Bolsonaro foi eleito graças a uma fraude eleitoral organizada pela direita golpista que contou com a participação direta dos que hoje querem aparecer de oposição ao governo federal: PSDB, DEM, MDB e o chamado “centrão”. Foram articuladores da fraude e dão sustentação ao governo Bolsonaro na sua política fundamental de ataques ao povo.
Essa direita procura uma alternativa eleitoral a Bolsonaro, que mantenha sua política neoliberal. Não é mais do que uma alternativa eleitoral, não há interesse em derrubar o governo.
A esquerda pequeno-burguesa, por sua vez, seguindo as orientações da direita golpista tradicional, se recusou a chamar o “fora Bolsonaro”. Passou os anos de 2019, 2020 inteiros sem chamar o povo a lutar pela derrubada desse governo fascista. Pior ainda, acreditou na conversa da direita de que a única solução para a pandemia era o “fique em casa”, impedindo o povo a sair às ruas.
Agora, o povo decidiu romper com essa paralisia criminosa e encheu as ruas de vermelho. A população está nas ruas para exigir a derrubada de Bolsonaro e de todo o regime golpista e lutar pelas reivindicações populares como auxílio emergencial de verdade, vacinação em massa, contra as privatizações.
Diante dessa mobilização, a direita golpista procura se aproveitar do movimento. Vários elementos desclassificados, com a devida divulgação e o apoio da imprensa golpista, vêm a público para dizer que são a favor do impeachment de Bolsonaro.
O que faz esses direitistas, que na realidade são parceiros de Bolsonaro nas questões políticas e econômicas fundamentais contra o povo aparecerem como defensores da queda do governo? A resposta é simples. Essa direita quer se aproveitar da mobilização da esquerda e do povo para dar uma saída eleitoral para ela. Mais precisamente, querem usar o movimento que não é deles para eleger um direitista neoliberal inimigo do povo.
Por isso, essa direita aparece defendendo o impeachment. Trata-se de uma saída institucional, ou seja, uma saída que está de acordo com os interesses da burguesia. Querem controlar a mobilização através dessa política institucional para derrota-la.
Como parte dessa manobra está a tentativa de enfiar na manifestação o verde e amarelo. O significado político disso é colocar o movimento a reboque da burguesia, retirando o caráter combativo e esquerdista da mobilização.
Setores da esquerda pequeno-burguesa acompanham essa política da burguesia, defendendo o impeachment como a saída para o fora Bolsonaro. Dessa maneira, estão contribuindo para a manobra da direita contra as mobilizações.
Defender o fora Bolsonaro não é a mesma coisa que defender o impeachment de Bolsonaro. A mobilização deve exigir a derrubada de Bolsonaro da maneira como for necessária. Isso significa que: 1) a derrubada será produto da mobilização popular e não de uma manobra institucional; 2) a derrubada de Bolsonaro vai colocar em xeque a própria estabilidade de todo o regime político golpista, justamente porque as massas estarão na liderança do processo político e elas são contra a política golpista de conjunto.
Portanto, o impeachment pode ser uma das possibilidades dessa derrubada. Se o impeachment for, eventualmente, o resultado do crescimento e radicalização da mobilização, ele não terá sido nada mais do que o produto dessa luta contra o governo Bolsonaro.
Transformar o fora Bolsonaro, que é a real vontade dos que estão saindo às ruas, em impeachment é uma armadilha perigosíssima. É o caminho da derrota. O Congresso Nacional está dominado por bolsonaristas e elementos desclassificados da direita que estão à venda para aprovar qualquer tipo de medida contra o povo.
Está claro que depositar as esperanças do movimento nesse Congresso de políticos burgueses vagabundos é aprofundar as ilusões das massas nas instituições dominadas pelos golpistas. Sem a faca no pescoço desses políticos, que é a única linguagem que eles entendem, Bolsonaro não será derrubado.
O fora Collor, por exemplo, só foi possível porque houve uma enorme mobilização que exigiu a derrubada do presidente.
Nesse sentido, é preciso dar um sentido popular às manifestações, o que significa que as organizações de esquerda, os partidos e sindicatos devem estar na liderança da mobilização. É preciso que a derrubada de Bolsonaro seja seguida pela defesa da candidatura de Lula, que é o nome da esquerda verdadeiramente popular.
Em suma, as enormes mobilizações que tomam conta das ruas do País devem ter um caráter revolucionário, devem romper com qualquer tentativa de transformar a manifestação em uma campanha eleitoral da direita golpista.