Esta semana, na série “Quem faz a imprensa do Partido funcionar?”, teremos a Comissão Editorial do Cineclube Luis Buñuel. Contamos com a presença ilustre de três companheiros membros da comissão: Natália Pimenta, Caetano Sigiliano e Paulo Henrique, que deram suas declarações para nos ajudar a compreender o que é, por que é, e como funciona a imprensa partidária dedicada em específico ao cinema.
Vejamos primeiro como o que existe hoje como apenas um programa na Causa Operária TV ganhou uma comissão própria. Mais adiante, os companheiros darão um panorama da expansão que se planeja dar para a produção dedicada à essa arte na imprensa do partido.
O companheiro Paulo coloca que “ela surgiu de uma necessidade do partido de falar da arte cinematográfica. O cinema é uma arte muito politizada, é uma forma de arte pública” no sentido da sua difusão, do quanto ele atrai as pessoas, sendo “muito fácil de difundir não só propaganda, mas ideias em geral” por esse meio artístico. Em seguida, a companheira Natália apresenta um panorama da questão, com complemento do camarada Caetano, trazendo um pouco do que se busca fazer com o trabalho da comissão:
Natália Pimenta: Tínhamos na COTV um programa, o Cineclube Luis Buñuel, que era apresentado toda semana. A ideia era formar essa comissão para se aprofundar mais no assunto do cinema, e tratar de maneira mais ampla. Temos já um trabalho de cultura, vários programas de cultura na COTV, temos a comissão do nosso grupo de cultura, o GARI, e achamos que o cinema merecia uma atenção especial. Pelo fato de ser uma arte bem popular, e com muitas questões ideológicas e políticas envolvidas para discutir, é um tema bastante vasto. Então achamos que era o caso de formar essa comissão para aumentar nossa produção de matérias, materiais em geral sobre a questão do cinema.
Caetano Sigiliano: A comissão surgiu recentemente para reestruturar o programa. Já está na terceira semana de discussão e serve para selecionar o tema que abordaremos tanto no programa como nas matérias, nos vlogs do canal do Luis Buñuel no Youtube e discutir outras pautas de cultura que o partido se envolve. Recentemente teve o incêndio da cinemateca em São Paulo e vamos debater também esse ataque à cultura pelo Bolsonaro e pelo neoliberalismo.
As reuniões e os temas
Num viés mais prático, o companheiro Caetano e a companheira Natália descrevem um pouco sobre as reuniões, da organização prática dessa produção, as discussões, os temas selecionados. Além disso, apontam alguns critérios para essa seleção, e como escolhem os filmes dentro dos temas decididos, e os temas de dentro dos filmes.
C.S.: Nos reunimos uma vez por semana e debatemos o que está acontecendo no momento. Escolhemos um tema que seja interessante, estamos buscando tratar de tanto de filmes mais obscuros, mas também com um foco nos de grande bilheteria. Decidimos os filmes e o pessoal assiste alguns e traz os temas que achou interessantes nas obras.
N.P.: Listamos alguns tópicos, queremos discutir temas que sejam populares mas dando um ângulo próprio. Então, por exemplo, pretendemos fazer mais para frente um programa especial sobre os filmes de zumbi, que é algo bem popular, mas apresentando questões mais profundas envolvidas que às vezes a pessoa não reflete a respeito. O programa que vai inaugurar essa nova fase vai tratar dos filmes de catástrofe e apocalipse, vamos relacionar isso com a questão da decadência do capitalismo, será um debate bem interessante a respeito.
Cinema, cultura, neoliberalismo
Entre os ataques constantes do imperialismo, e a quase total retirada de verbas da cultura, como fica a questão da cultura nacional na produção da comissão do Cineclube Luis Buñuel? Os companheiros Paulo Henrique e Caetano respondem esse ponto colocando exemplos da atualidade, e nos trazem um pouco ainda a respeito da questão mais específica do próprio cinema nacional, como ele entra nas discussões e a abordagem a esse tema.
C.S.: Colocamos a denúncia do sucateamento da indústria de cinema nacional. A queima da cinemateca sendo mais um patrimônio da cultura sendo destruído pelo capitalismo. Teve uma série de edifícios que pegaram fogo, até a própria catedral de Notre Dame sofreu do neoliberalismo, e a cinemateca tinha um acervo dos filmes nacionais que se perdeu. Precisa ser calculado qual foi a perda material ainda, mas se perdeu muita coisa, filmes do Glauber Rocha, da Embrafilme, um acervo também da TV Tupi se não me engano. Um patrimônio cultural, documentos que colocavam a luta política da época, como se desenrolou a questão da indústria cinematográfica nacional, que sempre foi sabotada pelo imperialismo. Vemos agora também o Doria criticando o governo federal por causa do descaso com a cultura, mas o próprio governo de São Paulo do PSDB deixou o Museu da Língua Portuguesa pegar fogo, então é uma coisa do próprio neoliberalismo, ainda que com toda essa demagogia do Doria em seu confronto com o Bolsonaro.
O companheiro Paulo lembra também do Museu Nacional, colocando que a cultura mundial é sempre secundária e irá sofrer em meio ao neoliberalismo. A seguir vem com tudo para colocar no centro a questão do cinema brasileiro:
P.H.: O cinema nacional, assim como o de todos os países atrasados, é oprimido, está sempre sofrendo a luta de classes. A burguesia internacional está sempre querendo conquistar o cinema do brasil e em todos os países atrasados. Ainda assim, há um setor da burguesia nacional que ainda apoia um cinema especificamente brasileiro, e além disso, ainda tem o cinema popular, como arte popular. Ele ficou nas últimas décadas mais fácil de ser feito e, portanto, não é apenas uma expressão da burguesia nacional e da pequena burguesia, também é uma arte proletária, também serve a essa pauta.
No Brasil, vemos isso principalmente nos filmes que vão ganhar prêmios no exterior, por exemplo, no exterior há alguns prêmios bem fuleiros para o cinema internacional, e geralmente os filmes que ganham são anti imperialistas, como Bacurau. O Obama falou de maneira demagógica que é o filme favorito dele, só que é um filme anti americano. Entao é visivel que o imperialismo em geral tenta usar esses filmes brasileiros, que expressam uma mensagem nacional, nacionalista até, e até anti imperialista, eles tentam transformar isso em apenas um tipo de entretenimento, tentam tomar conta do cinema como arte politica e retirar o conteudo político dele, de modo a oprimir a arte dos paises atrasados.
Polêmica
Chegando já mais para o fim, os companheiros Caetano e Paulo Henrique pontuam algumas das polêmicas que surgem no meio do cinema. Que são tratadas pela comissão nos programas, e serão abordadas na maior produção que está sendo organizada dentro da imprensa partidária sobre o cinema.
C.S.: É importante ver que muitas vezes existe um julgamento moralista em cima da arte, e nós buscamos trazer uma visão marxista do cinema. Colocar as obras sob o período em que foi feita, as discussoes que ela suscita e a partir daí travar alguma polêmica com setores tanto de esquerda como de direita. A direita coloca que se deve censurar a obra porque ela não representa bem os valores religiosos e tudo o mais, e a esquerda vai falar que não retrata bem algum setor oprimido, então não tem nenhum valor, esse tipo de coisa.
P.H.: Uma das polêmicas principais que nós vimos, foi inclusive tópico de um Luis Buñuel bem recente, é a questão desses filmes da Marvel que são identitários. Por exemplo, o Pantera Negra dos heróis da Marvel. Filmes como esse e vários outros assim, que se dizem de algum tipo de esquerda norte-americana, imperialista, identitária, quando o PCO critica, e não apenas o PCO, é colocado como anti esquerdista. Então é algo que estamos sempre combatendo. Essas ferramentas do imperialismo, como o identitarismo e outras, sendo postas em filme e quando criticadas, os que criticam, mesmo que sejam de esquerda, até comunistas, são postos como direitistas, são postos como os inimigos e tudo o mais. Com essa polêmica, eu acho boa, acabamos tendo muitas visualizações em todos os elementos de mídia do partido.
Os companheiros dão ênfase à participação de mais pessoas, do público do programa e todos os amantes da sétima arte que estejam interessados em aumentar a discussão sobre o cinema e em desenvolver essa imprensa, e a própria imprensa operária e revolucionária.
P.H.: O Luis Buñuel está sempre à procura de novos redatores, pessoas que estejam interessadas no cinema e em nos ajudar a fazer nossos blogs e vlogs. Estamos realizando uma grande expansão do Luis Buñuel. Além do próprio Cineclube, faremos vlogs, matérias, vídeos, então qualquer um que queira contribuir escrevendo matérias ou até dando opiniões, pode entrar em contato com a gente do PCO.
N.P.: Quem tiver interesse, ou principalmente um certo conhecimento sobre a questão, pode nos procurar que veremos como a pessoa pode se inserir no trabalho. Precisamos de ajuda porque em cada programa são vários filmes para assistir e discutir, e quanto mais elementos as pessoas trouxerem, melhor. Além dos temas populares, também pretendemos fazer programas sobre movimentos no cinema, como o neorrealismo italiano, também sobre diretores, então precisamos de pessoas com conhecimentos um pouco mais especializados em alguns temas. Percebemos que não é tanta gente que assiste bastante, que tem um conhecimento mais profundo, então quem tiver, ou tiver interesse em se aprofundar, será bem vindo.
C.S.: A comissão é fechada para a coordenação do Buñuel, mas retomando o programa vamos buscar trazer uma participação maior do público, criar grupos de debate mais amplos, para as pessoas escreverem críticas e matérias relacionadas ao cinema para o blog do Buñuel.
O programa é toda sexta-feira às 19 horas, assistam e se inscrevam no canal.
Companheiros, chegamos ao fim de mais um “Quem faz a imprensa do Partido funcionar?”, continuem acompanhando o jornal Partido para saber tudo sobre o principal motor ativo das mobilizações e campanhas de rua. Faça como disseram os companheiros, acompanhe e se integre à imprensa revolucionária, e ajude a desenvolver a luta política em defesa do cinema, da cultura, dos trabalhadores em geral. Até a próxima!