Após a grandiosa vitória do Talibã contra a ocupação imperialista do Afeganistão, um antigo interesse acerca do Islã me retornou, assim como para milhões de pessoas no mundo inteiro. O que mais me chamou atenção entre as diversas lindas fotos não foram as bandeiras hasteadas nos palácios do governo, nem os combatentes brincando em pedalinhos ou em carrinhos de bate-bate festejando sua vitória. Foram as fotos dos soldados trajados em suas vestes tradicionais, com sandálias e turbantes, com uma AK-47 em uma mão e na outra o detalhe mais importante, o braço esticado para cima como o dedo em riste apontado para o céu, Alá é grande!
Os afegãos, que são um povo majoritariamente rural vivendo na miséria absoluta após 40 anos de guerra quase ininterrupta, conseguiram derrotar a maior máquina de guerra já existente na história da humanidade. Comparações com o Vietnã são quase incontornáveis mas uma diferença é grande, a ideologia da Frente Nacional de Libertação, de base marxista, diverge muito daquela do Talibã. O Islã é uma religião com uma história de quase 1400 anos e possui muitas vertentes, contudo em relação à política na modernidade uma de suas expressões mais comuns foi a do nacionalismo.
O papel da religião na luta dos povos oprimidos foi muito bem abordado neste diário, a religião serve como um ponto de união contra a opressão. O Islã é um aspecto cultural essencial em todo Oriente Médio e em outras partes da Ásia e da África e é uma cultura nativa destes países, o que a põe em contraste total com as imposições imperialistas. Isso é algo que pode aglutinar um amplo setor da população, como já se viu diversas vezes ao longo da história da luta dos povos árabes.
Mas no fim o que mais me impressionou em tudo isso, do ponto de vista de um militante político, é como isso influi na militância dos talibãs, do Hamas, do Hezbollah e de outras organizações semelhantes. Ao se assistir os vídeos das mobilizações nos países árabes, é muito comum se ouvir a palavra de ordem “Takbir” gritada por um agitador e respondida em uníssono por dezenas ou centenas de pessoas, Allahu Akbar! Em uma tradução grosseira: Louvor! Deus é maior! O canto é poderoso e lembra os momentos mais intensos das mobilizações como os cânticos contra a Polícia Militar após esta realizar um ato de repressão fascista.
Fica claro que é uma palavra de ordem contra a opressão imperialista, dos soldados dos EUA na Síria, no Iraque e no Afeganistão, do exército de ocupação sionista na Palestina, contra as ditaduras impostas pelo imperialismo como o Xá do Irã, derrubado pela revolução em 1979. Voltando às fotos dos soldados com suas AK 47 velhas e o dedo em riste apontado aos céus, elas já me vêm como uma sonoridade, Allahu Akbar! Deus é maior! Ele está do nosso lado, os policiais e soldados do imperialismo, mesmo armados dos mais modernos fuzis, tanques, jatos, drones, porta-aviões e helicópteros, estão fadados à mais humilhante derrota, pois no final a vitória já é nossa.
Quando o Talibã derrotou o imperialismo, o PCO afirmou que era uma vitória e uma inspiração para todos os povos oprimidos, e ao se observar os acontecimentos isso está mais do que claro. Mas o ponto mais importante é este: se uma religião surgida no deserto árabe há mais de um milênio foi capaz de aglutinar um povo oprimido para derrotar o imperialismo, o que é capaz de conquistar um povo, não com fé, mas com a compreensão na ideologia mais poderosa já desenvolvida pela humanidade, o marxismo, a doutrina da libertação da classe operária. Talibã significa estudante, os seus militantes são aqueles que se dedicam a compreender o Islã, sejamos nós os talibãs do marxismo, a vitória final é nossa.