Com a saída de Abraham Weintraub no ano passado e de Ernesto Araújo neste ano, a ala “ideológica” do governo Bolsonaro encontrou na Secretaria da Cultura um lugar para chamar de seu. Comandada por Mario Frias desde junho de 2020, quinto secretário desde 2019 e o mais longevo até então, a pasta vem acumulando críticas nos últimos meses tanto por políticas do setor que têm sido deixadas de lado, como a demora na aprovação de projetos inscritos na Lei de Incentivo à Cultura, quanto pelo empenho em assuntos que fogem de sua atribuição. Dentro da secretaria e fora dela, Frias e alguns de seus auxiliares elevaram o tom, reverberando o discurso que agrada à base bolsonarista.
A diferença tem levado secretários e dirigentes estaduais a focar apenas no diálogo com o Congresso Nacional para o prosseguimento de reivindicações relevantes para o setor, como verbas da Lei Rouanet e da Ancine.
Embora a ideogização do ministério fique mais clara no governo Bolsonaro, a “Crise da Cultura “começou no golpe de 2016. Quando a direita golpista se apoderou do governo, uma das primeira medidas de Michel Temer foi extinguir o Ministério da Cultura. A ação só não foi bem sucedida porque artistas e trabalhadores do setor ocuparam por um cerca de um mês as sedes da Funarte e fizeram Temer recuar.
O Ministério como órgão não foi extinto naquele momento, mas na prática, sim. As políticas para a cultura e a arte foram sendo reduzidas em todos os níveis – federal, estaduais e municipais. Verbas cortadas, projetos interrompidos, censura. Tudo isso respaldado pela ideologia da extrema-direita que ataca os artistas como “esquerdistas, parasitas estatais, doutrinadores” e tudo o que se possa imaginar. Basta lembrar que a campanha contra a Lei Rouanet foi um dos motes da direita golpista antes da derrubada de Dilma Rousseff.
Temer não conseguiu acabar de vez com o Ministério mas criou as condições para que seu sucessor o fizesse. Bolsonaro, muito mais decidido em sua ignorância e impopularidade, acabou de vez com o Minc. Criou uma secretaria de faz de conta, primeiro subordinada ao Ministério dos Direitos Humanos, controlada por Damares Alves e agora subordinada ao Ministério do Turismo.
Primeiro, pela secretaria passou Roberto Alvim. Um diretor de teatro paulista reconhecido pelos próprios colegas de profissão como um grande fracassado, seguidor de Olavo de Carvalho e defensor do “teatro sem partido”. Alvim ocupava seu tempo em atacar os artistas e a cultura. Essa era a sua tarefa como secretário da Cultura.
Mas chegou o momento em que Alvim ultrapassou um pouco os limites. Fez um vídeo copiando Goebbles, ministro da propaganda de Hitler, e acabou sendo demitido. Em seu lugar, Bolsonaro colocou Regina Duarte, a “namoradinha do Brasil”. O epíteto chegou a enganar alguns, que afirmaram que ela seria “de direita mas não seria fascista”, ledo engano.
A nova secretária de Bolsonaro cumpriu seu dever como secretária de Cultura. Manteve ativa a tarefa da pasta: atacar o setor. Alguns, erroneamente, cobravam alguma política de Regina Duarte, sem perceber que na realidade ela estava cumprindo muito bem seu papel.
O vídeo em que Regina perde as estribeiras na CNN Brasil foi a gota d’água. Defendeu a tortura, a censura e o assassinato durante a ditadura e defendeu o assassinato de agora, com as milhares de mortes pelo coronavírus. “Tudo normal”, para ela, “é preciso otimismo”.
Por fim , assumiu Frias. Mais discreto que os antecessores nas declarações, mas igualmente destrutivo nas ações.