para a esquerda pelega, ainda é possível utilizar as pesquisas, das quais tanto gostam: uma pesquisa feita pela USP revelou que 78% dos presentes na manifestação irá votar em Lula em 2022; que 94% dos presentes no ato são de esquerda; que 71% não quer a direita nas manifestações; e que um quarto dos manifestantes não quer a presença nem mesmo do PDT (quanto mais do PSDB, diga-se de passagem).

A partir disso, é possível concluir que, se quem fez parte das vaias ou de qualquer outro ato que ocorreu contra a direita golpista nos atos é antidemocrático, portanto temos uma massa imensa de pessoas antidemocráticas que estão insatisfeitas, indispostas com o governo e revoltadas com a situação do país.
Fosse assim, teríamos de inverter o conceito de democracia. Democracia significaria o governo dos anti-povo, da minoria. E a minoria (a direita nos atos) seria, portanto, democrática. Já a maioria no ato (o povo e a esquerda como CUT, PT e PCO), que não quer a direita nos atos, seria antidemocrática, porque estaria contra a vontade dos anti-povo, da minoria.
Mas vamos voltar à realidade.
PT, o maior partido de esquerda do país, e CUT, a maior central sindical, estão incluídas nessa maioria, são as maiores organizações das massas. Independentemente de sua política, representam a maioria da população. Isso mostra que a esquerda frente-amplista e antipetista, apesar de vociferar por uma democracia abstrata, não respeita a verdadeira democracia: a voz do povo.





