Não é novidade para ninguém o histórico descaso do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro com a Cultura, tendo ele, em diversas oportunidades, atacado o setor. Todavia, o que parece impossível de ser compreendido pela pequena burguesia, esse setor social tão confuso e perdido, que vacila entre os dois polos principais da luta de classes, é a participação da direita “democrática” nesse processo de ataques.
Destaquemos de modo claro: a política do Bolsonaro, a respeito de qualquer tema, inclusive sobre a cultura, não é fruto de suas características meramente pessoais, mas sim é resultado dos interesses do setor social ao qual ele tem ligação – em outras palavras, ele expressa a política da burguesia. O investimento em Cultura, desde 2016, com Michel Temer, foi destruído.
Isto é, Michel Temer, do MDB, partido da direita tradicional, que começou a reduzir os investimentos em Cultura; assim como ele, João Dória (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Tabata Amaral (conhecida como “Batata Liberal”) e demais golpistas expressam também um programa da burguesia. Aliás, são eles quem melhor o expressam, justamente por não terem uma base popular real.
É um equívoco atribuir os ataques à cultura somente ao fascista Jair Bolsonaro, tendo em vista que a destruição do patrimônio cultural é obra de todos os golpistas, pois justamente expressa o posicionamento de toda a burguesia de conjunto: o temor de uma cultura popular, como o futebol, que tem o poder de mobilizar as massas. Eles odeiam a cultura própria do povo, pois são um setor reacionário da sociedade, fazem de tudo para atacá-la.
Então, vejamos os dados levados como resultado da política neoliberal de austerícidio: no ano de 2015, último ano completo do governo Dilma, foram destinados 3,88 bilhões ao setor cultural; no ano de 2021 – 5 anos sob a égide dos governos fraudulentos, que tomaram de assalto o poder – foi investido apenas 1,73 bilhões na cultura.
Ou seja, os golpistas reduziram o investimento à menos da metade do que era! Antes que se aponte apenas Bolsonaro como o responsável, devemos apontar que, em 2018 (último ano do governo Temer, antes da pandemia), o investimento foi de 2,1 bilhões! Uma queda brutal em relação ao ano de 2015 foi iniciada assim que o governo eleito por ninguém de Temer assumiu; Bolsonaro apenas dá continuidade a essa política, com o valor destinado à Cultura caindo cada vez mais.
Diante da exposição, devemos nos perguntar: é possível que uma política de aliança com setores da burguesia, verdadeiramente antidemocráticos, que levam à cabo a mesma política do Bolsonaro no essencial e, no que diferem, são ainda piores; esses setores seriam capazes de resolver os problemas da Cultura? Uma frente de esquerda com eles teria a capacidade de, de forma mais ampla, resolver qualquer problema dos trabalhadores?
Ora, uma frente do povo com seus inimigos, não faria nada disso. Sequer derrubaria Bolsonaro! Um acordo com aqueles que estão destruindo o país e a cultura nacional, serve apenas para subordinar o movimento das massas. Continuaremos vendo os cortes na cultura sob um governo Doria, assim como vimos sob o governo Temer. Quando o assunto é Cultura, é a esquerda pequeno-burguesa que cai nos contos da Carrocinha: Bolsonaro seria o lobo mau e, contra ele, poder-se-ia recorrer a qualquer coisa; os porquinhos poderiam, até mesmo, recorrer ao açougueiro para salvá-los!
Quem faz uma análise sobre a cultura e isenta a direita neoliberal pelo projeto político de destruição da fonte de vida de milhares de trabalhadores está, pura e simplesmente, à reboque dela. Será que se esqueceram do incêndio ao Museu Nacional? Na cidade de São Paulo, os tucanos (Doria e Covas), quando assumiram, encerraram a série de aumentos anuais das verbas que eram destinadas ao setor no governo do PT, reduzindo de R$ 501 milhões para R$ 492 milhões.
Em 2017, primeiro ano de Dória como prefeito de São Paulo, 47% das verbas do setor (243 milhões de reais!) foram congeladas! Com tais ataques, tais desmontes e tais políticas, seriam os neoliberais a salvação dos trabalhadores da cultura? Ao contrário, são os que deram o golpe os responsáveis pelo completo desmonte que está acontecendo na nossa cultura! É toda a direita de conjunto que, seguindo o programa da burguesia, disfere os piores ataques contra a cultura!
É preciso, pois, organizar todo o povo para lutar por Lula presidente e pelo estabelecimento de um governo dos trabalhadores, pois só um governo controlado diretamente pelos trabalhadores é capaz de atender às suas reivindicações principais e de cuidar dos seus bens, entre eles o patrimônio histórico e cultural; contra o desmantelamento da cultura, contra os cortes, as privatizações no setor, apenas a gestão por parte de quem de fato produz e cuida da cultura é capaz de combater. Por isso, os artistas, em conjunto com todo o povo, podem ter suas reivindicações resumidas na palavra de ordem: Sem aliança com os golpistas! Por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo!