Atualmente os debates sobre métodos de votação têm ressurgido. A esquerda pequeno-burguesa, com sua histeria habitual, tem pautado suas posições com base no contrário daquilo que é dito por Bolsonaro — independente do quão demagógico seja — em vez de seguir um programa próprio que contenha as reivindicações dos trabalhadores e que efetivamente beneficie a população. Neste sentido, a campanha agora faz oposição ao método do voto impresso e, consequentemente, uma ferrenha e quase irracional defesa da urna eletrônica em sintonia com o que dita a propaganda da burguesia.
A defesa da urna eletrônica se pauta no sentido de que esta seria mais segura. Um mecanismo aqui e outro acolá transformariam essa complexa máquina em um dispositivo inviolável e, portanto, perfeito para a realização do ato de votar, um dos mais essenciais direitos democráticos. Outro argumento que afirma a tese é de que “nunca houve problemas com a urna eletrônica” e que pedidos de impugnação de urna por suspeita de fraude ou erro são raros — uma falácia, uma vez que o próprio Partido da Causa Operária já vem denunciando a fraude há anos, inclusive com absurdos contra seus próprios candidatos.
Esses argumentos são aceitos sem nenhum questionamento, mesmo sendo tão facilmente refutáveis. Eles são jogados para o alto como se não estivéssemos no meio de um golpe de Estado vigente desde 2016, como se Lula não tivesse sido impedido de participar das eleições de 2018 e Bolsonaro não tivesse sido eleito pela fraude, como se diversos candidatos artificiais e desconhecidos (a exemplo de Wilson Witzel, no Rio de Janeiro) fossem igualmente legítimos, como se o PSDB não dominasse o estado de São Paulo há décadas, mesmo sendo odiado pelos paulistas — os exemplos vão ao infinito, e estamos falando apenas do Brasil.
Dentro da questão da tecnologia, ainda assim existem elementos contestáveis: já é senso comum que as grandes empresas ligadas à tecnologia possuem grande parte de nossos dados pessoais, assim como traços de nossas personalidades e preferências, sejam essas informações coletadas por meios lícitos ou não. Também é sabido e comprovado que as interferências de países imperialistas, majoritariamente dos Estados Unidos, na política dos países ao qual os interessa são frequentes e que essas utilizam a tecnologia, grampeando telefones, monitorando ações e conversas, etc — obviamente, não é uma mera urna eletrônica que poderá parar o império capitalista.
Mas, voltando ao Brasil, é fato que quem controla as eleições é a burguesia. O Tribunal Superior Eleitoral tem as urnas em suas mãos e usa e abusa desse poder para eleger a direita golpista, verdadeiros representantes da burguesia e inimigos do povo. Em contraste com os exemplos acima e com a exaltação da urna eletrônica, também precisaríamos de uma explicação sobre o porquê da presença de tantos direitistas na “casa do povo”, integrando a bancada ruralista ou a bancada evangélica, trabalhando contra a população e a favor dos capitalistas. O povo seria de direita?
A melhor opção para a população é aquela que efetivamente barre o controle dos tribunais e da burguesia sobre as urnas, e é neste quesito que o voto impresso faz sua entrada: sendo uma reivindicação democrática da população, não existem tantos absurdos no voto impresso como afirma a esquerda pequeno-burguesa.
Um dos argumentos mais utilizados contra o voto impresso é que existiria a possibilidade de intimidação por parte de alguma autoridade para conseguir um voto específico — algo que simplesmente não faz sentido. O eleitor não irá levar seu voto para casa e colocar num quadro na parede. Além disso, é muito mais fácil identificar um eleitor por meio dos registros em uma máquina do que ao tentar resgatar diversos papéis misturados em uma urna. Também é preciso lembrar da possibilidade de recontagem dos votos, mais um artifício que expressa o direito democrático do eleitor de contestar o resultado.
Não é possível afirmar de fato que exista um sistema perfeito de votação. O mundo ainda vive sob um regime capitalista e o Estado trabalha em prol da burguesia. As formas de fraude num regime democrático aparente são inúmeras e, em última instância, existe a possibilidade de um golpe, sobretudo no momento turbulento em que vivemos.
Ainda assim é necessário que a população exija seus direitos e suas reivindicações democráticas. Como dito anteriormente, quanto menos controle da burguesia sob os aspectos da sociedade, incluindo sobre os métodos de eleição, melhor. Ao defender a urna eletrônica, a esquerda pequeno-burguesa faz coro com a imprensa golpista, que tenta ridicularizar os direitos da população ao tentar jogar essa reivindicação no colo de Bolsonaro, chamando-a de retrocesso e de ataque às “instituições democráticas” — ela ainda tenta justificar que o voto impresso seria muito mais trabalhoso e caro, algo insignificante considerando que o custo não interessa frente ao direito de uma votação segura.
O fato é que a esquerda não deve cair neste buraco. O voto impresso é um direito democrático e deve ser visto como tal, sendo uma reivindicação importante da população para que se tenha um controle maior, embora ainda que limitado, sobre as eleições.