Muitas vezes em que a esquerda está nas ruas, uma coisa é certa sobre a organização do movimento: ninguém que vai aos atos faz a menor ideia de com quem, quando ou como se dá a tomada de decisões referente à organização dos atos. Decisões como quem vai subir para falar no carro de som, para onde vai marchar o ato e quais são, especificamente, as reivindicações daquela massa que está na rua são sempre um mistério até a hora da manifestação, quando magicamente surgem regulamentos e decisões, aparentemente votadas e meticulosamente decididas em reuniões, que ninguém nunca participou, que bloqueiam a ampla participação das pessoas e organizações.
No atual momento, no qual a política do “fica em casa” foi derrotada e as pessoas voltaram às ruas, esse problema se apresenta novamente. A organização dos atos, que são atos de massa de um movimento histórico contra o governo Bolsonaro, é uma farsa, onde apenas um grupo seleto de indivíduos secundários de organizações minoritárias do movimento coordena a tomada de decisões sem o menor grau de consulta ao povo que compõe a massa que está nas ruas. Isso ocorre através pessoas claramente inexperientes e que frequentemente não têm as suas identidades reveladas publicamente, algo que impossibilita a cobrança das direções do movimento por conta de decisões erradas e políticas impopulares por parte de quem está nas ruas.
Temos que exigir que a organização do movimento seja transparente e democrática, possibilitando a cobrança das direções e a ampla participação das organizações nas decisões organizativas e políticas através de plenárias abertas de verdade e de um debate amplo e que reflita a real vontade das pessoas e organizações que estão na rua. O PT tem que ter uma maior participação na organização dos atos, pois este ainda possui base militante, coisa que partidos como PSOL e PCdoB renunciaram quase que completamente, sendo assim, o PT tem representatividade como maior partido do movimento e tem um grupo ao qual ele tem de responder e tem como ser pressionado. A militância tem uma tolerância muito limitada a acordos espúrios e à participação de delinquentes políticos da direita como Alexandre Frota e MBL, esta não poderá ser contida de modo a garantir a segurança de seus inimigos políticos da direita nas manifestações.
A frequente colocação direitista de que o PT não tem que ter hegemonia nos atos tem de ser combatida, o PT na posição de maior partido tem o direito e a obrigação de se colocar à frente desse movimento, de vermelho e com uma política que ouça suas bases, colocando claramente a candidatura de Lula em oposição à terceira via, que nada mais é do que uma candidatura de direita para ser uma alternativa supostamente democrática a Bolsonaro, mas que é também hostil ao PT e à esquerda.
A CUT, como maior organização popular da América Latina, com mais de 4 mil sindicatos, também precisa tomar a dianteira na organização do movimento pelo Fora Bolsonaro. E com seus principais dirigentes, não com assessores como faz atualmente. O mesmo vale para o MST. A política que está sendo seguida atualmente pelas principais organizações de massas como PT, CUT e MST, de deixar o espaço aberto para grupos sem relevância, é uma capitulação diante do oportunismo da esquerda frente-amplista e antipetista, que atua, como estamos vendo, de acordo com a política da direita e da burguesia para sabotar os atos.
As organizações têm de colocar dirigentes políticos reais, pessoas conhecidas que teriam muito a perder com a condução indevida e oportunista do movimento, com experiência para conduzir a direção das manifestações de maneira responsável. Temos que deixar bem claro que a indicação de desconhecidos é uma manobra para inibir a crítica às decisões direitistas e incongruentes que vêm sendo tomadas, de forma a livrar a cara dos partidos e das direções que estão procurando colocar as manifestações a reboque da burguesia golpista.
Por fim, é importante salientar que a coisa, da maneira que está sendo conduzida tende a levar o movimento ao refluxo, as decisões sem pé nem cabeça dos desconhecidos inexperientes da tal “operativa” desacreditam o movimento diante das massas e tendem a gerar uma desagregação, que em última instância vai levar à derrota desse movimento histórico que está nas ruas hoje e a um fortalecimento da extrema direita e do governo Bolsonaro.