A esquerda, na sua “luta” contra o governo Bolsonaro, desenvolveu uma tática para a sua ação política que mostra a profundidade de sua falta de programa: se Bolsonaro diz “a”, a esquerda diz “b” e assim por diante. É um pensamento tão mecânico, e aplicado com tanta naturalidade, que chega a parecer que quem formula a política da esquerda é um algoritmo de programação.
Neste momento, um dos efeitos mais claros dessa política tem sido o posicionamento da esquerda diante da questão do voto impresso.
Bolsonaro tem levantado a questão do voto impresso sistematicamente, levantando dúvida sobre a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro, criando um movimento de opinião em torno do assunto, que é de fato, uma questão importante e muito crível, visto que o Brasil tem um sistema eleitoral historicamente antidemocrático.
Mas a esquerda não pode se desvencilhar da burguesia, pois essa é a política pequeno-burguesa: ser contra Bolsonaro, ou melhor, fazer o oposto do que Bolsonaro faz, mesmo que ele esteja defendendo (ainda que com intenções maliciosas) uma política popular e que, inclusive, tem a rejeição da burguesia. Como Bolsonaro defende o voto impresso, a esquerda é contra, mesmo o voto impresso sendo benéfico a ela, que é garfada nas eleições desde que o Brasil é Brasil, e vai ser garfada novamente em 2022 se continuar cultuando como uma seita as instituições podres do sistema eleitoral brasileiro.
O STF, inclusive, não é o único inimigo na luta por um sistema eleitoral mais democrático. O TSE, outro órgão das santificadas instituições do estado nacional Brasileiro, esse diretamente responsável pelos assuntos relacionados às eleições, em 2018 deu uma enorme demonstração da “confiabilidade” do “infalível” sistema eleitoral brasileiro. Para fazermos caber nesse texto, algo que elucide a magnitude da fraude que foram as eleições que levaram Bolsonaro ao poder, vamos listar alguns exemplos:
- O TSE cassou mais de 3 milhões e 500 mil títulos de eleitor usando a exigência de cadastro biométrico no Nordeste, região tradicionalmente eleitora do PT nas eleições presidenciais;
- Dilma Rousseff, ex-presidenta da república, e Eduardo Suplicy, candidato tradicionalíssimo do PT, foram favoritos nas pesquisas para a eleição para o Senado até o último momento, quando foram misteriosamente superados por outros candidatos de última hora, não tendo terminado nem mesmo em segundo lugar.
- Wilson Witzel e Romeu Zema, completos desconhecidos da população, foram eleitos de maneira milagrosa a governadores do Rio de Janeiro e Minas Gerais, respectivamente;
- E por último, mas não menos importante, Lula, candidato mais popular da eleição, e favorito para vencer a presidência, foi removido da eleição por uma farsa judicial, que posteriormente foi desmentida pela própria justiça burguesa, fato que por si só seria suficiente para anular a eleição.
Esses são só alguns exemplos de como não podemos confiar nas instituições do estado, coisa que a esquerda insiste em fazer e que a levará a ser lesada novamente nas próximas eleições.
A esquerda não deve seguir cegamente o que diz a burguesia somente porque esta se finge de democrática na “luta contra o fascismo”. A reivindicação do voto impresso é uma reivindicação democrática que procura proporcionar uma maior transparência do sistema eleitoral e maior controle do povo sobre as eleições, e é exigência histórica da esquerda, tendo sido levantada pelo PT no governo através de um projeto de lei, que foi rapidamente barrado pelo… STF.