Na semana passada, a prefeitura de São Paulo divulgou uma lista com mais de 40 monumentos da cidade tidos como “controversos”, por homenagearem figuras vinculadas à períodos considerados “sensíveis” da história do Brasil – como a escravidão, a colonização portuguesa etc. A iniciativa se soma ao anúncio da construção de cinco estátuas de personalidades negras, como a escritora Carolina Maria de Jesus, o cantor Itamar Assumpção, o músico Geraldo Filme, a sambista Madrinha Eunice e o atleta olímpico Adhemar Ferreira da Silva.
O levantamento foi elaborado pelo Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), da Secretaria Municipal da Cultura – chefiada pelo PSDB – que sob a alegação de fomentar o debate sobre o tema junto à movimentos sociais, pretende colocar em cheque a “legitimidade moral” da presença destes símbolos nos espaços públicos, atentando contra o patrimônio histórico para conquistar os setores mais reacionários da esquerda, onde reina a ideologia identitária. Trata-se, assim, de uma rápida reação da direita “doriana”, partidária da terceira via, para tirar proveito político dos movimentos de destruição de estátuas – importados dos Estados Unidos e inaugurados no Brasil com a queima do monumento à Borba Gato – vista a necessidade de usar setores vinculados à esquerda para adquirir adesão suficiente para disputar com Bolsonaro a corrida pela candidatura da burguesia em 2022 e, por tabela, esvaziar o apoio à Lula. Estratégia fartamente utilizada pela campanha presidencial de Joe Biden, nos EUA, para se contrapor, no campo da mera aparência, aos discursos fascistas de Donald Trump.
Cabe ressaltar que tal iniciativa, embora aparente características “democráticas” pelo suposto diálogo com a população, não passa de um afago da direita golpista tucana para cooptar esses setores atrasados da esquerda que se colocam como porta-vozes dos movimentos populares, através de subterfúgios simbólicos e evasivos, cedendo em troca a destruição do patrimônio histórico, enquanto as polícias sob seu comando e sua política neoliberal acentuam o massacre da população negra e indígena. É uma política tipicamente imperialista, que usa o identitarismo como vetor ideológico para legitimar a destruição da memória nacional e desviar a revolta popular contra opressores reais para inimigos imaginários feitos de concreto armado. É uma jogada previsível, visto que o desprezo pelo patrimônio histórico é um traço comum entre a direita e a esquerda identitária, embora só a primeira possa utilizá-lo como moeda de troca.
A direita sempre quis destruir o patrimônio nacional, para assim dominar mais facilmente o povo. A esquerda identitária que está apoiando essa política é uma esquerda pró-imperialista.
Confira os monumentos catalogados como “controversos”:
- Alexandre de Gusmão (1695-1753)
- Alfredo Maia (1856-1915)
- Almirante Joaquim Marques de Lisboa – Marquês de Tamandaré (1807-1897)
- Almirante Joaquim Marques de Lisboa – Marquês de Tamandaré (1807-1897)
- Amizade Sírio-Libanesa
- Andando – Monumento a São Paulo
- Anhanguera (1672-1740)
- Augusto de Prima Porta (63 a.C. – 14 a.C)
- Borba Gato (1649-1718)
- Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar (1794-1857)
- Camões (1524-1580)
- Carlos Botelho (1899-1982)
- Conde Francisco Matarazzo (1854-1937)
- Conde Francisco Matarazzo Junior (1900-1977)
- Conselheiro João José da Silva Carrão (1810-1888)
- Cristóvão Colombo (1451-1506)
- Cruz de Anchieta
- Fundadores de São Paulo
- General Estilac Leal (1893-1955)
- Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo
- Heróis da Travessia do Atlântico
- Homenagem ao Imortal Prefeito de São Paulo – José Vicente de Faria Lima (1909-1969)
- Infante Dom Henrique (1910-1993)
- José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838)
- José Bonifácio de Andrada e Silva – Patriarca da Independência (1763-1838)
- José Bonifácio, o Moço (1763-1838)
- Monumento à Aldeia de Nossa de Senhora dos Pinheiros
- Monumento à Cícero (106 a.C – 43 a.C)
- Monumento à Duque de Caxias (1803-1880)
- Monumento à Independência
- Monumento às Bandeiras
- O Caçador de Esmeraldas (Fragmento do Monumento à Olavo Bilac, 1865-1918)
- Padre Bento Dias Pacheco (1819-1911)
- Padre José de Anchieta (1534-1597)
- Padre José de Anchieta, Apóstolo do Brasil (1534-1597)
- Pedro Álvares Cabral (1467-1520)
- Praça Hussam Eddine Hariri
- San Martin (1778-1850)
- Tenente Coronel Carlos da Silva Araújo (1835-1906)
- Tiradentes (1746-1792)