O censo comum é de que todo sindicalista é de esquerda. Uma mentira. Mas uma mentira muito bem contada e infinitas vezes repetida. A realidade, no fim das contas pode ser bastante diferente do que se fala por aí.
Para entender o que se passa, deve-se analisar os fatos.
O melhor exemplo de sindicalistas da direita é a Força Sindical. Melhor dizendo, é o exemplo mais claro de como uma camarilha pode confundir o movimento operário e entregar de bandeja a luta dos trabalhadores no colo dos patrões.
A desmoralização da Força Sindical é tamanha, que recebe a jocosa, porém não mentirosa alcunha de “Farsa Sindical”.
A Força Sindical simboliza todas as forças reacionárias e mais subservientes à burguesia no sindicalismo. Desde sua criação, serviu como instrumento dos patrões para conter a verdadeira central sindical dos trabalhadores, a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Ao contrário da CUT, que, por mais problemas que se possa apresentar, representa a luta das oposições sindicais aos sindicatos controlados por uma burocracia subserviente à ditadura e ao grande capital, a Força Sindical é um espaço financiado pelos patrões para que os burocratas traidores da classe trabalhadora pudessem colocar seu dedo podre sobre a luta dos oprimidos.
Controlando diversos sindicatos, a partir de manobras e negociatas, a Força Sindical tem um largo histórico de sabotar greves e entregar os trabalhadores aos interesses dos patrões.
Entretanto, o maior exemplo do papel nefasto da Força Sindical sobre o movimento operário no período recente não foram as corriqueiras sabotagens, mas o apoio irrestrito ao golpe de 2016.
O golpe, porém, não começou em 2016. Ele é apenas o resultado de uma ação do imperialismo e de setores da burguesia nacional para destruir o maior partido de esquerda da América Latina (PT) e enfraquecer o movimento operário como um todo.
Em 2012, já era possível ver uma movimentação de setores ligados à burguesia pela derrubada de Dilma Rousseff e do PT. O companheiro Rui Costa Pimenta, em análises políticas, na época, previu quase com uma exatidão oracular os desdobramentos que viriam a ocorrer.
O segundo mandato de Dilma Rousseff virtualmente não ocorreu. A vitória em 2014 e sua recondução ao cargo máximo do executivo nacional foram meramente protocolares. A direita, observando a fraqueza do governo Dilma, utilizou todas as suas ferramentas para golpear o PT e colocar o país em um constante estado de desgraças.
Uma das ferramentas utilizadas pela burguesia para o golpe foi a Força Sindical.
A primeira etapa ocorreu, entretanto, ainda em 2015. Entre março e abril, no contexto de vários atos golpistas impulsionados pela burguesia, através de movimentos fantoches como Revoltados OnLine, Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem pra Rua, o dirigente mais conhecido da Força Sindical e deputado federal, Paulo Pereira da Silva, vulgo Paulinho da Força, utilizando seu partido, o Solidariedade, criou uma petição on-line pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Nesta época, Paulinho não era mais presidente da Força Sindical, mas mantinha-se entre seus dirigentes.
Não que Paulinho e o Solidariedade tenham sido os primeiros a tentar derrubar a presidenta Dilma. Ainda em 2012, alguns pedidos completamente sem sentido foram protocolados. Entre eles, um feito pelo atual presidente ilegítimo Jair Bolsonaro. Fica claro que o impeachment de Dilma já foi um fato bolsonarista desde sua raiz.
Um fato aqui há de ser observado. MBL, Revoltados OnLine, Vem pra Rua e o Solidariedade tem uma coisa em comum. Todos foram criados em 2013, no contexto da tomada dos atos populares pela direita.
Não é preciso um exercício muito árduo para perceber que o Solidariedade foi impulsionado também pela burguesia para entrar no Congresso Nacional, através das eleições de 2014, e realizar a articulação entre a direita e a burocracia sindical pelo impeachment de Dilma.
Paulinho formou junto a outros nove deputados a chamada “tropa do Cunha”. O objetivo deste grupo era entrar no Conselho de Ética da Câmara para blindar Eduardo Cunha, garantindo que ele tivesse tempo e recursos o bastante para construir o golpe.
A atividade de Paulinho no processo de impeachment foi a de construir o aporte financeiro e organizativo para fazer o golpe acontecer. Em áudio vazado, o agente da burguesia diz que “o impeachment … está acontecendo por causa do Eduardo Cunha. Porque a nossa oposição é muito ruim.”
Ele foi além, afirmando que seria criado um comitê nacional para arrecadação de recursos para produção de materiais de promoção do golpe. “Vamos juntar a sociedade civil, partidos políticos, e criar um comitê nacional do impeachment. Tem muita gente para financiar o impeachment”, disse ele referindo-se ao interesse da burguesia e do imperialismo na queda de Dilma.
Pouco depois da palhaçada da petição on-line (alguém já viu alguma dessas petições on-line funcionar?), Paulinho da Força continuou a sua escalada golpista no ato de 1º de maio de 2015 organizado pela Força Sindical, no Campo de Bagatelle, na zona Norte da Capital Paulista.
Enquanto o ato da CUT, realizado no centro da cidade, pedia pelo veto da presidenta à lei da terceirização, Paulinho e seus cupinchas falavam apenas sobre o ajuste fiscal de Dilma (deu vergonha agora, PSOL?) e pediam o impeachment da presidenta. Questionado por jornalistas sobre a lei da terceirização, Paulinho disse que “hoje não é dia de falar sobre terceirização”.
O 1º de Maio da Força Sindical não é um ato político, mas um espetáculo financiado pelos patrões. Nesta edição, em 2015, ocorreram shows de artísticas com cachês altíssimos, como Leonardo, Zezé di Camargo & Luciano e Latino, além do sorteio de prêmios. Estiveram presentes também os dois golpistas mais famosos do país, Eduardo Cunha e Aécio Neves. Ambos com espaço para falar para o público.
No ato da CUT, por sua vez, não havia nem 1% da pirotecnia. Todavia, era, de fato, um ato político. Ao contrário do ato da Força Sindical, o ato da CUT foi dominado pelo vermelho da esquerda e frases contra a lei da terceirização.
Iniciado 2016, Paulinho assumiu, em janeiro, mais uma vez, a presidência da Força Sindical, escanteando o presidente fantoche interino Miguel Torres e surpreendendo parte da direção da organização.
Apesar de Paulinho ser um nome forte na Força Sindical, sua política abertamente golpista não era tão bem vista por todos os pelegos que lá estão. Por mais que a Força seja uma organização subserviente aos patrões, ainda sofre a pressão da base de alguns sindicatos grandes, como o dos metalúrgicos de São Paulo.
Logo após reassumir a presidência da Força Sindical, Paulinho se contradisse em relação ao que dissera no ato de 1º de maio do ano anterior. Em uma plenária da Força Sindical, realizada em 12 de janeiro de 2016, Paulinho disse que mesmo que Dilma caísse, o ajuste fiscal tão criticado por ele continuaria.
“Se mudar o governo não tenha dúvida, as reformas são as mesmas, é reforma da Previdência, é aumento de imposto, tudo aquilo que nós estamos falando que não aceitamos desse (governo). Porque para sair dessa situação o outro vai fazer o quê? Por que a CPMF está parada na Comissão de Constituição e Justiça? Porque estão esperando a Dilma cair pra aprovar. Ou você acha que eu sou besta?”, disse o pelego.
Em outras palavras, Paulinho admitiu, com todas as palavras que estava agindo contra os interesses dos trabalhadores.
“Sou hoje uma das principais personalidades do impeachment da Dilma. Se vai mudar o governo eu também sei o que vem depois”, continuou ele.
Em 8 abril de 2016, a Força Sindical, agora sob controle direto e irrestrito de Paulinho organizou um ato no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP). Neste ato, esteve presente, mais uma vez, o golpista Aécio Neves, além de Roberto Freire (Cidadania, ex-PPS), Aloysio Nunes (PSDB) e centrais fantasmas controladas pela direita como UGT, CSB e CGTB. O ato “sindical” pró-impeachment tinha como objetivo, nas palavras de Paulinho, “… convocar o movimento sindical de São Paulo e alguns de fora para dizer que os trabalhadores e os sindicalistas querem fora Dilma e leve junto o PT”.
Isto demonstra a verdadeira natureza da Força Sindical. Ser um elemento de combate à CUT e ao PT. Em resumo, um elemento golpista.
Chegado mais uma 1º de maio, em 2016, a Força Sindical realizou mais um espetáculo macabro. Durante o ato, Paulinho fez não apenas ataques a Dilma Rousseff, mas uma defesa ardorosa do golpista Michel Temer.
“O Temer hoje está empenhado em montar uma equipe econômica que possa tirar o país dessa situação. Nós conversamos com ele também em manter os direitos trabalhistas”, discursou Paulinho.
O resultado todos sabem. Temer articulou, em questão de meses, a retirada de diversos direitos dos trabalhadores e iniciou o mergulho do país na crise que se encontra hoje sob o comando do fascista Jair Bolsonaro.
Hoje, Paulinho, a Força Sindical e as demais centrais sindicais “fantasmas” tentam mudar sua imagem junto à população. Participam dos atos pelo “Fora Bolsonaro” e ainda por cima convidam partidos da direita golpista como PSDB e Cidadania para estarem juntos a eles.
A esquerda não deve tolerar estes lobos em pele de cordeiros. Pelo contrário, deve colocá-los para fora do movimento. São parasitas, prontos para apunhalar os trabalhadores pelas costas assim que lhes for mais oportuno.
Tolerá-los nos atos é colocar na vanguarda os inimigos do trabalhador. É convidar agentes da burguesia, como Paulinho da Força, a entregar milhões de trabalhadores e trabalhadoras à fome e à miséria.