Luta do povo

O Talibã e o apoio que recebe do povo afegão contra os EUA

O enfrentamento contra o imperialismo tornou o Talibã a principal expressão do nacionalismo no Afeganistão

Uma pesquisa de opinião conduzida em 2009 pela ONG americana Asia Foundation, constatou o movimento armado do Talibã, principal organização de combate à invasão imperialista no país, era apoiado por metade do povo afegão (“The Taliban in Afghanistan“, Council on Foreign Relations, 3/8/2021), sendo especialmente popular entre a população rural. Um longo hiato separa a pesquisa de 2009 de outras pesquisas, publicadas no sítio da Asia Foundation a partir de 2016, mostrando uma queda na popularidade da organização; tão acentuada quanto inverossímil.

Em que pese o valor relativo que se deva conferir a tais pesquisas para retratar a realidade, ainda mais quando conduzidas por órgãos do imperialismo norte-americano, é possível deduzir dessa informação o tamanho do apoio dado pela população afegã ao grupo. Junto a outros movimentos de luta pela libertação nacional, inegavelmente o Talibã foi o principal grupo a organizar a luta do povo afegão pela retomada do País e da sua capital, Cabul, e pela expulsão definitiva das tropas imperialistas do país no último dia 15.

Enfrentando uma coalizão de forças liderada pelos Estados Unidos e a Inglaterra, e contando ainda com outras potências imperialistas como a Espanha, a vitória histórica conseguida seria inconcebível sem um maciço apoio popular, algo que a propaganda imperialista busca desesperadamente esconder.

Expressão do nacionalismo afegão

Apoiado nos seus primórdios pelos EUA e organizado pelo regime fantoche da Arábia Saudita, para apoio à política contra-revolucionária empreendida pelo imperialismo nos anos 1970 e 1980, o Talibã é mais um exemplo de como a política reacionária e impopular imposta pelas nações imperialistas é capaz de levantar uma gigantesca reação popular nos países oprimidos.

À época de sua fundação, o grupo buscava se opor à crise aberta em 1978, tratada de maneira desastrada pelo governo stalinista da URSS, que acabou tendo de ocupar o País para impedir as armações do imperialismo contra o degenerado Estado Operário, nas suas fronteiras . Contudo, após conquistar o poder no Afeganistão em 1996, ficou claro para o Talibã que os EUA não eram parceiros confiáveis. A invasão iniciada em 2001 enterraria de vez a aliança de cerca de vinte anos.

Com a luta de classes concretizando-se no choque entre a política pretendida pelo imperialismo e o conflito com os interesses da população, que não queria ter seu país invadido nem ser subjugada pelos imperialistas, o Talibã logo transforma-se no principal instrumento da reação afegã contra os invasores, movimento que desloca o grupo à esquerda, o que se dá à revelia de sua consciência ou mesmo da própria vontade dos seus dirigentes. Conforme a brutalidade da invasão aumentava, mais os setores mais dinâmicos da população afegã se buscavam no Talibã a organização para dar vazão à luta contra os odiados invasores e expulsá-los, dando uma base popular crescente ao grupo guerrilheiro, levando-o a tornar-se uma expressão do nacionalismo afegão.

Esta avaliação é compartilhada pela jornalista Azmat Khan, que cobriu a guerra e em entrevista ao sítio americano Democracy Now, destacando o impulso dado pelo terror aéreo, provocado pelos bombardeios realizados pelos EUA no país. “Em 2019, os Estados Unidos despejaram mais bombas sob o Afeganistão do que em qualquer ano anterior, desde o começo da guerra. Algo perto de 6,2 mil” (“Deadly U.S. Air War in Afghanistan Helped Taliban Gain New Recruits Who Wanted Revenge“, 17/8/2021), assinalou, acrescentando que os bombardeios “mataram muitos civis nas áreas rurais”, onde vive 75% da população afegã, levando a uma situação em que “muitos dos novos recrutas eram pessoas que tinham perdido entes queridos e queriam vingança”.

Guinada revolucionária

A experiência do Talibã comprova que a luta de classes se encarrega da evolução política das massas no seu ritmo, ainda que com contradições. Os próprios militantes anunciaram ter chegado ao poder como resultado de uma coligação de forças do país, cuja principal aliança foi com os trabalhadores e camponeses, o que os direcionou a posições mais progressistas (embora, naturalmente, marcada por posições reacionárias e hábitos culturais arraigados, tipicamente conservadores do país e de todo a região), a conceder mais direitos, de não serem, ao menos aparentemente, mais tão profundamente fundamentalistas como antes.

A situação atual do Afeganistão, radicalmente diferente da ascensão nos anos 1990, é o resultado de um levante popular revolucionário, que expulsou os norte-americanos, superando o terror militar e tecnológico dos Estados Unidos e da Inglaterra (duas das mais importantes potências imperialistas do mundo). A gigantesca vitória dos talibãs e do povo afegão, é compartilhada por todos os povos oprimidos do mundo. Um passo fundamental para a superação do atraso material e para a construção do socialismo, do progresso e da libertação das massas trabalhadoras em todo o planeta.

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