Amanhã (06), São Paulo já começa a aplicar a terceira dose da vacina contra a Covid-19 em idosos acima de 90 anos. João Doria (PSDB), que tenta se passar por governador “científico”, diz que qualquer vacina deve ser aplicada nos idosos. No entanto, sua posição é rebatida pelos… cientistas!
Membros da Sociedade Brasileira de Infectologia, da Sociedade Brasileira de Imunizações, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, entre outros, discordam de Doria e defendem a não aplicação da Coronavac nos idosos.
“Usar a dose que estiver disponível no momento [da dose adicional] em idosos e imunossuprimidos é cair em um terreno de ‘vamos fazer qualquer coisa’, sem argumentação lógica”, disse a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, Ethel Maciel, à Folha de S.Paulo.
Em coluna nesse sábado para O Estado de S. Paulo, o biólogo e PHD em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Cornell, Fernando Reinach, afirma que “o uso da Coronavac para vacinar os mais idosos é uma decisão de alto risco. Para não dizer eticamente inaceitável.” E completa: “É preciso retirar a Coronavac do esquema de terceira dose dos mais idosos.”
Ele cita um novo estudo divulgado no Brasil sobre a eficácia da Coronavac e da AstraZeneca, principalmente quando aplicadas em idosos. A vacina de João Doria evita somente 25% das infecções, 30% das hospitalizações, 30% das internações em UTIs e 30% dos óbitos em pessoas acima de 90 anos. Já para as pessoas entre 80 e 89 anos, a Coronavac evita 55% das infecções, 65% das internações, 65% das internações em UTIs e 65% das mortes.
“Ou seja, ela fornece muito pouca proteção para idosos e nunca seria aprovada para uso nesse grupo, caso esses dados estivessem disponíveis na época da avaliação”, comenta. “Qualquer gestor público que tem como objetivo pautar suas decisões por dados científicos tem o dever de entender esses dados e tomar suas decisões com base neles.”
Marketing político
João Doria se alçou como principal candidato da “terceira via” contra Bolsonaro e Lula justamente a partir da propaganda forjada do “João Vacinador”. Pensando em obter importantes dividendos eleitorais para 2022, aquele que se elegeu em 2018 como BolsoDoria correu para fabricar sua própria vacina e assim obter um status superior.
Essa é a natureza da Coronavac no Brasil. Os bolsonaristas, que acreditam em Terra Plana, dizem que trata-se de uma campanha comunista maquiavélica da China para dominar o Brasil. Mas o que houve foi uma iniciativa meramente eleitoreira do PSDB em São Paulo para conseguir a vacina mais fácil do mercado a fim de chegar antes de Bolsonaro na corrida propagandística da vacina visando as eleições.
Os dois lados da direita inimiga do povo ─ Bolsonaro e Doria ─ trocam acusações de utilização política das vacinas. Doria e o principal setor da burguesia dizem-se os grandes defensores da ciência contra o negacionismo bolsonarista. Isso não passa de propaganda barata! Não há cientista na hora de conquistar cargos e vencer eleições, trata-se de um jogo de quadrilhas em busca do poder.
“Quando o governo de SP diz que vai usar qualquer vacina, ele não ajuda a campanha em geral. É ruim tanto a disputa política que o governo federal fez até agora [contra as vacinas] quanto essa disputa que São Paulo [leia-se Doria] coloca”, afirmou Ethel Maciel à Folha.
O caso da morte de Tarcísio Meira gerou muitos protestos contra Doria. Logicamente, os bolsonaristas se aproveitaram. Mas o fato é que Doria enganou todo o mundo, com o único e exclusivo objetivo de se apresentar como o homem que trouxe a vacina para o Brasil e, assim, se eleger presidente em 2022. Não importa que sua vacinação tenha sido uma farsa completa, como agora comprovam os novos estudos científicos.
A esquerda precisa entender que os anos de 2021 e de 2022 são anos de pura propaganda política eleitoreira. Todos pensam apenas nas eleições. A situação calamitosa da população só aparece na boca da direita ─ seja ela a tradicional ou a bolsonarista ─ quando o interesse está em fazer promessas ou atacar o adversário a fim de se eleger.
Doria tenta se apresentar como o cientista e democrata, o herói do Brasil contra o fascismo, mas não passa de um produto de quinta categoria fabricado pela burguesia e pelo imperialismo. Vale menos do que uma dose de Coronavac no braço de um idoso.
A esquerda necessita se desgarrar da perna de Doria e da direita e traçar uma política completamente independente. Caso contrária, morrerá abraçada na burguesia se Bolsonaro sair vencedor ─ e, conforme indicam os últimos desdobramentos da política nacional, isso é muito provável.
Ao invés de bajular Doria e a campanha pseudocientífica da burguesia apenas porque seria contra Bolsonaro, a esquerda precisa se aliar com aqueles que verdadeiramente querem derrubar Bolsonaro e que querem que sejam atendidas as reivindicações sanitárias, educacionais e trabalhistas: o povo.





