Lula tem acenado para um setor da burguesia na esperança de, como em 2002, ter um apoio da classe dominante, ou pelo menos parte dela, para vencer a eleição. O Partido dos Trabalhadores está sendo levado pela imprensa a acreditar nesse suposto apoio. É um velho golpe da burguesia para que o partido se desloque para o centro e perca uma parte do eleitorado mais radical. Uma tática sob medida para eleições polarizadas.
Em 2018 o PT cometeu o mesmo erro com a candidatura de Haddad, acreditando que respeitando todas as arbitrariedades da justiça eleitoral e do STF renunciando à candidatura de Lula e lançando a de Haddad, a burguesia deixaria o PT voltar ao poder, abrindo mão de todas as conquistas para o imperialismo que vieram com o Golpe contra a presidente Dilma Rousseff.
Lula aparece como primeiro colocado em todas as pesquisas, mais uma vez, assim como aparecia em 2018, e por isso uma parte da esquerda acredita que conseguirá se eleger facilmente. Essas pesquisas têm um fundo de verdade que é a popularidade do líder sindical histórico que é Luiz Inácio, porém de imediato elas apenas servem para pressionar os apoiadores de Bolsonaro a abandonar seu candidato e se deslocar mais ao centro para vencer Lula.
A estratégia do PT é de tentar percorrer o Brasil para conversar com as oligarquias locais e firmar acordos com a burguesia. No Rio de Janeiro, Lula apertou a mão de Paes e de Freixo, no Nordeste Lula abraçou-se com os mesmos coronéis que se apoiaram nele para se eleger nos anos de glória eleitoral do Partido dos Trabalhadores. Trata-se de uma política completamente iludida. Ficou claro que nenhum partido de direita tem interesse em derrubar Bolsonaro, a oposição que fazem é meramente teatral. A única coisa que querem de Lula é o eleitorado para finalmente realizarem o “nem Lula nem Bolsonaro” divulgado nas fracassadas manifestações do último domingo (12).
Lula precisa lançar um programa mais radical, que tenha por objetivo reverter as mazelas do Golpe. Precisa ser um programa estatizador, de emprego, de programas sociais mais ousados do que nos governos petistas anteriores. Assim como Bolsonaro mantém sua base social se mantendo no polo extremo—direito, Lula precisa deslocar-se mais à esquerda. Precisa ser o completo oposto de Bolsonaro e de Doria. Isso é uma necessidade do próprio Lula e do PT, pois é o que querem os seus eleitores.
Nesse sentido, muito longe de estar repetindo a campanha de 2002, o PT precisa se preparar para agir como se estivesse em 1989, sofrendo um enorme boicote da burguesia que está disposta a tudo, inclusive a reeleger Bolsonaro, para que Lula não se eleja.
O que irá definir as eleições no ano que vem, sem levar em conta todo o aparato institucional usado para fraudá-la ao qual o PT e o resto da esquerda não têm acesso, é o povo. É nisso que Bolsonaro tem apostado suas fichas e que o centrão (3ª via) está tentando recuperar. Lula precisa ser o candidato oposto a Doria e Bolsonaro e atender aos verdadeiros anseios da população. Está na hora de deixar o peso morto que é a burguesia afundar sozinho e nadar para os braços do povo.