Na última semana, uma enorme crise política se abriu na Argentina. As eleições primarias aconteceram no domingo e resultaram na derrota do atual governo peronista para a direita. Na província de Buenos Aires, os resultados foram 33,64% contra 37,99% dos votos. Na eleição presidencial em 2019, Fernández venceu no primeiro turno com 48% os votos. A derrota é uma demonstração da crise gerada pelo governo que é fruto do golpe de Estado no país, a candidata mais popular, a ex-presidenta Cristina Kirchner, perseguida pelo imperialismo assim como o ex-presidente Lula acabou capitulando e se candidatando apenas a vice. Contudo, o líder da chapa e atual presidente, apesar de aliado com a esquerda, é um homem da direita, está ai o motivo para a impopularidade do governo.
O processo golpista que o imperialismo impôs continentalmente na América Latina se iniciou com o golpe de Estado em Honduras realizado em 2009 pelo governo Obama-Biden. A partir desse momento as investidas da direita cresceram exponencialmente em todos os países. Em 2015, o neoliberal Macri foi eleito em um processo semelhante ao da eleição brasileira de 2014, em meio a uma enorme campanha golpista, com a diferença de que neste caso o imperialismo teve sucesso. Foram 4 anos de destruição completa do país que jogou a população em uma gigantesca miséria, o retorno do antigo governo nacionalista assim, se houvesse um regime democrático, era quase inevitável.
Uma operação golpista ao estilo da Lava Jato se estabeleceu para impedir que a ex-presidenta e candidata mais popular Cristina Kirchner se tornasse novamente presidenta. Durante o processo se aceitou um acordo, semelhante ao feito na Bolívia, que a ala mais direitista do partido poderia assumir a liderança da chapa e nesse caso a própria Kirchner a vice-presidência, algo que não foi alcançado nem na Bolívia e nem no Equador. Desde o princípio já era previsível que Fernandez, um homem da direita, não faria o governo que a classe operária argentina desejava, e agora, após 2 anos, esse fato foi comprovado.
Após a derrota eleitoral, Kirchner, percebendo o desastre realizou uma guinada à esquerda passando a criticar as políticas neoliberais de Fernandez, alguns ministros ligados a ela por sua vez renunciaram e o auge de tudo foi quando o presidente cancelou sua viagem com medo o que seria feito quando a vice assumisse o poder por alguns dias. O crescente abismo entre o candidato aceito pela burguesia, Fernandez, e a candidata que de fato era a escolha da população, é o resultado do desenvolvimento da política golpista nos países latino americanos que só aceita uma esquerda domesticada ou nesse caso, uma direita com feições esquerdistas.
O desastre argentino é uma demonstração do fracasso total que foi a política adotada pela esquerda peronista, setor liderado por Kirchner, diante das investidas golpistas. Ao aceitar a imposição das instituições na realidade, foi aceita uma fraude eleitoral que de forma alguma resolveu a gigantesca crise social argentina e que por sua vez tira a popularidade da esquerda e abre margem para o fortalecimento da direita, como foi visto no resultado das primárias. A política que deveria ser adotada pela esquerda em 2019 é a mesma que deve ser adotado no atual momento, mobilizar os trabalhadores argentinos contra a direita golpista.