Diante das crise da pandemia do novo coronavírus, os governadores ensaiaram uma oposição ao governo Bolsonaro. Enquanto o ilegítimo presidente apostou em minimizar a gravidade da doença, políticos ligados ao bloco mais tradicional da direita procuraram se descolar da imagem grotesca de Bolsonaro.
Um dos mais destacados nesse grupo foi o tucano João Doria. O governador do estado de São Paulo aproveitou a oportunidade para se apresentar como “científico” em oposição ao presidente negacionista. Teria ele construído hospitais, distribuído máscaras, álcool em gel, aumentado a frota dos transportes públicos para evitar as aglomerações? Não, o dublê de cientista apenas reverberou o mantra do “fique em casa”.
O fato de que parte da esquerda tenha elogiado o governador fascista facilitou a manobra do tucano. Enquanto propagandeava o “fique em casa”, Doria não fez absolutamente nada para conter a pandemia e evitar as mortes. Mais ainda, a única carta que jogou na pandemia era falsa. A Polícia Militar de São Paulo, subordinada ao governo estadual, destruiu moradias precárias e jogou milhares de famílias na rua.
Fique SEM casa
É de um cinismo típico dos inimigos do povo jogar a culpa da pandemia nos trabalhadores. A esquerda pequeno-burguesa caiu fácil no golpe, pois adora uma campanha de cunho moral: “tenha consciência”, “acabar com a pandemia depende de nós”, “não seja egoísta, fique em casa”. No mundo encantado da classe média, basta se conectar à internet e trabalhar remotamente, por que o povo não adere ao “home-office”?
Ignorar a realidade concreta e se preocupar apenas consigo mesmo são pré-requisitos para embarcar cegamente em campanhas como o “fique em casa”. Se o Brasil já era um campeão de desigualdade social antes da pandemia, a acentuação da crise econômica em 2020 só piorou as condições de vida dos mais pobres.
Segundo levamento realizado pela campanha Despejo Zero, cerca de um terço dos despejos ocorridos em plena pandemia ocorreram no estado de São Paulo, o “Tucanato” do PSDB. Em todo o Brasil mais de 14 mil famílias foram jogadas na rua e mais de 84 estão sob esse risco atualmente. É a completa antítese do “fique em casa”, milhares de famílias estão sendo impedidas de ficar em casa pelos governos estaduais, sejam governados por bolsonaristas ou pelos direitistas de sempre do PSDB, MDB, DEM e etc.
Doria seria “menos pior” que Bolsonaro?
A extrema-direita geralmente faz uso dos discursos inflamados e frases agressivas. A direita mais tradicional tem por costume discursos moderados e cínicos, uma estratégia apoiada pelo poder dos monopólios da comunicação. Em termos práticos, no entanto as políticas estabelecidas diferem pouco e não raramente a direita “fala mansa” é até mais agressiva.
O exemplo estadunidense é bastante nítido. O falador Donald Trump pouco fez em termos de ações militares imperialistas ao redor do globo, enquanto o “democrata” Joe Biden já faz rufar os tambores da máquina de guerra em todos os continentes.
O legado do PSDB faz sombra a qualquer Bolsonaro. Doria quer se tornar o principal herdeiro desse legado de destruição do patrimônio público e de esmagamento da classe trabalhadora e escrever sua história com o sangue do povo. O “governador playboy” quer repetir em nível federal o incrível desmonte realizado no estado mais rico do país.
É um escárnio para os trabalhadores, em especial os sem teto, abrir espaço nas manifestações contra o governo Bolsonaro para essas aves de rapina da política. O partido que não assinou nem um pedido de impeachment e que vota junto com o governo em mais de 90% das pautas não é um aliado, é um inimigo que deve ser combatido.
FORA BOLSONARO, DORIA E TODOS OS GOLPISTAS!