— Quem estará nas trincheiras ao teu lado?
— E isso importa?
— Mais do que a própria guerra.
Esse pensamento em forma de diálogo é do famoso escritor Ernest Hemingway. Ele foi correspondente de guerra, e sabia do que estava falando. Para lutar e vencer, é preciso confiar nos que estão ao seu lado. Uma tropa que seja vacilante é sempre um perigo. Mas pior ainda é se a pessoa que está a seu lado na trincheira for um traidor a serviço do inimigo. O que ele poderá fazer?
Recentemente tivemos a notícia de que um fórum clandestino de partidos criado no Congresso Nacional “decidiu” que a direita participará das manifestações de 2 de outubro convocadas pela CUT, MST, sindicatos e movimentos populares. Ora, eles não têm autoridade para decidir coisa nenhuma a respeito das manifestações. O movimento é comandado pela Frente Fora Bolsonaro, que inclui a CUT, o MST, movimentos populares, sindicatos e partidos de esquerda. Isso é uma tentativa de golpe no movimento. Os parlamentares estão querendo dar uma “carteirada”, para usar a linguagem popular.
Indo mais fundo na questão, essa gente quer que a luta do povo fique subordinada ao parlamento e às eleições de 2022. No fundo, quem quer a direita golpista nos atos não quer derrubar Bolsonaro, e sim fustigar Bolsonaro.
Além disso, é óbvio que essa manobra golpista tem por trás a terceira via, que provavelmente será João Doria, o ultra-direitista governador de São Paulo. PCdoB, PSOL e outros estão “preparando a cama” para apoiar o alegado mal menor. Como se Doria não fosse tão direitista quanto o capitão. Talvez seja até mais.
No artigo anterior, comentei como a esquerda pequeno-burguesa, sem rumo e sem estratégia, se agarra a qualquer coisa que pareça uma solução para o desastre que o Brasil vive. Porém, isso não é totalmente verdade. Estou falando da questão do “sem rumo”. Nem todos na esquerda estão sem rumo. Há os que têm rumos e interesses, e não são os do povo. Esses tentam se impor aos que estão perdidos.
Cabe aos que estão realmente lutando pelo Fora Bolsonaro rechaçar essas manobras golpistas dentro do movimento. É preciso que façamos um trabalho de enraizamento da Frente Fora Bolsonaro nos bairros operários, nas fábricas e nas favelas. Por isso o PCO constituiu o Bloco Vermelho, como uma forma de dar consistência mais firme à luta, direcionando-a para organizar e mobilizar o povo. Isso a direita “civilizada” não quer de jeito nenhum. Eles têm medo do povo. Inevitavelmente será preciso grandes mobilizações, greves e lutas para derrotar Bolsonaro e derrotar o golpe que o colocou no governo. Esse é o sentido da existência do Bloco Vermelho, que reúne militantes do PCO, do PT e de outros partidos, e muitos que não são filiados a partido algum. O Bloco Vermelho é o grupo mais combativo do movimento, formado pelos que não querem infiltração da direita golpista.