Desde o dia 19 de maio, está em andamento a Operação Akuanduba da Polícia Federal, que procura investigar acusações que recaem sobre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de participar de um esquema de corrupção para exportação ilegal de madeira.
A acusação seria de que Salles, outros agentes públicos e empresários do ramo madeireiro teriam praticado, em sua gestão, os crimes de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando.
Essas investigações tiveram início em janeiro deste ano ‘a partir de informações obtidas junto a autoridades estrangeiras noticiando possível desvio de conduta de servidores públicos brasileiros no processo de exportação de madeira’, segundo a Polícia Federal.
Nos últimos meses, diversas operações de busca e apreensão em endereços ligados a Salles foram levadas adiante. Além disso, o STF determinou o afastamento preventivo de dez agentes públicos que ocupam cargos e funções de confiança no Ibama e no Ministério do Meio Ambiente.
A PF já aponta que há “fortes indícios” de envolvimento de Ricardo Salles no possível esquema de corrupção. Ela ainda diz que, com as provas obtidas até o momento, já é possível enquadrar o presidente afastado do Ibama, Eduardo Bim, pelos crimes de facilitação ao contrabando e advocacia administrativa, crime que consiste em patrocinar interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário público.
Entre as provas reunidas pela Polícia Federal e já enviadas ao STF, encontram-se relatos de reuniões com madeireiros, alterações em regras de fiscalização, trocas de mensagens, depoimentos de testemunhas e operações financeiras suspeitas, que remontam ao escritório de advocacia de Ricardo Salles em São Paulo.
Sobre as provas reunidas, o delegado Franco Perazzoni afirma, em representação enviada ao STF: “Todos esses pontos mencionados na petição originariamente distribuída à V. Exa. Excelência, encontram-se, hoje, s.m.j., bem melhor definidos no âmbito das presentes investigações e sinalizam, de forma bastante robusta a nosso ver, para a existência de indícios de prática delituosa atribuível ao atual Ministro do Meio Ambiente”.
No momento atual, ainda não foi possível efetuar uma derrubada total do ministro Ricardo Salles, mas, com relação a Eduardo Bim, já o enquadram em crime de facilitação ao contrabando, advocacia administrativa, levantando ainda suspeitas de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Como mencionado antes, ele já foi afastado do cargo pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, a pedido da Polícia Federal.
O que isso significa?
Toda essa operação contra o Ministro Ricardo Salles tem sido bastante repercutida por setores da esquerda e tem levantado, em muitos deles, a esperança de que a burguesia estaria utilizando a questão do meio ambiente como forma de finalmente derrubar Bolsonaro e seu governo.
No entanto, não há nenhum indício de que se trate de algo desse tipo. A operação é, claramente, liderada pelo imperialismo. Prova disso é a própria colocação da PF, que afirmou ter começado as investigações a partir de informações obtidas de “autoridades estrangeiras”, como mencionado acima. O interesse maior do imperialismo é, na verdade, procurar “colocar Bolsonaro na linha”, já que é parte de sua preocupação a constante demagogia com o meio ambiente.
Toda a questão ambiental pode ser vista como uma “fratura exposta” do governo Bolsonaro, de um ponto de vista internacional. Não é coerente Biden colocar a defesa do meio ambiente como uma de suas principais bandeiras e conviver pacificamente com o governo brasileiro, que tem uma política totalmente destrutiva, de vandalismo contra a Amazônia e o meio ambiente de um modo geral.
Em suma, é conveniente para o imperialismo tirar Ricardo Salles do governo, para que Bolsonaro seja aceitável. O mesmo foi visto com a retirada do ministro de Relações Exteriores, o aloprado Ernesto Araújo. Este era um cãozinho de Trump, mas como Trump foi chutado da presidência dos EUA o imperialismo teve de substituir Araújo no comando do Itamaraty por alguém que seja cãozinho do imperialismo de conjunto.
A operação contra Salles tem a finalidade de chegar a um acordo. Se a intenção do imperialismo fosse diretamente contra Bolsonaro, era possível abrir um escândalo direto contra o presidente fascista, que possui muitos pontos vulneráveis em seu governo. Isso já é feito, com bem menos intensidade e agressividade, na CPI da Covid.
Outro exemplo de que a finalidade da operação não é atacar diretamente Bolsonaro é a situação da cúpula do clima, em que Biden foi elogioso ao Brasil em sua declaração, falou de colaborar com o Brasil nessa questão e elogiou gestos do governo. Ali, ele tinha a chance de fazer um ataque muito contundente contra Bolsonaro, mas não o fez. Foi possível ver ali, inclusive, um “namoro” secreto entre os dois presidentes.
A esquerda e os movimentos populares não devem colocar esperança nessas operações de luta contra a corrupção levadas adiantes pela burguesia. No caso de Bolsonaro, elas claramente não têm a mesma intensidade que a campanha feita contra Dilma e o PT no período anterior. É tudo parte de uma tentativa de adaptar o governo Bolsonaro às suas necessidades, uma operação no sentido de aparar as arestas. A derrubada de Bolsonaro e do regime golpista só virá da mobilização popular, com o povo na rua.