A impopularidade do governo Bolsonaro é um fato, e enquanto o povo vai às ruas espumante para protestar, a esquerda nutre ilusão atrás da outra. Se já não bastasse que um setor das direções tenha crença maluca de que a presença da direita que deu o golpe de estado nas manifestações é essencial para o sucesso do movimento, a esquerda que não se colocou diretamente a reboque da burguesia alimenta uma ilusão muito perigosa, a ideia de que pelo grau de desgaste do governo Bolsonaro, Lula tem a eleição de 2022 praticamente ganha.
Essa concepção aparece de várias formas, desde que a situação estaria ganha pela esquerda, e Lula já estaria praticamente eleito, até a ideia de que Lula seria o candidato da burguesia para 2022. O fato é que nem a primeira, nem a segunda concepção são verdadeiras.
Já tivemos a oportunidade de observar, através do debate sobre a presença da direita nas manifestações, que a tal “direita civilizada” entre Bolsonaro e Lula está com Bolsonaro, e isso por si só já seria suficiente para compreendermos que a burguesia não deu nenhuma guinada à esquerda. Mas, para não nos obrigar a ter que desenhar para a esquerda iludida, a burguesia delimita sua posição com clareza na sua imprensa, e o editorial do Estadão de ontem deixa bem claro o que a burguesia pensa sobre Lula.
O texto, intitulado “O devaneio castrista de Lula”, faz referência a um levantamento realizado pela consultoria Quaest, que afirma que Lula teria perdido uma quantia significativa de popularidade digital após se posicionar a favor do governo cubano, contra a tentativa de golpe promovida pelo imperialismo. O levantamento expressaria que o apoio de Lula ao governo cubano “serviu para abalar as eventuais ilusões de muitos eleitores ingênuos a respeito do petista”.
Na mente maluca de quem tenha escrito o artigo, Lula não teria um apoio popular real, mas seu aumento de popularidade nas pesquisas teria origem na ideia de que “o presidente Jair Bolsonaro faz um governo tão ruim que, para parte do eleitorado, a mera perspectiva de sua reeleição tornou a volta do petista ao poder uma possibilidade aceitável, se o demiurgo de Garanhuns for o único candidato capaz de derrotar o bolsonarismo”.
Segundo o Estadão, Lula não é um democrata, muito pelo contrário, ele teria uma vocação para o autoritarismo, que ele inveja a “longevidade de uma ditadura que alguns bobos veem como farol da democracia”. A prova cabal de que Lula seria um projeto de ditador, seria o “aparelhamento petista da máquina do Estado, pela desbragada corrupção e pelo estímulo ao conflito entre “nós” e “eles”, elementos que, somados, arruínam a democracia.”, argumento direitista, que ataca Lula por ser um elemento de radicalização da situação política.
O artigo ainda tenta arranjar um verniz esquerdista, no melhor estilo PSTU, na sua crítica imperialista ao PT, citando uma declaração contra Cuba do Partido Socialista do Chile, partido que está no bolso do imperialismo. A agressividade do texto demarca com clareza a posição da burguesia com relação a Lula. A burguesia não aceita Lula, e o vê como um inimigo da sua “democracia”, que nada mais é do que o regime da sua dominação, que neste momento, está ameaçada pela revolta popular que Lula canaliza.
O Estadão, mais uma vez, expressa perfeitamente o que pensa a burguesia: Lula, de jeito nenhum. Se precisar, ela voltará a eleger Bolsonaro para evitar um terceiro governo Lula.