Há alguns dias, os três partidos da esquerda nacional que possuem representação no parlamento decidiram passar por cima do movimento Fora Bolsonaro e convidaram o PSDB, o MBL e o conjunto da direita golpista para as manifestações de rua. O convite foi feito de uma forma rasteira, antidemocrática, burocrática. E por razões óbvias: se isso fosse discutido em plenárias, com as bases, publicamente, jamais seria aprovado.
A desculpa para trazer esses setores para os atos é a da “unidade”. Isto é, de que, para derrubar Bolsonaro, todos seriam bem-vindos, de que seria preciso “unir as forças”. A questão que fica, no entanto, é: que forças exatamente estão sendo unidas?
O partido mais importante desse conjunto golpista é o PSDB — partido que governa São Paulo e já governou o País por oito anos. Qual a força do PSDB? Seria os milhões de trabalhadores em sua base, seria sua intervenção no movimento operário e popular? É óbvio que não. A “força” do PSDB vem da sua relação com o imperialismo: o dinheiro dos monopólios, o apoio da Rede Globo, as ligações com os Estados Unidos etc.
Essa “força”, no entanto, é exatamente a que colocou Bolsonaro no poder. O imperialismo, fase decadente e de profunda crise do capitalismo, necessita, por questões econômicas, atacar a população de maneira muito, muito dura. Os bancos, para evitar a falência generalizada, têm como política, na atual etapa, as privatizações em massa, a destruição de direitos trabalhistas, a austeridade total etc. E é por isso que o imperialismo organizou o golpe de 2016, colocou Bolsonaro na presidência e até hoje não quis derrubar Bolsonaro.
O imperialismo não é “democrático”, ele é a expressão da voracidade dos banqueiros. E tanto é assim que os mesmos que apoiam o PSDB mobilizaram as Forças Armadas para garantir a prisão de Lula e deram um golpe militar na Bolívia.
Ao mesmo tempo em que sua “força” vem de sua relação com o imperialismo, o PSDB é um partido incapaz de colocar o povo na rua. Como ficou cabalmente demonstrado nos atos de 12 de setembro, o PSDB e seus satélites não têm base: apenas se elegem por meio de chantagem, golpes eleitorais, compra de votos etc.
Mas o problema vai muito além de não ter voto. Se a regra é a “unidade”, em tese, somar x com zero, dá x. Não fede, nem cheira. A questão, no entanto, é que, nesse caso, fede e muito. Porque não se trata de somar com zero, mas sim com um número negativo. Por ser o partido do imperialismo no Brasil, o PSDB repele todos aqueles que têm relação com o movimento operário.
O PSDB é uma espécie de partido radioativo. Ninguém quer chegar perto. O povo quer distância dele assim como os ucranianos querem distância da cidade de Chernobil, por causa do acidente nuclear. A esquerda que decidir levar esse bicho fedorento para os atos estará expulsando a classe operária, combativa e de luta. Porque estará pedindo que o povo saia de casa para se unir a seus algozes: os comandantes da PM, os assassinos de empregos, os barões da fome.
Para que o movimento se desenvolva, o PSDB deve ficar em casa. É dever da esquerda impedir que o partido radiativo, que espanta todo mundo devido à sua política destrutiva, cumpra seu papel. É preciso colocá-lo no lugar que lhe deve: na lata de lixo da história.